A beleza na experiência monástica

A vida de monges e monjas é um dos “rastros concretos que a Trindade deixa na história, para que os homens possam sentir o encanto e a nostalgia da beleza” (Vita consacrata, VC 20). Somos criados para amar e, amando, amadurecemos, transfiguramo-nos para que a beleza do rosto de Cristo e da sua humanidade possa brilhar em todos.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

“Isso é muito belo! Fomos criados para amar, como reflexo de Deus e do seu amor”. Esta é uma das frases maravilhosas do Papa Francisco pronunciadas durante a sua catequese sobre o sacramento do Matrimônio. Embora o Papa tenha feito esta afirmação referindo-se ao casamento, ela se aplica a cada vocação e a cada pessoa, porque todos somos reflexo de Deus e do seu amor. Fomos criados para amar. E isso é belo. Sem amor, nenhuma realidade parece bela. E toda realidade humana, mesmo a mais dolorosa, torna-se bela se estiver impregnada de amor. Segundo São Tomás de Aquino, a beleza é uma característica do ser, juntamente com a verdade e o bem, mas enquanto a verdade diz relação ao conhecimento e o bem ao comportamento, a beleza diz respeito a ambos. E assim o amor é simultaneamente verdadeiro e bom. O amor abre-nos a porta do conhecimento e atrai-nos com tanta força que não conseguimos resistir.

Em março de 2021, Dom João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para a Vida Consagrada, escreveu uma carta por ocasião dos 25 anos da publicação da exortação apostólica Vita consacrata, de São João Paulo II. A carta é particularmente feliz para explicar a beleza na vida monástica, ainda que se dirija a todo consagrado e traga uma exortação que, devidamente compreendida, serve a todos os que compartilham uma experiência de fé:

“Se Deus é belo, então ser consagrado a Ele é belo… o consagrado é chamado a ser testemunha da beleza. Num mundo que corre o risco de uma brutalização perturbadora, a via pulchritudinis [via da beleza] parece o único caminho para alcançar a verdade ou para torná-la credível e atraente. Os consagrados e as consagradas devem despertar em si mesmos, mas sobretudo nos homens e nas mulheres do nosso tempo, a atração pelo que é belo e verdadeiro. Belo, portanto, e não apenas corajoso e verdadeiro, deve ser o testemunho e a palavra oferecida, porque belo é o Rosto que anunciamos.

Belo deve ser o que fazemos e como o fazemos.

Bela deve ser a fraternidade e a atmosfera que respiramos.

Belo deve ser o templo e a liturgia à qual todos são convidados, pois belo é rezar e cantar os louvores do Altíssimo e deixar-se ler por Sua palavra.

Belo é estar juntos em seu nome, trabalhar juntos, mesmo que às vezes seja exigente.

Belo é nosso ser virgem para amar com o Seu coração.

Belo é ser pobre para dizer que Ele é o nosso único tesouro.

Bela é a nossa obediência à Sua vontade de salvação também entre nós, para buscarmos somente a Ele.

Belo é ter um coração livre, para acolher a dor daqueles que sofrem e para Ihes mostrar a compaixão do Eterno…

Belo deve ser até mesmo o ambiente na sua simplicidade e sobriedade criativa: a casa, a mesa posta… Que haja gosto e decoro nos quartos, para que tudo na habitação deixe transparecer a presença e a centralidade de Deus.

Beleza suprema, sacramento da misteriosa beleza do Eterno, daquela beleza exclamada por Pedro no Tabor, diante da explosão de luz e esplendor”.

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