A santidade de Blaise Pascal

A vida boa, virtuosa e feliz que Pascal propôs e procurou viver vem sendo amplamente reconhecida após sua morte. Sua leitura ainda produz muitos frutos espirituais hoje, e Pascal é um mediador decisivo para muitas conversões – especialmente no Japão! O Papa Francisco reconhece, na carta apostólica Sublimitas et miseria hominis, a “riqueza e fecundidade extraordinárias” da breve vida de Pascal, assim como a “franqueza e sinceridade das suas intenções”, fomentando “sua obra luminosa e os exemplos de sua vida” para fins espirituais. Esse também é o objetivo dos Pascalins, pessoas que admiram Pascal e formaram a Sociedade dos Amigos de Blaise Pascal, fundada na convicção de sua santidade e desejando ser uma obra da Igreja, que traz a ação de Pascal ao nosso tempo. Para isso, organiza todos os meses na Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, em Paris, onde repousa Pascal, uma oração para dar graças e para pedir a Deus sua beatificação, seguida de uma visita aos pobres, a fim de “entrar na verdade pela caridade”. O reconhecimento da sua santidade pela Igreja poderia estimular no mundo todo o conhecimento de sua obra, mostrando como Pascal foi um modelo de humildade, fé e caridade.

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Blaise Pascal sempre teve um grande respeito pela religião, mas conheceu três momentos de “conversão” a uma vida cristã cada vez mais intensa. A primeira se passa em 1646. O jovem cientista mergulha na leitura de autores espirituais próximos a Port-Royal, com o desejo de que as luzes que ali encontrou pudessem beneficiar a outros. A segunda foi inaugurada na noite de 23 de novembro de 1654, por um comovente encontro de Deus, cujo brilho é preservado no Fogo do “Memorial”, que o Papa Francisco cita regularmente. Pascal está totalmente empenhado contra a derrubada da moral por uma casuística corrompida: é o que vemos na deslumbrante sucessão das Cartas Provinciais (1656-1657). Pascal combate nelas as propostas de vários autores, dos quais um grande número será posteriormente condenado por Roma. Em terceiro lugar, um retiro e uma confissão geral dois anos antes de sua morte aumentam seu desejo da perfeição cristã. Pascal cuida dos pobres, e com seus próprios recursos dá-lhes esmolas. Em 1662, inventa o primeiro transporte público urbano, do qual destinava sua parte dos lucros para ajudar os pobres.

Os escritos religiosos de Pascal atestam uma fé ardente e um amor muito vivo por Jesus Cristo. Imbuído desde a juventude das obras de Santo Agostinho, ele defende sua teologia, tantas vezes louvada por uma tradição milenar e dada por diversos papas e concílios como referência a respeito da graça divina. Ao fazer isso, age, apesar de sua doença, como um católico determinado. Ele coloca talentos inigualáveis a serviço da verdade; condena as chamadas propostas “jansenistas” censuradas por Roma; afirma sua comunhão com o papa e seu horror ao cisma.

Do seu leito de morte, no verão de 1662 na casa de sua irmã Gilberte, Blaise Pascal pede para “morrer na companhia dos pobres”, mas os médicos consideram que ele não pode ser transportado. Morre munido dos sacramentos da Igreja no dia 19 de agosto, a uma hora da manhã, com apenas 39 anos, tendo como últimas palavras “Que Deus nunca me abandone!”.

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