O impacto da convivência com o pai em cuidados paliativos na vida de três irmãs
Este filme, dirigido pelo britânico Azazel Jacobs, traz uma reflexão sobre as relações entre três irmãs que, tendo ficado afastadas pela vida seguida por cada uma delas, acabam se reaproximando no apartamento do pai, que está em estado terminal e a ponto de morrer, em Nova York.
Quem já passou por situação similar, provavelmente deve ter a experiência de que, mesmo mantendo boas relações entre irmãos ou irmãs, um momento crítico como esse acaba por tensionar as relações até os limites, tanto da bondade e da generosidade quanto da mesquinhez e do egoísmo. O filme capta habilmente o transtorno emocional que as irmãs experimentam ao enfrentar problemas não resolvidos e velhos rancores.
Diante de temperamentos tão diferentes, será que dá mesmo para nos entendermos? Diante de pré-conceitos e de juízos com mais ou menos fundamento ao longo do tempo em que, ainda por cima, quase que não nos vemos nem nos encontramos com nossos parentes, será que não vai sair uma faísca a qualquer instante? O filme é uma bela resposta a essas questões e a outras muito parecidas que, em uma situação limite como essa, com o pai à beira da morte e precisando de cuidados paliativos, qualquer um se coloca.
Tem a irmã toda certinha, Katie, controladora e que dá a impressão de que pensa que tudo seria uma questão de organização e controle. Tem aquela que é mais “paz e amor”, Christine, para quem tudo até que está bastante bem, dada a situação, e que não consegue entender por que surgem as brigas entre elas. E tem aquela que não é bem irmã biológica, Rachel, mas que foi quem carregou todos os fardos dos cuidados do pai até aquele momento e que, naquela hora, nem sabe direito como se comportar.
Enquanto esperam ao lado do leito do pai, velhos ressentimentos de três irmãs vêm à tona e os relacionamentos delas enfrentam novas tensões. A morte iminente de seu pai as aproximará ou as afastará para sempre?
Mesmo correndo o risco de dar spoiler, o final do filme surpreende um pouco. Talvez por ter um toque que poderíamos chamar de “realismo mágico” ou, no estilo daquele outro filme interpretado por Anthony Hopkins, O Pai, talvez porque tudo possa se passar na cabeça do pai moribundo. O fato é que, de repente, o pai pede às filhas que o movam para sua poltrona favorita na sala de estar. E quando senta o seu entusiasmo e amor por cada uma das suas filhas, especialmente pela Rachel, se torna um ímã que acaba atraindo e juntando toda a família.
Fazia muito tempo que a telinha não transbordava de tanta autenticidade e profundidade dramática ao mostrar os limites do luto e das relações fraternas. Parece-me que vale a pena dar uma conferida.
AS TRÊS FILHAS (His Three Daughters)
Direção: Azazel Jacobs
Roteiro: Azazel Jacobs
Elenco: Carrie Coon, Elizabeth Olsen e Natasha Lyonne
Nacionalidade: Estados Unidos (2024)
Duração: 1h41min
Disponível: Netflix