É tempo de Páscoa. Cristo ressuscitou e, com Ele, todos nós renascemos para uma vida nova. Neste Caderno Fé e Cultura, com espírito pascal, nós nos voltamos para a beleza do Batismo cristão. Vamos também conhecer alguns grandes convertidos do século XX, que, com seus testemunhos, nos ajudam a recuperar o fascínio do nosso próprio encontro com Cristo. Além disso, vamos saber de algumas experiências, na Arquidiocese de São Paulo, que acompanham grande número de adultos que estão se convertendo e adentrando a comunidade católica.

A celebração da Páscoa, centro do ano litúrgico e ápice da fé cristã, não se reduz a uma memória devocional da Ressurreição de Cristo. Ela é, por excelência, a celebração da vida nova, da passagem das trevas à luz, do pecado à graça, da morte à vida. E, para cada cristão, essa passagem se torna realidade concreta pelo Batismo. É na fonte batismal que o fiel mergulha sacramentalmente na Páscoa do Senhor, participando de sua Morte e Ressurreição, como quem é sepultado com Cristo para, com Ele, ressurgir em uma nova vida.
Desde os primeiros séculos da Igreja, a Vigília Pascal, noite santa por excelência, é marcada pela celebração solene dos sacramentos da Iniciação Cristã: o Batismo, a Confirmação (Crisma) e a Eucaristia. A Igreja primitiva compreendeu, com profundidade espiritual, que a verdadeira entrada na vida cristã acontece em íntima comunhão com o Mistério Pascal.
Na noite pascal, a Igreja é mãe: gera novos filhos pela água e pelo Espírito, sela-os com o dom da Crisma e os alimenta pela primeira vez com o Pão da Vida. Por isso, a Páscoa é, profundamente, uma festa batismal – não apenas pelo rito em si, mas por sua teologia: é o momento em que a comunidade inteira renova, em espírito e verdade, sua aliança batismal.
São Cirilo de Jerusalém (século IV), em suas Catequeses Mistagógicas, oferece uma descrição vívida da experiência batismal durante a Vigília Pascal: “Fostes conduzidos à santa piscina do divino Batismo, como Cristo foi levado desde a cruz até o sepulcro. […] Fostes submergidos por três vezes na água e o mesmo número de vezes retirados dela: com isso significastes, em imagem e símbolo, os três dias da sepultura de Cristo.”
Como recordou o Papa Francisco na catequese de 11 de abril de 2018, “a Páscoa de Cristo, com a sua carga de novidade, chega até nós por meio do Batismo para nos transformar à sua imagem: os batizados pertencem a Jesus Cristo, Ele é o Senhor da sua existência”. A Páscoa não é apenas o triunfo de Cristo sobre a morte; é a proclamação de que essa vitória é comunicada a todos por meio do Batismo, que, segundo as palavras do Papa, é “o Sacramento que acendeu em nós a vida cristã”.
A água batismal não é um símbolo qualquer. É, como ensina a catequese papal, “sinal eficaz de renascimento, para caminhar em novidade de vida”. Essa água, sobre a qual é invocado o Espírito Santo e na qual é mergulhado o Círio Pascal, sinal do Ressuscitado, “afoga na pia batismal o homem velho” e faz nascer “o homem novo, recriado em Jesus”. O Batismo, portanto, insere os que o recebem em uma história pascal que não pertence apenas ao passado, mas que continua viva em cada fiel e em toda a Igreja.
Francisco exorta, ainda: “O Batismo permite que Cristo viva em nós e a nós que vivamos unidos a Ele, para colaborar na Igreja […] para a transformação do mundo”. Assim, a vocação batismal é também missão pascal. O fiel não é batizado apenas para si mesmo, mas para ser “outro Cristo” no mundo, portador da vida nova recebida. “Há um antes e um depois do Batismo”, disse o Pontífice, acrescentando que é na Páscoa que esta verdade se revela com maior esplendor.
A Quaresma, então, não é preparação para um rito apenas: é caminho de retorno à fonte batismal. A cada ano, os cristãos são convidados a renovar esse pacto de vida, e é por isso que toda a caminhada quaresmal deve convergir para a Vigília Pascal. Nela, os grandes símbolos – a luz que dissipa as trevas, a água que purifica e vivifica, a Palavra que recria, o óleo que consagra, e a Eucaristia que alimenta – ganham pleno sentido. Não são apenas ritos: são sacramentos pascais, realidades da vida nova.
Ao acolher os catecúmenos que se preparam para o Batismo, a comunidade cristã é chamada, também, a renovar-se. Tornando-se “comunidade catecúmena”, a paróquia inteira se converte em escola da fé, lugar do acolhimento, escuta, anúncio e discipulado. Assim, ao batizar novos filhos na noite santa, a Igreja também se vê recriada, reanimada, renascida com eles.