Edith Stein: algumas contribuições para a Psicologia Clínica

Que o ser humano possui uma dupla experiência de si mesmo, uma interna e outra externa, e que ambas se resumem em uma experiência unitária que engloba as duas, é algo que pertence à essência do ser humano mesmo (STEIN, Edith. La estructura de la persona humana. Madri: Biblioteca de Autores Cristãos, 2002).

Edith Stein, Irmã Teresa Benedita da Cruz

Ser pessoa significa ser livre e espiritual. Que o homem é uma pessoa: é isso que o distingue de todos os seres da natureza (STEIN, Edith. La estructura de la persona humana. Madri: Biblioteca de Autores Cristãos, 2002).

Só quem vivencia a si mesmo como pessoa, como totalidade de sentido, pode compreender as outras pessoas (STEIN, Edith. Sobre el problema de la empatía. Editorial Monte Carmelo, Ediciones El Carmen, 2005).

Como a experiência do valor é a base do próprio valor, com os novos valores obtidos por empatia, o olhar se abre para valores desconhecidos na própria pessoa (STEIN, Edith. Sobre el problema de la empatía. Editorial Monte Carmelo, Ediciones El Carmen, 2005).

Esta é uma breve apresentação de como algumas contribuições de Edith Stein estão presentes na minha experiência como psicoterapeuta de orientação winnicottiana. Nessa caminhada, tenho percebido que a atitude desenvolvida com base na noção de empatia, de Stein, permite acompanhar a pessoa para que possa ir se apropriando de suas experiências, refletindo sobre elas, ampliando o conhecimento e a consciência de si, levando a uma integração do seu sentir, pensar, conhecer e agir

Para Edith Stein, a tomada de consciência de si nos abre ao conhecimento de si. Nesse sentido, a terapia é uma experiência na qual acontece o desvelamento do que “está inicialmente escondido na interioridade” da pessoa.

É possível observar que, no início de um processo terapêutico, a maioria das pessoas tem pouco conhecimento e consciência de si, sendo difícil para elas tomar decisões, fazer escolhas, assumir e manter posicionamentos na vida. Sua tendência é se colocar como sujeito passivo, produto da sua história, justificando suas dificuldades em função de situações vividas.

A cada passo, a cada decisão, a cada escolha que uma pessoa faz vai dando uma direção à sua vida. Nesse momento, é preciso respeitar o tempo, o ritmo e as escolhas do paciente, reconhecendo e legitimando sua singularidade. Nosso bem mais profundo é a liberdade.

Segundo Stein, somos seres dotados de corpo, alma (psíquico) e espírito (dimensão dos valores). Dependemos do outro e da nossa comunidade para progredir e desenvolver nossas potencialidades. Só assim podemos, cada vez mais, nos tornar aquilo que devemos/podemos ser e realizar a nossa vocação. O caminho do ser humano é se aproximar do núcleo sempre nascente que habita sua interioridade.

Ao procurar captar a essência específica do ser humano, Stein o reconhece como uma pessoa espiritual capaz de sair de si pelo sentir, querer e conhecer em direção ao mais além, à transcendência. Cabe ao terapeuta oferecer um espaço/tempo para que aconteça o desvelamento da marca única, pessoal e intransferível que cada um de nós traz impressa na alma.

A pessoa, com suas escolhas, pode ou não caminhar em direção à realização de si mesma tornando-se cada vez mais o que de fato é, exercitando a liberdade e a coragem do Ser. Por isso, Stein afirma que o ser humano participa do seu processo, podendo definir sua formação e direcionar sua vida. Isso permite o fortalecimento das dimensões: da vontade, da compreensão e da memória que abrem caminho para o desenvolvimento espiritual.

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