Dizer aos jovens “o que o seu coração merece, existe”, não é moralismo, mas é o maior apelo moral que podemos fazer a eles. Dizer isso implica a grande responsabilidade de caminhar com eles, levando essa promessa que não é mantida por nós, mas apenas compartilhada com eles.

A esperança é a principal virtude do caminho educativo. A esperança é o que sustenta todo o ímpeto educativo que cada um de nós vive e arrisca a cada momento, às vezes fazendo o que é o certo e muitas vezes errando. A esperança nasce em mim, como discernimento, de uma frase: o que o meu coração merece, existe. Felizmente – para o meu filho, para a minha filha, para os meus alunos – o que seu coração merece não sou eu, mas Alguém que “se fez carne”. A Beleza se fez carne, o significado se fez carne, o Ideal da vida se fez nosso companheiro justamente para nos anunciar que aquilo que o coração merece existe, e há um caminho para alcançá-lo.
Um professor de música tocou Beethoven para seus alunos e pediu que escrevessem uma carta ao compositor. Uma garota fez três agradecimentos: “Obrigada, Beethoven, porque me ajudou a entender que os limites não existem, que apenas existem na minha cabeça […] Obrigada, porque me fez entender que, uma vez que eu tenha estabelecido um objetivo, devo me livrar de tudo e de todos que se interpõem entre mim e o meu objetivo […] Obrigada, porque me ensinou que nos momentos de maior dificuldade sempre poderei contar com uma pessoa, e essa pessoa sou eu mesma”. Essa garota não estudou nenhum filósofo para chegar a um juízo tão claro e terrível. Ela absorveu como uma esponja o juízo do mundo […] Esse individualismo narcisista nos torna solitários com nossos objetivos que, em sua maioria, são inatingíveis. E isso dá medo: não tanto o fato de não atingirmos nossos objetivos, mas o fato de estarmos sozinhos.
[…] O professor de música levou, então, esses alunos a uma excursão. Uma grande subida à montanha. No caminho, essa garota ficou sem fôlego, incapaz de dar um passo. O professor a convidou para se sentar em uma pedra e perguntou-lhe: “Os limites só existem na sua cabeça?” {…] A jovem, na descida, começou a correr: queria tomar banho antes das outras colegas. Mas, durante a corrida, sua bota arrebentou. O professor, que ia atrás, a alcançou pacientemente, lhe deu o braço, a acompanhou na descida. Enquanto desciam, perguntou: “Para alcançar seu objetivo, você tem que se livrar de tudo e de todos?” […] Ao pé da montanha, a garota diz para o professor: “Eu entendi. Não é verdade que nos momentos de maior dificuldade eu só possa contar comigo mais do que as minhas ideias”.
Isso só pôde acontecer dentro de um relacionamento humano. Por isso, a educação é um relacionamento. Primeiro, há uma provocação, uma proposta; em seguida, uma verificação, porque não somos chamados apenas a fazer a proposta, mas a verificá-la com eles! E depois, exemplificar a proposta verificada. Como dizia Dom Giussani: “Os jovens precisam de uma presença, ou seja, que o adulto seja uma presença. Na medida em que experimentamos a consciência de pertencer, nos tornamos um encontro para os outros, nos tornamos presença e permitimos que os outros façam um encontro”.
* Este texto é parte do especial Educação: você tem valor, publicado na revista Passos (13/11/2024).