Educação: quando o perigo está no medo

A primeira característica da atual geração de adultos parece ser o medo. Mas o medo é o maior inimigo da educação, porque bloqueia tudo, não deixa você tentar, não valoriza a liberdade, não permite a correção. Se queremos falar de educação, temos que lidar com ele, porque o que transmitimos aos nossos jovens não pode ser o nosso medo.

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Há alguns anos, acolhi um garoto com problemas psicológicos a quem Deus havia concedido o dom de uma extraordinária capacidade de intuir a natureza das coisas. Certa noite, jan­tando, ele me disse: “Franco, você sabe o que é um casaco?”. Respondi: “Sim, é algo que você veste quando está com frio”. “Você não entende nada”, ele respondeu: “Um casaco é uma peça de roupa que os filhos têm que colocar quando as mães sentem frio”. Em seguida, ele acrescentou: “Você sabe o que é o nosso grupo de cole­giais católicos? É o lugar aonde os fi­lhos têm que ir quando as mães têm medo”. Perguntei-lhe então: “E do que as mães têm tanto medo?”. Ele me dis­se: “As mães nos amam, por isso não querem que façamos nada de ruim ou que alguém faça algo de ruim co­nosco. Mas elas têm medo de que isso aconteça e, para evitar, elas tiram nos­sa liberdade. Não entendem que é as­sim que elas estão nos matando” […]

Os jovens vivem atormentados pela preocupação com o próprio desempenho: nunca são bons o su­ficiente. Têm dificuldade em encon­trar alguém que lhes diga: “Você tem valor”. Mas esse é o anúncio cristão. Deus desceu à Terra para dizer aos homens que, quanto mais cheios de limites, pecadores, doentes, pobres… mais merecem o sacrífico de Cristo. Foi isso que o Cristianismo introdu­ziu […]

A crise desses jovens – incluídos nossos filhos – é que seu valor não é afirmado. “Você tem valor” se tor­na “você teria valor se…”, e cada um coloca sua condição. Uma jovem me escreve: “[…] Mil coisas e paranoias passam pela minha cabeça também, mas pelo menos tenho alguém que me ama e me lembra do meu valor. Percebi que nem todo mundo tem a mesma sorte que eu tenho […] Mas os adultos estão com vendas nos olhos e tampões nos ouvidos, e não se dão conta do que está acontecendo co­nosco. Não nos olham. E isso dói”. Todos nós crescemos e adquirimos uma certa coragem, uma energia na vida, porque alguém olhou para nós valorizando não a nossa aparência, mas a verdade de nós mesmos, apesar de nossos erros, dificuldades e incoe­rências. Alguém – no meu caso Dom Giussani, fundador de Comunhão e Libertação – olhou para nós e nos disse: “Vocês são muito mais do que todo o mal que aparentam”. Ser olha­do por alguém que daria a vida por você: isso é o amor.

A lei do ser é o amor. Deus é amor porque deu a vida por nós antes que a merecêssemos […] Isso é o que falta hoje. E creio que falta porque somos fracos na fé, pois a fé é a certeza da vitória de Cristo, e a certeza da vitória de Cristo dá um impulso positivo que atravessa todo o mal possível. No en­tanto, pensando que podemos defen­der nossos filhos do mal, acabamos protegendo-os do mundo, ou seja, da realidade, sem sermos capazes de apostar em seu coração, em seu dese­jo de bem, em sua grandeza. Acaba­mos fazendo o contrário do que um educador deveria fazer.

* Este texto é parte do especial Educação: você tem valor, publicado na revista Passos (13/11/2024).

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