Nesta passagem da Carta sobre a renovação do estudo da história da Igreja, o Papa Francisco nos convida a nunca nos esquecermos das grandes tragédias da humanidade. Não para cultivarmos a raiva e o ressentimento, mas para que – em um espírito de perdão e penitência – possamos buscar caminhos sempre melhores

Não devemos convidar ao esquecimento. Com efeito, “não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno” (Discurso no Memorial da Paz, Hiroshima, 24/nov/2019). Por isso, insisto que “a Shoah não deve ser esquecida […] não se devem esquecer os bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki […] também não devemos esquecer as perseguições, o comércio dos escravos e os massacres étnicos que se verificaram e verificam em vários países, e tantos outros eventos históricos que nos fazem envergonhar de sermos humanos. Devem ser recordados sempre, repetidamente, sem nos cansarmos nem anestesiarmos […] hoje é fácil cair na tentação de virar a página, dizendo que já passou muito tempo e é preciso olhar para diante. Isso não, pelo amor de Deus! Sem memória, nunca se avança; não se evolui sem uma memória íntegra e luminosa […] não me refiro só à memória dos horrores, mas também à recordação daqueles que, no meio de um contexto envenenado e corrupto, foram capazes de recuperar a dignidade e, com pequenos ou grandes gestos, optaram pela solidariedade, o perdão, a fraternidade. É muito salutar fazer memória do bem. O perdão não implica esquecimento […] Mesmo quando houver algo que por nenhum motivo devemos permitir-nos esquecer, todavia podemos perdoar” (Fratelli tutti, FT 247-250).
Junto da memória, a busca da verdade histórica é necessária para que a Igreja possa iniciar – e ajudar a iniciar na sociedade – caminhos sinceros e eficazes de reconciliação e de paz social: “Os que se defrontaram duramente falam a partir da verdade, nua e crua. Precisam de aprender a cultivar uma memória penitencial, capaz de assumir o passado para libertar o futuro das próprias insatisfações, confusões ou projeções. Só a partir da verdade histórica dos eventos, poderá nascer o esforço perseverante e duradouro para se compreenderem mutuamente e tentar uma nova síntese para o bem de todos” (FT 226).