O olhar de amor do Infinito para com o insignificante

Então cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo. Até a vida efêmera do ser mais insignificante é objeto do seu amor e, naqueles poucos segundos de existência, Ele envolve-o com o seu carinho (PAPA FRANCISCO, Laudato si’, LS 77).

Onde você estava quando eu lancei os fundamentos da terra? (Jo 38, 4, no início de “A árvore da vida”)

Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo / dai-lhes o descanso eterno […] Brilhe sobre eles, com seus santos / Por toda eternidade, Senhor, porque você é piedoso (Agnus Dei, de H. Berlioz, no final de “A árvore da vida”)

Vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2011; primeiro lugar na “Lista Top Ten de 2011″ do agregador de críticas Metacritic; avaliado, numa enquete entre críticos de cinema da revista Sight & Sound como um dos 250 melhores filmes do mundo; considerado pela BBC, em 2017, como o sétimo melhor filme do século XXI. Distante dos block busters atuais, A árvore da vida (Tree of life), de Terence Malick, é um filme ao qual não faltam elogios. O site especializado Rotten Tomatoes o descreve dizendo: “O estilo singular de Terrence Malick pode ser pouco recompensador para alguns, mas para os espectadores pacientes, A árvore da vida é um deleite emocional e visual”.

Surpreendentemente, esse filme, muito aclamado, mas relativamente pouco conhecido, tem uma temática totalmente religiosa, com uma inconfundível marca cristã. Terrence Malick, seu diretor, trabalha sempre a partir de reflexões que podem ser consideradas filosóficas ou mesmo teológicas. Dois anos depois de A árvore da vida, lançou Amor pleno (To the Wonder, “Rumo à maravilha”, em tradução livre do título original) sobre uma relação conjugal que se deteriorava, mas tendo como personagem de fundo um sacerdote que redescobria sua fé à medida que acolhia os angustiados e os necessitados. Em 2019, lançou Uma vida oculta, cinebiografia de Franz Jägerstätter, um católico austríaco que se recusou a ir para a guerra com os nazistas, foi morto por esse motivo e beatificado em 2007.

A maioria dos críticos considera que A árvore da vida trata do eterno embate entre a natureza inclemente, seja aquela das forças cegas dos elementos, seja aquela que se oculta no coração humano, e a Graça misericordiosa, que o ser humano tanto deseja, mas tem tanta dificuldade de aceitar. Mas talvez seja mais apropriado dizer que o enredo versa sobre a trajetória de um homem em busca de um sentido bom para toda a realidade.

Jack O’Brien (Sean Penn) cresceu em Waco, Texas, com seus pais (Brad Pitt e Jessica Chastain) e dois irmãos mais novos. O pai, rigoroso e inclemente, parece representar a força inclemente da natureza; enquanto a mãe representa a graça, cheia de ternura. Uma tragédia, a morte de um dos filhos, irá determinar a vida de todos os personagens, na busca por consolação, sentido para a fatalidade e até remissão para uma culpa até atávica no ser humano, marcado pelo pecado. Em meio às vicissitudes, uma figura misteriosa, inominada e sempre aparecendo por poucos segundos na tela, parece sempre indicar o caminho, ainda que nunca seja percebida pelos próprios personagens.

O tempo todo, Malick joga com o contraste entre a grandiosidade e o esplendor do universo e a pequenez do ser humano e de suas dores. Na época de seu lançamento, o filme ficou famosos por inserir uma longa sequência mostrando a história dos dinossauros na Terra. O que a grandeza e a extinção dos dinossauros têm a ver com uma família norte-americana e seu pequeno filho morto? Como o Criador responsável por toda a realidade existente pode se importar com as pequenas dores de cada uma de suas criaturas? Os O’Brien passam sua vida procurando entender essas questões – e Malick vai acompanhando-os até a redenção final.

A ÁRVORE DA VIDA, de Terrence Malick. Drama / Fantasia. Duração: 139 min. Disponível pelo Prime Video

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