O uso responsável das tecnologias

Na reunião do G7*, o Papa Francisco fala sobre o bom uso da inteligência artificial

O tema da inteligência artificial é frequentemente percebido como ambivalente: por um lado, entusiasma pelas possibilidades que oferece; por outro, gera temor pelas consequências que deixa antever. A esse respeito, pode dizer-se que todos nós somos, embora em graus diferentes, atravessados por duas emoções: ficamos entusiasmados quando imaginamos os progressos que podem advir da inteligência artificial, mas, ao mesmo tempo, amedrontados quando constatamos os perigos inerentes ao seu uso.

Não podemos duvidar de que o advento da inteligência artificial representa uma verdadeira revolução cognitivo-industrial que contribuirá para a criação de um novo sistema social caracterizado por complexas transformações epocais. Por exemplo: a inteligência artificial poderia permitir uma democratização do acesso ao conhecimento, o progresso exponencial da investigação científica, a possibilidade de delegar às máquinas os trabalhos exaustivos; mas, ao mesmo tempo, ela poderia trazer consigo uma maior injustiça entre nações desenvolvidas e nações em vias de desenvolvimento, entre classes sociais dominantes e classes sociais oprimidas, colocando em perigo a possibilidade de uma “cultura do encontro” em favor de uma “cultura do descarte” […] 

Nesse sentido, talvez se possa partir da constatação de que a inteligência artificial é, antes de tudo, um instrumento. E é natural afirmar que os benefícios ou danos que trará dependerão do modo como é utilizada. Isso é certamente verdade, pois foi assim para cada ferramenta construída pelo ser humano desde o início dos tempos.

O uso das nossas ferramentas nem sempre está orientado exclusivamente para o bem […] Somente se for garantida a vocação [dos instrumentos tecnológicos] ao serviço do homem, [eles] revelarão não apenas a grandeza e a dignidade única do ser humano, mas também o mandato que este recebeu de “cultivar e guardar” (cf. Gn 2,15) o planeta e todos os seus habitantes. Falar de tecnologia é falar sobre o que significa ser humano e, portanto, sobre aquela nossa condição única entre liberdade e responsabilidade, ou seja, é falar de ética. […]

Não devemos esquecer que nenhuma inovação é neutra. A tecnologia nasce com um propósito e, com o seu impacto na sociedade humana, representa sempre uma forma de ordem nas relações sociais e uma disposição de poder, permitindo a uns realizar determinadas ações, enquanto a outros impede de concretizar outras. Esta dimensão constitutiva de poder da tecnologia inclui sempre, de uma maneira mais ou menos explícita, a visão do mundo de quem a criou e a desenvolveu.

Papa Francisco, trechos do seu Discurso apresentado na reunião do G7, (14/jun/2024)

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