Uma boa pessoa (A good person)

O serviço de streaming Amazon Prime brinda-nos com uma fita dura, emotiva e profundamente humana: como perdoar a alguém que não merece perdão? Ou, melhor, como perdoar a alguém que não pede perdão, porque acha que a culpa não foi sua?

Allison (Florence Pugh, numa excelente atuação), uma garota de vinte e poucos anos está prestes a se casar, inclusive o filme começa por uma festa maravilhosa e alegre em que se está comemorando precisamente isso.

No dia seguinte, Allison e o noivo vão na frente do carro que ela está dirigindo e, no banco de trás, vai um casal de amigos e, de repente, um acidente acaba com tudo: com a vida do casal do banco traseiro, com Allison no hospital em estado grave, com o noivo desesperado, e com uma garota adolescente, filha do casal morto, que terá de ser cuidada pelo avô, Daniel (Morgan Freeman), um ex-combatente do Vietnã, ex-policial e ex-alcoólatra.

Num corte repentino, o filme mostra o que restou de tudo aquilo: as dificuldades de Ryan, a garota adolescente, no colégio e na casa do avô, o desespero da mãe da Allison por não saber cuidar do que sobrou daquela moça encantadora e cheia de vida antes do acidente, a vida sem rumo, sem forças e profundamente depressiva e dependente da oxicodona de Allison, e ainda o avô, Daniel, que não sabe como lidar com os dramas da neta, e o ex-noivo, filho de Daniel, que não sabe como recuperar aquela vida e aquele amor que sentia pela Allison, que já não é quem foi.

Há um momento em que ambos se encontram numa reunião de “dependentes anônimos” e, no meio de várias idas e vindas, de constrangimentos e tentativas de reaproximação, acabam se encontrando numa lanchonete e, num momento de descuido em que ele estica o braço para pegar algo da mesa, Allison repara que tem uma frase tatuada no braço. Ele diz concisamente: amor fati. E quando ela pergunta pelo significado, Daniel sim- plesmente responde que é algo muito pessoal.

E há um segundo momento na casa dele (o sogro que não foi), em que Daniel lhe mostra, no subsolo da casa, uma maquete enorme e muito bem feita e construída do que seria a sua cidade. Alisson olha maravilhada e vai perguntando pelas figuras e as cenas que aparecem na maquete: Aquele ali, diz Daniel, foi o meu primeiro beijo; aquele ali foi quando voltei do Vietnã e meu pai estava me esperando na estação… E assim, pouco a pouco, vai lhe explicando a sua vida.

Alisson se volta para ele e pergunta se foi assim mesmo. E ele, com certo desalento, lhe diz que não, que assim foi como ele montou na sua maquete, porque ali as coisas aconteceram como ele sempre quis e sonhou, mas que nada disso foi ou aconteceu daquele jeito: não teve aquele primeiro beijo, o seu pai estava bêbado e esqueceu completamente da sua volta… Na vida real, as coisas se passam de forma bem diferente de como gostaríamos.

Parece-me que são esses os “momentos-respostas” do filme. Vale muito a pena. Assistam e vejam se concordam comigo. E se não concordarem também não há problema. É uma lição de perdão e de amor que só por isso já vale mesmo a pena.

UMA BOA PESSOA (A GOOD PERSON)

Direção/Roteiro: Zach Braff
Elenco: Florence Pugh e Morgan Freeman
Nacionalidade: Estados Unidos (2023)
Duração: 128 minutos
Disponível: Amazon Prime

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