Uma rica tradição, que se faz conhecer pela amizade

Um professor universitário paulista nos mostra, com sua trajetória pessoal, os caminhos do catolicismo nos meios intelectuais de sua geração

Quando era estudante universitário, vivi um curto idílio marxista. Não era membro ou simpatizante de qualquer partido comunista. Neste campo, meus heróis, que ainda admiro, foram figuras notáveis, democratas que perderam a vida por sua integridade moral e dedicação à luta dos trabalhadores por uma vida digna. Durante essa fase, afastei-me da religião. Não sentia necessidade do catolicismo engajado (podia me comprometer com as lutas sociais sem necessidade de uma justificativa religiosa), tampouco via com bons olhos o sucesso de movimentos católicos com forte apelo midiático. Paradoxalmente, mesmo nesse período, nunca perdi minha atração pelo catolicismo popular das festas da minha infância, com sua liturgia e mistérios que tanto me encantavam e ainda encantam. 

O retorno à Igreja, por uma feliz coincidência, aconteceu em Oxford, no Reino Unido, durante uma pós-graduação. Minha orientadora, Rosemary Thorp, é católica, amiga do Padre Gustavo Gutierrez, e eu tinha mais afinidade com os colegas que eram católicos. Convivendo com esse pessoal, comecei, de vez em quando, a assistir à missa na capela do Oratório do Cardeal Newman. A liturgia era em inglês, mas todo o ambiente me parecia familiar e fazia sentir-me em casa. Percebi que eu realmente era católico e que não havia razão alguma para ter vergonha disso. 

Mas eu pouco sabia sobre o catolicismo. Eu conhecia a religiosidade popular, mas no restante era ignorante. Então, comecei a ser atraído pela descoberta de uma rica tradição de teólogos, poetas, escritores, que eu desconhecia. Meu retorno à Igreja Católica passou pela descoberta da sua rica tradição intelectual, de pensadores como Ratzinger, Lubac, Balthasar e Guardini. Uma descoberta que ainda continua. É sempre um prazer descobrir um novo teólogo, escritor, poeta, cineasta católico. Depois, foi importante encontrar, no Brasil, amigos com os quais pude compartilhar esses interesses e aprofundar minha fé. 

Tenho a impressão de que, ainda hoje, meus alunos têm esses problemas. Então, procuro suprir, dentro do possível, essa deficiência, conversando com aqueles interessados no assunto, obviamente. 

Comentários

  1. Lembro e conheci Antonio Carlos ainda quando eramos jovens e ratifico o que ele diz. Desde de lá uma pessoa inclusiva, aberta ao diálogo e hoje, posso afirmar, escolhida por Deus. Te admiro meu irmão e companheiro.

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