Os filhos não podem ser sufocados pelas inseguranças dos pais, nem deixados à própria sorte, em um ideal de autonomia que acaba por destruir a verdadeira liberdade. Neste caminho, como lembra o Papa Francisco, a tradição deve
ser salvaguarda do futuro e não museu.

Sou pediatra. No meu consultório, vejo diariamente dois perfis de pais. De um lado, algumas famílias apostam tudo no que eu chamo de “tecnologias educativas”, que são coisas maravilhosas, que ajudam em muitas situações, como nos ajustes de rotina, no cuidado com sono, na atenção para os diferentes temperamentos, para o que a gente chama de troca de autoridade central, que é um evento de mudança de referência que acontece na adolescência. Ao buscarem esse apoio, se cercam de boas referências, que ajudam em um caminho. Entendem que estão “apertando uns parafusos”, “fazendo alguns ajustes necessários” – mas tanto pais quanto filhos sentem falta de alguma coisa a mais. De outro lado, eu tenho famílias que apostam absolutamente tudo, tudo mesmo, na liberdade, que para eles é apenas autonomia, sem levar em conta a objetividade do que é uma criança e do que é um adolescente.
Não se dão conta de que seus filhos precisam de sua orientação.
Para mim, os problemas dessas duas posturas se resolvem quando consideramos que a educação depende de três fatores: a tradição, a liberdade do educador e a verificação do educando (cf. GIUSSANI, L. Educar é um risco. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2000). Primeiro a tradição, que é algo que se comunica, uma hipótese clara que precisa ser apresentada à criança. Depois, a autoridade do educador – que não é impor valores, mas vivê-los e propô-los de forma que realizem a humanidade dos jovens! A gente precisa não só aportar a tradição, mas vivê-la, arriscar nossa própria liberdade verificando-a. E temos que nos doar ao filho, dedicar tempo a ele, dar-lhe prioridade e reconhecer sua própria originalidade. Só depois de tudo isso, no terceiro ponto, é que aparece a verificação livre a que o educando deve submeter a tradição que recebeu. Especialmente na adolescência, isso é espetacular.