A Igreja rende graças a Deus às mulheres e valoriza sua dignidade

Radu Florin/Pexels

“O homem e a mulher são criados em idêntica dignidade, ‘à imagem de Deus’. Em seu ‘ser-homem’ e seu ‘ser-mulher’ refletem a sabedoria e a bondade do Criador” (Catecismo da Igreja Católica, n. 369).

Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, o jornal O SÃO PAULO apresenta algumas reflexões da carta apostólica Mulieris digtatem (MD), publicada por São João Paulo II em 15 de agosto de 1988, sendo o primeiro documento de um pontífice inteiramente dedicado à vocação e dignidade da mulher.

O ponto de partida das reflexões é a verdade fundamental de que homens e mulheres foram criados por Deus em igual dignidade. “Desde o início aparecem como ‘unidade dos dois’” (MD, 6) e por esta unidade “[o homem e a mulher] são chamados, desde o início, não só a existir ‘um ao lado do outro’ ou ‘juntos’, mas também a existir reciprocamente ‘um para outro’” (n.7).

A dominação como sequência do pecado

“Quando lemos, pois, na descrição bíblica, as palavras dirigidas à mulher: ‘sentir-te-ás atraída para o teu marido, e ele te dominará’ (Gn 3,16), descobrimos uma ruptura e uma constante ameaça precisamente a respeito desta ‘unidade dos dois’ (…) A união matrimonial exige o respeito e o aperfeiçoamento da verdadeira subjetividade pessoal dos dois. A mulher não pode tornar-se ‘objeto’ de ‘domínio’ e de ‘posse’ do homem. Mas as palavras do texto bíblico referem-se diretamente ao pecado original e às suas consequências duradouras no homem e na mulher”. (n.10).

O Pontífice alerta, entretanto, que a justa oposição da mulher às tentativas de dominação masculina “não pode sob pretexto algum conduzir à ‘masculinização’ das mulheres. A mulher – em nome da libertação do ‘domínio do homem – não pode tender à apropriação das características masculinas, contra a sua própria ‘originalidade’ feminina” (idem). 

A Virgem Maria e a atenção de Cristo

São João Paulo II lembra que a Virgem Maria, ao abrir-se à vontade divina, faz “retornar ao ‘princípio’ no qual se encontra a ‘mulher’ tal como foi querida na criação, portanto no pensamento eterno de Deus, no seio da Santíssima Trindade. Maria é o ‘novo princípio’ da dignidade e da vocação da mulher, de todas e de cada uma das mulheres” (n.11). 

O Papa também menciona as várias ocasiões em em que Cristo se apresenta como promotor da dignidade e vocação da mulher, como na passagem em que intervém para evitar que a mulher adúltera seja apedrejada e questiona a lógica da justiça pensada apenas para a punição da mulher: “O comportamento de Jesus a respeito das mulheres, que encontra ao longo do caminho do seu serviço messiânico, é o reflexo do desígnio eterno de Deus, o qual, criando cada uma delas, a escolhe e ama em Cristo (cf. Ef 1,1-5)” (n.13). 

Corresponsabilidade

Na carta, o Pontífice critica o fato de na maioria das vezes apenas as mulheres serem responsabilizadas por situações em que tenham que criar os filhos sozinhas por abandono do genitor ou nas quais se “‘se livram’ da criança antes do seu nascimento” [uma alusão ao aborto], devido a pressões. “Cada homem deve olhar para dentro de si e ver se aquela que lhe é confiada como irmã na mesma humanidade, como esposa, não se tenha tornado objeto de adultério no seu coração; se aquela que, sob diversos aspectos, é o co-sujeito da sua existência no mundo, não se tenha tornado para ele ‘objeto’: objeto de prazer, de exploração” (n.14). 

A maternidade e a virgindade

São João Paulo II lembra que as duas dimensões da vocação da mulher, a maternidade e a virgindade, “adquirem a plenitude do seu sentido e valor em Maria, que como Virgem se tornou Mãe do filho de Deus” (n.17). 

Falando sobre a maternidade, o Pontífice aponta que esta decorre especialmente da abertura da mulher em gerir e cuidar do novo ser:  “Nessa abertura, ao conceber e dar à luz o filho, a mulher ‘se encontra por um dom sincero de si mesma’ (n. 17). E ao lembrar que o ‘peso’ maior de gerar e zelar pela nova vida sempre recairá sobre a mulher, o Papa enfatiza que “nenhum programa de ‘paridade de direitos’ das mulheres e dos homens é válido, se não se tem presente isto de um modo todo essencial” (n.18). 

São João Paulo II recorda que apoiado no Evangelho “desenvolveu-se e aprofundou-se o sentido da virgindade como vocação também para a mulher, vocação em que se confirma a sua dignidade à semelhança da Virgem de Nazaré (…) A mulher, chamada desde o  ‘princípio’ a amar e a ser amada, encontra na vocação à virgindade, antes de tudo, Cristo como o Redentor que ‘amou até o fim’ por um dom total de si mesmo, e ela responde a este dom por um ‘dom sincero’ de toda a sua vida” (n.20). 

Presença na Igreja

O Santo Padre também destaca a força expressiva das mulheres desde os primórdios da Igreja, algo que se repete ao longo dos séculos. “A Igreja, com efeito, defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação, expressou honra e gratidão por aquelas que — fiéis ao Evangelho — em todo o tempo participaram na missão apostólica de todo o Povo de Deus. Trata-se de santas mártires, de virgens, de mães de família, que corajosamente deram testemunho da sua fé e, educando os próprios filhos no espírito do Evangelho, transmitiram a mesma fé e a tradição da Igreja” (n.27). 

Amor e gratidão à mulher

São João Paulo II indica, ainda, que o amor à mulher não deve ser apenas expresso na dimensão esponsal do Matrimônio, mas também nas diversas estruturas da sociedade, independentemente do contexto cultural em que a mulher esteja ou de suas características espirituais, psíquicas e corporais (cf. n.29). 

Na conclusão da carta, o Pontífice afirma que a Igreja rende graças a Deus por todas as mulheres – mães, irmãs, esposas, consagradas a Deus, as que se dedicam aos mais diversos trabalhos no seio das famílias ou profissionalmente – “tal como saíram do coração de Deus, com toda a beleza e riqueza da sua feminilidade; tal como foram abraçadas pelo seu amor eterno; tal como, juntamente com o homem, são peregrinas sobre a terra” (n.31). 

A atenção do Papa Francisco às mulheres

 “Os dotes de delicadeza, sensibilidade e ternura peculiares, que enriquecem o espírito feminino, representam não apenas uma força genuína para a vida das famílias, para a propagação de um clima de serenidade e de harmonia, mas uma realidade sem a qual a vocação humana seria irrealizável”. (25/03/2014). 

“Este é o grande dom de Deus: nos deu a mulher. No Evangelho, ouvimos do que é capaz uma mulher, hein? Aquela é corajosa! Foi adiante com coragem. Mas é algo mais: a mulher é a harmonia, é a poesia, é a beleza. Sem ela o mundo não seria bonito, não seria harmônico”. (09/02/2017)

“As mulheres são protagonistas de uma Igreja em saída, por meio da escuta e do cuidado que manifestam com as necessidades dos outros e, com uma marcada capacidade de sustentar dinâmicas de justiça em um clima de ‘calor doméstico’, nos diferentes ambientes sociais em que se encontram para trabalhar”. (08/10/2020)

“O renascimento da humanidade começou pela mulher. As mulheres são fontes de vida; e, no entanto, são continuamente ofendidas, espancadas, violentadas, induzidas a se prostituir e a suprimir a vida que trazem no seio. Toda a violência infligida à mulher é profanação de Deus, nascido de uma mulher”. (25/11/2022)

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