‘Amar a pátria pode ser expressão de genuíno amor ao próximo’

Afirmou o Cardeal Scherer, Arcebispo de São Paulo, na Missa pela pátria e pelo povo brasileiro, neste domingo, 6, na Catedral da Sé

Na tarde deste domingo, 6, véspera da comemoração do Dia da Pátria – 7 de setembro -, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu missa na Catedral da Sé, na intenção pela pátria e pelo povo brasileiro, com lembrança especial aos doentes e seus cuidadores e aos falecidos em razão da pandemia de COVID-19, mais de 126,6 mil até agora no País.

“Queremos invocar a proteção de Deus, para que o quanto antes possamos sair desta pandemia e voltar a ter toda a liberdade, inclusive para o povo retornar às igrejas e participar das celebrações”, disse Dom Odilo no começo da celebração eucarística, que teve entre os concelebrantes Dom Eduardo Vieira dos Santos, Dom José Benedito Cardoso e Dom Jorge Pierozan, Bispos Auxiliares da Arquidiocese de São Paulo.

Entre os participantes presenciais da missa – também transmitida pelas redes sociais da Arquidiocese de São Paulo e pela rádio 9 de Julho – estiveram representantes de autoridades civis e militares. Alguns dos que não puderam comparecer enviaram mensagens, lidas pelo Padre Eduardo Baronto, Cura da Catedral da Sé, entre as quais a do governador de São Paulo, João Doria Junior, que saudou a Arquidiocese pela celebração e manifestou sua gratidão aos profissionais da saúde e a todos os de serviços essenciais desempenhados ao longo desta pandemia.

O cuidado com a vida do próximo

Referindo à liturgia do 23o Domingo do Tempo Comum, Dom Odilo lembrou, na homilia, que Deus deseja que todos se salvem, inclusive aqueles que ao longo da vida se desviam do caminho da Salvação, e que cabe a cada cristão corrigir o próximo para que siga o bom caminho de Cristo.

“Deus quer que todos se salvem, que ninguém se perca e que sejamos instrumento de salvação para aqueles que erraram, para que possam se salvar. É uma grande responsabilidade, portanto, que devemos desempenhar com verdadeira caridade”, disse o Arcebispo.

A pátria para o bem de todos

Ainda na homilia, o Arcebispo recordou que a pátria é o local onde alguém nasce ou adota para viver, espaço com o qual se identifica e se sente parte, tendo compromisso com ela e com seu povo.

“O cristão também necessita e tem o direito a uma pátria. Ao mesmo tempo, ele sabe que a sua pátria neste mundo ainda é provisória, que se encontra na condição de peregrino, a caminho da pátria definitiva. Também sabe, porém, que durante esta vida, ele deve ser cidadão e envolver-se ativamente na promoção do bem comum do seu povo e de sua pátria, e que ele próprio também possui o direito à cidadania plena. Assim, nenhum cristão ou pessoa de qualquer religião deveria ser discriminado por causa de sua fé, nem ser considerado cidadão de segunda categoria, por ser pessoa de fé religiosa. Isso seria um grave desrespeito aos direitos e à dignidade humana”, apontou.

O Arcebispo lembrou, ainda, que a pátria é o lugar de referência para se viver o amor ao próximo e as virtudes da justiça, da honestidade e da solidariedade, bem como a liberdade, com cidadãos que agem com senso de responsabilidade social, contribuem para a edificação do bem comum e atuam para a garantia da própria dignidade e a dos demais, posturas que a Igreja recomenda constantemente aos cristãos.  

“A participação de todos no bem da pátria equivale ao interesse que todos precisam ter na edificação e conservação da ‘casa comum’, ou da ‘cidade’, entendida como espaço de convívio e busca do que é bom para todos. Amar a pátria pode ser expressão de genuíno amor ao próximo”, disse Dom Odilo.

Pacto pela Vida e pelo Brasil

O Arcebispo de São Paulo fez ainda menção ao Pacto pela Vida e pelo Brasil, firmado em abril pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras instituições de expressiva credibilidade, no qual os brasileiros são convocados, diante da atual crise sanitária, política, econômica e social, a unir esforços em defesa da vida humana, em especial dos mais vulneráveis.

“A pandemia da COVID-19 mostrou, de maneira inequívoca, a profunda desigualdade e injustiça social que ainda reinam em nosso País. Muitos brasileiros continuam excluídos dos benefícios do bem comum, que a pátria deveria significar e proporcionar a todos. A vida dessas pessoas está continuamente exposta a privações e muitos ainda estão excluídos do acesso aos bens da alimentação, saúde, habitação digna, saneamento, segurança e educação”, afirmou o Cardeal.

Ao recordar que o Pacto propõe um diálogo social e político, em vista do respeito pela democracia, Dom Odilo ressaltou: “Vivemos uma situação política marcada por forte polarização, por apego a privilégios e por manobras maquiavélicas para se manter no poder a todo custo. Parece que o bem está todo de um lado e o mal está todo de outro, mas sabemos que a convivência na ‘pátria-casa comum’ supõe a diversidade, o respeito ao pluralismo, em que o diálogo franco e o respeito levem a somar, partindo das diferenças, não sendo necessário um antagonismo bipolar e excludente”.

O Arcebispo, por fim, rogou a Deus para que haja avanço no diálogo no País, a fim de que as atenções estejam centradas nas questões que requerem a contribuição, e que os governantes, de modo especial, hajam com justiça e equidade para o bem da população, em especial dos mais pobres.

Paz, justiça e consolo

Na oração dos fiéis, rezou-se a Deus para que conceda ao povo brasileiro paz e justiça; que os governantes adotem políticas publicas contra as situações de marginalização; que os agentes de saúde mantenham sua missão de salvar vidas; e que o Senhor acolha em seu Reino todos os já falecidos por COVID-19 e que dê o conforto a seus familiares.

Após a comunhão, Dom Eduardo recordou o atual momento de dor, sofrimento, morte, desemprego e fome, desencadeado pela pandemia de COVID-19, e rezou para que Deus “nos abençoe e proteja, e dê ao nosso País e pátria muitos dias de glória”.

Antes de bênção final, Dom Odilo desejou a todos que vivam um bom Dia da Pátria e que a data não se limite à comemoração da Independência do Brasil, mas seja oportunidade para que cada pessoa reflita sobre como pode dar sua contribuição para que a pátria brasileira seja um bom lugar para todos que nela habitam.

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