Especialização em Teologia e Ensino Religioso amplia perspectivas pessoais e profissionais

Pós-graduação oferecida pelo Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade e a Faculdade de Teologia da PUC-SP está com inscrições abertas

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Realizado de modo on-line e com duração de 18 meses, o curso de especialização em Teologia e Ensino Religioso está com inscrições abertas para a sua terceira turma, que terá início em 6 de março. 

Essa pós-graduação é promovida pelo Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, em parceria com a Faculdade de Teologia da PUC-SP, e se destina a professores do ensino fundamental e médio de colégios confessionais, administradores escolares, educadores em geral e demais interessados que já tenham algum diploma de graduação. Detalhes sobre a inscrição e valores podem ser vistos no site da PUC-SP.

De acordo com o Padre Vandro Pisaneschi, Coordenador de Pastoral do Vicariato, essa especialização foi criada a partir do relato de professores e diretores de escolas católicas sobre o déficit de cursos específicos para a área de Ensino Religioso, disciplina que consta na grande curricular da educação básica, mas que muitas vezes é substituída por outra devido à falta de professores capacitados ou pelo desinteresse dos estudantes em cursá-la, já que a matrícula é facultativa. 

Ampla partilha de vivências

Padre Vandro comenta que o formato on-line do curso tem permitido uma enriquecedora interação entre os participantes. “Temos alunos desde o Norte do Brasil até o Sul. Ocorre uma partilha de conhecimentos muito proveitosa para todos, pois uma turma diversa é muito benéfica. Há diversidade de saberes tanto por parte dos estudantes quanto na formação docente, com professores doutores, leigos e sacerdotes, trazendo uma ótima formação doutrinal teológica e práticas atuais”, explicou ao O SÃO PAULO

Mestra em História da Filosofia pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne e mestra em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Maria Cecilia Isatto Parise é uma das professoras do curso. Ela assegura que o formato on-line proporciona uma boa dinâmica de interação e espaço para o esclarecimento de dúvidas. Nas aulas, ela utiliza textos de apoio em linguagem bem didática, além de slides, metáforas e imagens para esclarecer argumentos filosóficos mais complexos. 

“Convido a todos os interessados e curiosos, que gostariam de fazer uma experiência fenomenológica para aumentar o conhecimento de si e do outro, para que se inscrevam neste curso, que tem professores capacitados e atualizados, experts em lidar com a contemporaneidade e seus desafios para o ensino da religião.” 

Formação profissional e demanda pastoral

Um dos propósitos do curso é que o estudante possa desenvolver critérios para a elaboração de conteúdos de Ensino Religioso. Padre Vandro comenta que a falta de um currículo comum e de conteúdos específicos faz com que essa disciplina seja muito diversa de uma instituição de ensino para outra ou que não seja valorizada. A falta de professores capacitados também é um desafio, além do devido trato com a questão da confessionalidade. 

“A pluriconfessionalidade da disciplina em algumas escolas gera falta de formação específica e aprofundada, e os alunos não aprendem o mínimo sobre a fé católica. Não se deve confundir confessionalidade e proselitismo. Uma escola católica, por sua identidade, é confessional, mesmo havendo pluralidade de credos entre seus membros. Mas ela não deve ser proselitista, o que não significa negar sua identidade católica”, observa o Coordenador de Pastoral do Vicariato. 

Outras metas do curso são de favorecer a iniciação cristã no ambiente escolar e o aperfeiçoamento pastoral nos colégios católicos, nos quais, destaca Padre Vandro, todas as ações devem convergir para o anúncio do Evangelho e a vivência dos valores cristãos. “Nas aulas de Ensino Religioso, mesmo que o conteúdo seja confessional, não é exigida a adesão de fé dos alunos. Eles aprendem conceitos e valores como aquisição de conhecimento. Já na pastoral, há uma preparação que leva em conta a fé dos participantes. Para isso, uma boa formação acadêmica dos agentes de pastoral ajuda na formação dos alunos, professores e funcionários interessados”, comenta. 

Edith Stein e o Ensino Religioso

As disciplinas oferecidas dialogam com diversas áreas do conhecimento, mas mantêm proximidade com temáticas da Filosofia e da Teologia. Uma das disciplinas do curso é sobre a Antropologia de Edith Stein (1891-1942). De origem judia, a dedicada estudante de Filosofia se converteu ao Cristianismo, tornando-se a Monja Teresa Benedita da Cruz, e em seus escritos soube conciliar a abertura ao Sagrado com os valores da razão.

“O desafio é mostrar que a vida de Edith Stein é extremamente enriquecedora e esclarecedora, para que possamos entender e ressignificar o que vivenciamos na sociedade contemporânea, tão adoecida pela falta de sentido de vida, especialmente entre nossos jovens e crianças. Como consequência do fechamento ao divino, o ser humano foi se distanciando dos outros, semelhantes a si, chegando a justificar teórica e pragmaticamente as guerras e outras atitudes contrárias ao que a humanidade identificou como os ‘direitos humanos’. Edith Stein vivenciou isso em sua própria vida e em sua carne, sendo morta em um campo de concentração quando já se havia convertido e tornado monja carmelita, por causa de sua origem judaica”, detalha a professora Maria Cecilia Isatto Parise, que ministra a disciplina.

Ela lembra que o percurso de vida da Edith Stein pode ser compreendido por qualquer “pessoa de boa vontade”, independentemente se crê ou não em Deus, e, assim, este conhecimento pode ajudar os professores de Ensino Religioso a lidar com a dessacralização e o ateísmo que já é observado também nas novas gerações. 

“Nas aulas do curso, começaremos a trabalhar a abertura essencial de todo ser humano a outro semelhante a si por meio do fenômeno da empatia ou entropatia, e seguiremos para a análise da constituição do ser humano em sua tríplice dimensão: corpórea, psíquica e espiritual”, detalha Maria Cecilia, recordando, ainda, que os jovens “trazem em si a vontade de buscar em suas vidas algo que lhes dê um norte, um ‘sentido’ para viver: o que é bom, belo, justo e verdadeiro.”

Ainda de acordo com a professora, a Fenomenologia, método filosófico descrito por Edmund Husserl (1859-1939) e aplicado por Edith Stein, descreve as vivências humanas e procura identificar nelas o que existe de essencial.

“Conhecer a constituição do ser humano por meio da Fenomenologia de Edith Stein é algo transformador. Aplicá-la ao Ensino Religioso é um grande desafio, mas algo completamente factível, e asseguro que ela nos torna pessoas melhores: mais abertas ao diferente, mais tolerantes, mais compreensivas. E, contrariamente do que parece ser, a antropologia filosófica de Edith Stein não nos torna relativistas, bem pelo contrário, pois a nossa capacidade de compreender e ajudar o outro a se desenvolver de modo autônomo e diferente do meu é o resultado da compreensão de estarmos ancorados no solo firme da razão humana. Não de uma racionalidade tecnicista e materialista, mas de uma racionalidade que se abre humildemente ao mistério, aceitando construir com suas próprias mãos, até onde é possível, o sentido de sua vida, abrindo-se para o Outro que dá sentido ao que não pode ser conhecido no aqui e agora da própria história de vida de cada um”, comenta.

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