Janeiro Branco: tempo para pensar nos cuidados com a saúde mental

 “Todo mundo pede pela saúde mental” é o tema da campanha de conscientização e incentivo ao cuidado com a saúde mental.

Em sua 9a edição, a campanha Janeiro Branco, idealizada pelo psicólogo Leonardo Abrahão e em parceria com outros colegas de profissão, convida a sociedade a refletir sobre a saúde mental e estimula autoridades a discutir estratégias e políticas públicas a respeito.

A campanha, segundo Abrahão, faz alusão ao hábito de, no início do ano, as pessoas colocarem em uma “página em branco” suas metas e objetivos para que incluam entre estas a preocupação com a saúde mental.

Conforme Abrahão, o Janeiro Branco tem por objetivo “refletir sobre os universos mentais, emocionais, sentimentais, comportamentais e subjetivos dos seres humanos”, afirmou ao O SÃO PAULO, destacando, que é preciso “pautar, democratizar, desmistificar e popularizar reflexões e ações de prevenção e cuidado para com a saúde mental”.

De acordo com o psicólogo, o intuito é ressaltar a todos que os cuidados com a saúde mental “devem ser cotidianos, planejados e distribuídos em todos os aspectos da vida humana: vida particular, vida social, vida econômica, vida política, vida cultural, vida familiar. Do nascimento ao fim da vida”, destacou.

CUIDAR DA SAÚDE

Com o início da pandemia de COVID-19, em 2020, a população mundial foi exposta a uma série de situações de estresse e isolamento social com grandes consequências sobre a saúde mental.

A redução do convívio social, o prolongamento do tempo em frente às telas, o luto, o medo da contaminação, alterações de humor, distúrbios do sono são situações que acabaram afetando as emoções e a qualidade de vida.

Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 18,6 milhões de pessoas no Brasil, cerca de 9% da população, sofrem com distúrbios relacionados à ansiedade, tais como apreensão, inquietação, preocupação demasiada com o futuro, taquicardia, fobias, entre outros.

Segundo a OMS, aproximadamente 11,5 milhões de brasileiros sofrem de depressão e, ainda, com alterações de humor, diminuição da capacidade de concentração, distúrbios de sono e de apetite, entre outros.

“A pandemia intensificou os efeitos colaterais danosos à saúde psíquica de parte significativa da população. Transtornos de ansiedade, de humor, depressão, uso excessivo e abusivo de substâncias psicoativas, tempo prolongado em frente a aparelhos eletrônicos foram alguns dos problemas agravados”, comenta Abrahão, destacando a necessidade de políticas públicas eficazes.

Abrahão reforçou a importância do monitoramento da saúde mental, que pode se dar entre os familiares e amigos, e salientou, ainda, a necessidade de se estar atento aos sinais: desânimo persistente e resistente, insônia injustificada e sistemática, alterações abruptas e injustificadas nos padrões alimentares e físicos, agressividade disfuncional, passividade disfuncional, alta frequência de pensamentos automáticos angustiantes, ideação suicida incontrolável, comportamentos compulsivos e obsessivos fora de controle, níveis insatisfatórios e prejudiciais de autoestima, falta de sentido próprio na vida e nas relações pessoais, entre outros indicativos de que a vida da pessoa não está bem.

A BOA SAÚDE MENTAL

Veruska Ghendov, psicóloga clínica, destacou em entrevista a crescente procura por ajuda nos consultórios, durante a pandemia.

“Cuidar da saúde mental é fundamental: diz respeito a saber reconhecer os sentimentos, os limites e respeitar os sinais que o corpo emite quando está excessivamente exposto ao estresse”, disse, enfatizando a necessidade de identificar a hora de pedir ajuda.

A psicóloga recomendou ainda a necessidade de se “manter uma rotina de exercícios físicos, uma alimentação saudável, sono mínimo de sete horas diárias, engajar-se em alguma atividade lúdica extratrabalho, cultivar hobbies saudáveis, entre outras”, afirmou.

Outra dica da profissional é o autoconhecimento para melhor gerenciar as realidades do dia a dia. “Saber lidar, por exemplo, com os problemas, enxergá-los com a importância devida e flexibilidade para compreender os limites e situações à volta é importante”, ressaltou.

AÇÕES CONCRETAS

Segundo dados da Prefeitura Municipal de São Paulo, na capital há cerca de 200 estabelecimentos dedicados aos cuidados da saúde mental: Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que atendem os casos de transtornos mentais mais severos, persistentes e em crise; os Centros de Convivência e Cooperativa (Cecco), voltados à reabilitação psicossocial e geração de oportunidades e ressocialização, e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) são alguns dos meios oferecidos à população.

A Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, desde o início da pandemia, criou uma série de materiais e atividades sobre saúde mental com o objetivo de prevenir o adoecimento psíquico e orientar em caso de necessidade de ajuda.

O programa “Autoestima” é uma iniciativa da Assessoria Técnica de Saúde Mental da Secretaria Estadual da Saúde, juntamente com o Instituto de Psicologia da USP e outros parceiros, disponibilizando o acolhimento psicossocial virtual para a população em geral, maiores de idade e residentes no estado de São Paulo.

A iniciativa oferece conteúdos para a saúde mental da população, valorizando o protagonismo do cidadão na busca por saúde mental, qualificação para as equipes do Sistema Único de Saúde (SUS) e oportunidade de cuidado e promoção em saúde mental.

O site InspirAção traz conteúdos sobre cuidado, apoio e bem-estar para a vida, vídeos, cartilhas, podcasts que abordam a saúde mental. As informações são baseadas em pesquisas e artigos publicados ou reunidos por especialistas da USP.

A plataforma conta com artigos de pesquisadores e professores envolvidos com a área de estudos da saúde mental. Há espaço para a publicação de histórias que inspiram e dão apoio à jornada de cuidados.

A ideia do site surgiu com o propósito diferente das postagens que têm na internet. O objetivo não é só para quem precisa da ajuda, mas também  para quem quer ajudar com atendimento ou divulgação de conhecimentos.

Outro projeto da USP, é o “Dr. Risadinha: pode contar,” que usa as redes sociais para responder dúvidas sobre saúde e atrair o público jovem. O projeto produz conteúdo sobre doenças prevalentes, doenças raras, saúde mental, alimentação, sono, entre outros.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários