Na Eco Garopaba, as garrafas PET viram pranchas de surfe

Criada em 2011, ONG já transformou mais de 30 mil garrafas em pranchas ecológicas e realiza ações de limpeza nas praias e de conscientização ambiental nas escolas

Fotos: Eco Garopaba

Sempre que ia surfar, o casal Jairo Lumertz e Carolina de Albuquerque Scorsin se incomodava com a quantidade de lixo que encontrava no mar. Em 2011, eles decidiram que fariam algo para tentar mudar essa realidade. Começaram, então, a confeccionar pranchas de surfe com garrafas plásticas. Assim surgiu a ONG Eco Garopaba, cuja sede é na Praia da Barra, na cidade de Garopaba, no litoral de Santa Catarina.

A iniciativa tem por objetivo reduzir o volume e os prejuízos causados pelo lixo nos oceanos e busca conscientizar a população sobre a necessidade da gestão responsável do lixo, por meio da reciclagem e o descarte correto de resíduos. Também fomenta a consciência social e ecológica nas comunidades, falando a estudantes, moradores e turistas. E, claro, incentiva a prática do surfe.

Jairo e Carolina já foram a diferentes partes do Brasil para ministrar palestras e dar formação a multiplicadores em escolas. O casal ensina crianças e jovens a produzirem sua própria prancha e organiza mutirões para limpar as praias por onde passa.

Em 12 anos de projeto, já foram visitadas mais de 80 cidades, em 17 estados, e orientadas cerca de 50 mil crianças e adolescentes.

Neste período, mais de 30 mil garrafas PET foram transformadas em pranchas. A quantidade de garrafas necessárias para produzi-las varia conforme o modelo: com 45 garrafas é possível confecionar uma prancha comum; com 90, uma stand up paddle (que é um modelo maior) e com 15 garrafas uma prancha de bodyboard, que é mais larga e mais curta que uma prancha convencional.

A ideia da prancha ecológica também ja aportou no litoral de Israel, Argentina, Peru, Chile, México, Nova Zelândia, Indonésia, Austrália, França, Inglaterra, Portugal e Tailândia.

A PRANCHA ECOLÓGICA

Jairo Lumertz contou à reportagem que o material necessário para construir as pranchas, além das garrafas PET, é simples e encontrado até nos lixões ou em canteiros de obras: tesoura, lixa, cola de poliuretano, canos de PVC (para sustentar a estrutura), E.V.A. escolar (para o deck – a parte de cima da prancha), tábuas plásticas (para as quilhas). Também é preciso um compressor de ar ou uma bomba de pneu de bicicleta, para encher as garrafas de ar e garantir mais eficiência na flutuação.

“O processo de fabricação da prancha envolve higienizar bem as garrafas PET, lixá-las, colá-las com uma substância adesiva especial para poliuretano, criar uma estrutura de canos de PVC e finalizar com E.V.A. a parte em que o surfista deita”, explica Lumertz. “Todo o material vem do lixo ou é reciclado. Por exemplo, E.V.A. é algo muito descartado pelas academias”, afirmou o surfista, garantindo que a prancha ecológica tem a mesma estabilidade das convencionais, mas um custo bem menor para ser produzida, o que possibilita que também as pessoas de baixa renda possam ter a própria prancha de surfe.

“A prancha se torna uma ferramenta para falar sobre os problemas que o lixo vem causando em nosso planeta. Assim, incentivamos a prática do surfe, a preservação da natureza e capacitamos centenas de multiplicadores para dar continuidade ao projeto”, reforça Lumertz, recordando que também são confeccionadas pranchas adaptadas para pessoas com deficiência.

O surfista ressalta que as pranchas podem ser feitas no modelo maior de stand up paddle, modalidade que usa um remo e, assim, pode ser praticada em lagoas, rios e até piscinas. Por isso, até em cidades não litorâneas o projeto pode ser viabilizado, razão pela qual os idealizadores do Eco Garopaba têm a meta de visitar todos os estados do Brasil e o Distrito Federal.

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MUDAR HÁBITOS EM RELAÇÃO AOS PLÁSTICOS

Um relatório do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) aponta que o Brasil é o quarto país que mais produz plástico no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. É, ainda, um dos que menos recicla: apenas 1,28%, o equivalente a pouco mais de 145 mil toneladas.

A WWF afirma que cerca de 10 milhões de toneladas de plástico são lançadas nos oceanos, anualmente. Nesse ritmo, até 2030, haverá o equivalente a 26 mil garrafas plásticas no mar a cada quilômetro quadrado, o que afetará a qualidade do ar, do solo e dos sistemas de fornecimento de água.

Investir em alternativas sustentáveis é um caminho para reverter esse cenário; por isso, segundo Carolina Scorsin, a Eco Garopaba tem como missão conscientizar a população sobre a necessidade do cuidado com o planeta, viabilizando a reciclagem e o correto descarte do plástico e dos demais itens passíveis de reaproveitamento.

“A reciclagem ainda é um desafio no Brasil. Toneladas de resíduos que poderiam ser reaproveitados, contribuindo para a economia circular, infelizmente são despejadas em locais proibidos. Nosso intuito é reduzir e até eliminar o descarte incorreto do lixo nas praias. Isso é possível com a colaboração de todos. Buscamos com o projeto capacitar crianças e jovens para a educação e preservação ambiental em escolas e na fabricação da sua própria prancha”, disse.

Carolina ressaltou a importância das ações do projeto nas escolas. “As crianças saem da escola com outra ideia de preservação e da prática de esporte. Começam a repensar e mobilizar os familiares para a ação de cuidar do ecossistema. Elas começam a olhar os problemas que o lixo vem causando de outra forma”, frisou.

“Eu costumo dizer que meu esposo e eu somos ‘caçadores de garrafas PETs’”, brinca Carolina, enfatizando a crescente participação dos moradores e turistas nos mutirões na praia e na coleta seletiva. “Quem conhece nossas ações já nos traz as garrafas após o uso, pois sabe que estamos sempre procurando-as para reutilizá-las”, contou.

A Eco Garopaba também produz quadros com o lixo plástico retirado das ações de limpeza em praias, e brincos feitos com caixas de leite e retalhos de tecidos.

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CONHEÇA O PROJETO

@ecogaropaba

OS PLÁSTICOS E O MEIO AMBIENTE

São produzidas 11.355.220 milhões de toneladas de lixo plástico por ano, no Brasil;

Deste total:
7,7 milhões de toneladas 
são jogadas em aterros sanitários;
2,4 milhões de toneladas são descartadas de forma irregular;
Mais de 1 milhão de toneladas não é recolhida; 
Apenas 145.043 toneladas são corretamente recicladas;
Cada brasileiro produz 1kg de lixo plástico por semana

(Fonte: WWF)

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