Nova fachada do Santuário Nacional de Aparecida integra um grande projeto de evangelização

Mosaico gigante que reveste a entrada do lado norte da basílica tem cenas inspiradas no livro do êxodo, o “caminho para a liberdade”, e é o primeiro dos quatro que vão compor as principais entradas do templo mariano

Fotos: Thiago Leon /Santuário Nacional de Aparecida

No sábado, 19, foi inaugurada a nova Fachada Norte do Santuário Nacional de Aparecida. Nela estão exibidas 24 cenas inspiradas no livro do Êxodo, que narram a história de Moisés, do povo de Deus e de seu caminho rumo à liberdade para a terra prometida.

Este é o primeiro de quatro mosaicos que vão revestir as principais entradas do templo de Aparecida. Eles integram o projeto Jornada Bíblica, que tem a proposta de transformar o Santuário em uma das maiores “Bíblias a céu aberto do mundo”.

Ao O SÃO PAULO, o Padre Eduardo Catalfo, Reitor do Santuário, explicou que a jornada não se trata apenas de um projeto de arte sacra, mas de um projeto pastoral.

“O projeto Jornada Bíblica está inserido nessa preocupação pastoral dos missionários Redentoristas. Nosso grande objetivo, diria o principal, é aproximar dos devotos de Nossa Senhora a Palavra de Deus, o amor, a Sagrada Escritura”, afirmou o Reitor. “É ela [a Palavra] que orienta, de fato, a nossa vida, que nos educa na fé, na justiça e na sabedoria.”

O projeto artístico é do padre esloveno Marko Ivan Rupnik, que faz parte do Centro de Arte Espiritual Aletti de Roma, na Itália, no qual, desde 1995, o religioso é Diretor. Com obras nos cinco continentes, Padre Rupnik assina mais de 200 em mosaico, entre as quais a Capela Redemptoris Mater, no Vaticano; a facha- da do Santuário de Lourdes, na França; a Basílica de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal; e a Igreja de São Pio de Pietrelcina, em San Giovanni Rotondo, na Itália. No Brasil, o sacerdote é responsável também pela concepção do mosaico da Catedral Madre Maria Mãe de Deus, na Diocese de Castanhal (PA).

O religioso assina ainda o livro “Êxodo: Caminho para a libertação”, que explica cena a cena da Fachada Norte. “Esse livro, talvez, nos impeça de olhar a Fachada de modo superficial”, disse o Administrador e Ecônomo do Santuário, Padre Luiz Cláudio Alves de Macedo, na inauguração da ala.

O PROJETO

Thiago Leon /Santuário Nacional de Aparecida

Na Jornada Bíblica, iniciada em 2019, cada fachada do Santuário receberá um tema: a Norte retrata o livro do Êxodo; a Sul, cenas da Páscoa de Cristo; a Leste cenas da Criação; e a Oeste, cenas do livro do Apocalipse.

Na primeira ala concluída, além do Padre Rupnik, participaram da montagem outros 26 mosaicistas de vários países ligados ao Centro Aletti e 150 colaboradores do Santuário.

No total, foram aplicados na Fachada Norte 4 mil metros quadrados de mosaico em pedras. Além do material nacional, foram utilizadas pedras de outros países como França, Grécia e Afeganistão. As cenas bíblicas do mosaico vieram pré-moldadas de Roma.

“Foram montados 785 metros quadrados de andaimes. Ao todo, foram utilizados 140 toneladas de materiais – mármore, granito e vidro”, contou à reportagem Wilma Steagall De Tommaso, doutora em Ciências da Religião e Pesquisadora do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia (Labô) da PUC-SP.

Wilma, que acompanhou a obra do mosaico, comentou como este se harmoniza com as artes do interior do Santuário, que entre outros artistas sacros contempla obras de Cláudio Pastro. “Padre Rupnik coloca nesses mosaicos a história sacra, a Bíblia em forma de cores, como também fez Pastro. Eles são diferentes na forma de se expressar, mas na essência, na mentalidade, pensam igual”, disse, reforçando que ambos têm como inspiração a Igreja do primeiro milênio.

“Foi tudo pensado numa integralidade, não é uma fragmentação. É uma integração das artes”, ressalta. “A Fachada prepara o peregrino para que adentre a Basílica”, complementa.

Sobre a montagem dos mosaicos ter sido iniciada pela Fachada Norte, Padre Eduardo contou que isso se deu pelo fato de ela ter sido a primeira entrada do Santuário construída.

Disse também que a data da inauguração, realizada na Solenidade de São José, foi escolhida com muito carinho. “Na companhia de São José, Patrono Universal da Igreja, e na companhia de tantos fiéis que colaboram conosco, quisemos celebrar a vida e a alegria de quem cresce também no conhecimento de Deus.”

Cenas do mosaico

José é vendido por seus irmãos (Gn 37,3-34)

Nessa passagem, José é vendido por 20 moedas de prata para o Egito pelos próprios irmãos, que estavam movidos pelo ciúme. No mosaico, aparecem os negociantes, o camelo e a túnica de José, suja de sangue de um animal, usada pelos irmãos para justificar ao pai o sumiço dele.

José é acusado e preso (Gn 39,1-20; 40,1-23)

Após a mulher de seu patrão, o general Putifar, tentar seduzi-lo e não conseguir, José é preso no Egito. Além de retratar José atrás das grades, a cena mostra o demônio, que, em toda a Fachada Norte, aparece apenas duas vezes.

José explica os sonhos do Faraó (Gn 41,1-36)

Assumindo o papel de porta-voz da mensagem de Deus, José elucida os sonhos do Faraó. Na cena da Fachada, o rei do Egito contempla a união do hebreu com o Senhor, identificado no mosaico pelo sinal da mão divina.

José administrador dos bens do Egito (Gn 41,38-57)

Após se tornar porta-voz de Deus, José se torna administrador dos bens do Egito. No mosaico, o êxito do comando de José é evidenciado pela fartura do estoque de suprimentos visível atrás do trono egípcio.

José que se faz reconhecer por seus irmãos (Gn 42,1-28; 43,1- 23; 44,1-17; 45,1-28)

Em um cenário de fome alastrada, o Egito não foi atingido na época, graças ao governo de José. Com isso, ele se encontra com os irmãos, que haviam sido enviados pelo pai, Jacó, em busca de suprimentos. No primeiro momento, sem se identifi- car, José conduz os irmãos e o pai ao arrependimento. A cena mostra sua revelação ao retirar a insígnia egípcia.

Moisés nas águas (Ex 2,1-10)

A passagem é sobre o período no qual Tutmoses ordenou a morte de todos os homens primogênitos de Israel, exigindo que fossem jogados no rio Nilo. Imagem que está retratada no mosaico por meio de mulheres atirando crianças no rio.

Moisés mata o egípcio (Ex 2,12-15)

Nessa cena bíblica, Moisés acredita ser o único capaz de libertar da escravidão os hebreus. No mosaico, sua imagem, com grandes olhos, está centralizada, enfatizando sua crença de que seria ele o responsável pela ação libertadora.

A escravidão hebreia (Ex 1,8-11)

A passagem descreve o trabalho forçado imposto aos hebreus pelos egípcios. O mosaico traz a imagem do pecado presente na escravidão dos hebreus.

Moisés, pastor em Madiã (Ex 2,15b-22)

No mosaico está retratado Moisés como pastor, papel que ele assumiu por 40 anos, após fugir do Egito.

Moisés diante da sarça ardente (Ex 3,1-22)

Passagem em que Moisés vê no deserto uma sarça em chamas que não é consumida pelo fogo. No mosaico, a Virgem Maria é retratada na sarça ardente. Cena que remete à tradição da Igreja em que a sarça ardente é reconhecida na figura de Maria por ela ter acolhido o Espírito Santo, o fogo, e não ter sido consumida por Ele.

A construção da Tenda do Encontro (Ex 23, 24, 25, 27)

No mosaico da Fachada, Moisés aparece vistoriando a construção do véu que divide o templo, o Tabernáculo, que é a representação da habitação de Deus na terra.

O ancião no Trono e o Cordeiro (Ap 4,2b-8a; 5,6-7)

Cena que está no ponto mais alto interno da Fachada Norte, onde está escrito: “Será para vós um memorial perpétuo”.

O bezerro de ouro (Ex 32,1-14)

A cena retrata que, ao descer do monte com as tábuas da Lei, Moisés se depara com o povo hebreu idolatrando um bezerro de ouro.

A rebelião dos hebreus (Ex 5,1-23)

Moisés vai até o Faraó com o irmão Aarão pedir a libertação do povo hebreu para a celebração da festa ao Senhor no deserto. Isso, porém, irrita o Faraó, que ordena mais trabalho aos hebreus. No mosaico, os hebreus aparecem contrariados com a situação, demonstrando não desejar sair do Egito.

O maná no deserto (Ex 16,1-31)

Passagem que fala dos 40 anos dos hebreus no deserto, após saírem do Egito. O mosaico retrata a murmuração dos hebreus contra Deus, por saudades da comida e dos alimentos, representados em uma panela.

Os prodígios de Moisés (Ex 7,1-13)

Na conversa em que Moisés, junto com Aarão, pede ao Faraó a libertação do povo hebreu, o bastão do irmão se torna uma serpente. O Faraó então ordena que os magos também façam surgir serpentes em seus bastões. Mas o bastão de Aarão engole a serpente do Faraó. Prenúncio de Cristo que o rei egípcio ignora. No mosaico, essa atitude do Faraó está retratada por seus braços cruzados e seu olhar voltado para fora da cena.

As pragas do Egito (Ex 8,1-11; 12-15; 16-28; 9,1-7; 8-12; 13-35; 10,1-20; 21-29; 11,1-10)

Nesse trecho bíblico, a ruína do Faraó é iniciada e ele, enfim, percebe que não domina nada. Na cena do mosaico, sua imagem está centralizada sobre um trono que desmorona.

A Páscoa hebraica (Ex 12,3-42)

Em busca de atender o pedido do Senhor, Moisés passa de família em família para convencê-las a fazer uma ceia. No mosaico, Moisés é retratado marcando a soleira de uma porta com sangue e o anjo exterminador aparece inclinando-se diante da porta, pois viu o sangue do Cordeiro.

A travessia do Mar Vermelho (Ex 14,1-30)

Passagem que representa o nascimento do povo novo após o encontro com Deus e a saída do Egito. A cena do mosaico traz o Mar Vermelho e a mão de Moisés com seu bastão, indicando o futuro que está por vir.

Thiago Leon /Santuário Nacional de Aparecida
A água da rocha em Massa e Meriba (Ex 17,1-7)

Passagem em que Moisés duvida e peca contra Deus. O demônio aparece no mosaico tentando o povo.

Moisés recebe as tábuas da Lei (Ex 20,1-17)

No mosaico, Moisés recebe das mãos de Deus, claramente maiores que as dele, as duas tábuas da Lei como se acolhesse um dom.

Moisés vê a glória de Deus (Ex 33,12-23)

Nessa passagem, ao pedir que o Senhor intervenha pelo povo, Moisés recebe a mão de Deus em sua face.

Batismo do Senhor e martírio de Santo Estêvão (Mt 3,13-17; At 7,54-60)

Há duas cenas aqui. À direita, o Batismo de Cristo; e, à esquerda, o martírio de Santo Estêvão, o primeiro mártir.

(Com informações do Portal A12)

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Gulliver
Gulliver
1 ano atrás

O povo confunde as coisas, o padre acusado fundou o centro de arte, mas nao foi ele quem fez os mosaicos, retira-los iria jogar fora o trabalho e talento de várias pessoas qeu não tem nada a ver com o caso