Novembro Azul: Para que o tabu dê lugar ao cuidado na prevenção ao câncer de próstata

Por ano, 16 mil pessoas no Brasil morrem em decorrência do câncer de próstata, um óbito a cada 33 minutos. Em 2022, a projeção é de 66 mil novos casos. Entretanto, se for descoberto precocemente, em 90% dos casos há cura para este que é o tumor maligno mais comum entre os brasileiros, ultrapassando a somatória dos casos de câncer de pulmão, colorretal e de estômago em homens. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Instituída no Brasil em 2011, a campanha “Novembro Azul” tem o objetivo de conscientizar a sociedade, especialmente os homens, sobre os cuidados com a saúde em geral e, sobretudo, a respeito dos riscos e formas de prevenção ao câncer de próstata.

Exame de sangue (PSA), toque retal e biópsia possibilitam descobrir a doença em fase inicial, aumentando as chances de eficácia no tratamento e na cura, mas a pouca atenção da maioria dos homens com a própria saúde ajuda a explicar a alta incidência do cancêr de próstata no Brasil.

DOENÇA SILENCIOSA

Segundo um levantamento da plataforma Global Cancer Statistics (Globocan), o câncer de próstata resulta em 1,4 milhão de novos casos anuais e 375 mil mortes por ano no planeta. A doença representa 7,3% dos casos e 3,8% das mortes por câncer.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, apesar dos avanços terapêuticos, cerca de 25% dos pacientes com câncer de próstata morrem da doença e aproximadamente 20% dos casos são diagnosticados em estágios avançados.

A instituição recomenda que os homens a partir de 50 anos procurem um profissional especializado. Já homens de raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem realizar os exames preventivos a partir dos 45 anos. 

CAUSAS, SINTOMAS E TRATAMENTO

O urologista João Artur Brunhara Alves Barbosa enfatizou que o câncer de próstata é uma doença silenciosa, que atinge um a cada seis homens a partir dos 50 anos. Ele salientou a necessidade de buscar uma avaliação médica mediante alguns destes sinais:

  • Alterações no jato urinário; 
  • Dor ou ardência ao urinar; 
  • Dificuldade para urinar ou para conter a urina;
  • Fluxo da urina fraco ou interrompido; 
  • Necessidade frequente de urinar;
  • Dificuldade de esvaziar completamente a bexiga; 
  • Sangue na urina.

Barbosa lembrou que a conscientização do cuidado com a saúde masculina é imprescindível. “De modo particular, no Brasil, os homens tendem a cuidar menos da saúde e, quando o assunto é a próstata, muitos ainda a consideram um tabu.”

Segundo o médico, o câncer de próstata é multifatorial, mas alguns fatores como o envelhecimento, alimentação desequilibrada, alteração na glândula prostática e histórico familiar requerem atenção.

“Por exemplo, o fator idade evidencia que raramente a doença atinge homens com menos de 40 anos. Em sua grande maioria, os doentes têm mais de 50 anos, e dois terços têm mais de 65 anos. A alimentação rica em gordura e alto teor de cálcio pode aumentar o risco”, disse, frisando que as doenças sexualmente transmissíveis estão sendo investigadas como possíveis fatores de risco.

O urologista destacou que a definição do tratamento é feita caso a caso, levando em conta variáveis como o tipo de câncer, seu estágio, o estado clínico e emocional do paciente e, também, os possíveis efeitos colaterais associados ao tratamento. “A abordagem é personalizada, baseada em evidências científicas, buscando o tratamento assertivo ao paciente. Após o diagnóstico, o tratamento pode englobar intervenção cirúrgica, com destaque à robótica, ultrassom, radioterapia, quimioterapia, entre outros”, pontuou.

DIAGNÓSTICO A TEMPO

Falar sobre câncer de próstata, exames e tratamento acaba sendo um tema difícil entre os homens, que ainda têm muitas dúvidas e, na maioria das vezes, dificuldade de expor a falta de conhecimento sobre a doença e como agir para, se for o caso, diagnosticá-la precocemente.

Armindo Frank, 64, descobriu o câncer de próstata em fase inicial, em 2021, em um exame de rotina. “Nunca tinha feito o exame de próstata, mas vi a campanha Novembro Azul e decidi fazê-lo. A surpresa do diagnóstico me assustou no início. Precisei retirar a próstata e, anualmente, volto para fazer os exames necessários”, afirmou.

Frank salientou que divulga a campanha e incentiva seus amigos a deixarem o medo e o preconceito de lado para cuidar da saúde. “Nós, homens, temos vergonha de falar sobre o assunto e deixamos de cuidar do bem mais precioso que Deus nos deu, a saúde”, concluiu.

EM AÇÃO

O Instituto Lado a Lado existe desde 2008 com o intuito de contribuir para a conscientização sobre o câncer de próstata, assim como evidenciar a importância da prevenção e cuidado com a saúde integral do homem em suas várias etapas da vida.

Denise Blaques, diretora de projetos e desenvolvimento do Instituto Lado a Lado, enfatizou que o tema do Novembro Azul deste ano é “Azultitude”, com o intuito de conscientizar os homens de todas as idades a terem atitude e serem protagonistas no cuidado com a própria saúde.

“Nossa missão é mobilizar e engajar a sociedade e gestores da saúde, contribuindo para ampliar o acesso aos serviços, da prevenção ao tratamento, e mudar o cenário da saúde no Brasil. Trabalhamos para que todos os brasileiros tenham informação e acesso à saúde digna e de qualidade, em todas as fases da vida”, afirmou.

Blaques lembrou que por meio da campanha Novembro Azul foram impactadas mais de 85 milhões de pessoas desde 2011. “Esses e outros dados expressam o enorme impacto e alcance de nossa atuação. Contudo, temos a consciência de que há muito por fazer para transformar o atual cenário da saúde no Brasil”, disse. Conheça as ações realizadas no site https://ladoaladopelavida.org.br.

UNIDOS PELA CAUSA

O Movimento Latino-Americano Contra o Câncer de Próstata (Molocap) foi fundado em 2013, com o objetivo de assegurar que o câncer de próstata seja prioridade na agenda pública e para que os homens tenham acesso à educação, apoio, diagnósticos e tratamento adequado para a doença em seus vários estágios. O Instituto Oncoguia é um membro apoiador do projeto. O Molocap atua em seis países da América Latina.

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