Novos tratamentos dão mais esperança a pacientes com câncer

Aliadas ao cultivo da espiritualidade, técnicas ajudam no enfrentamento da doença e proporcionam mais qualidade de vida a pacientes oncológicos; diagnóstico precoce ainda é fundamental


Cirurgia robótica é menos invasiva que as técnicas anteriores e possibilita que pacientes oncológicos se recuperem mais rapidamente (foto: INCA/Arquivo)

Antigamente, as pessoas compreendiam o diagnóstico de câncer como uma “sentença de morte”, porque pouco se conhecia da doença e, consequentemente, não havia tratamentos tão eficazes como atualmente.

Na última década, houve uma significativa evolução, tanto no diagnóstico quanto no tratamento de doenças oncológicas. Os avanços científicos e tecnológicos, unidos à conscientização da investigação precoce, possibilitam ao paciente uma melhor recuperação e qualidade de vida.

Progresso da Medicina

Alexandre Palladino, oncologista, chefe da Oncologia Clínica do Instituto Nacional de Câncer (Inca), pontuou alguns dos avanços no tratamento do câncer no Brasil e no mundo.

“As novas técnicas cirúrgicas avançadas, com equipamentos de ponta, cirurgias robóticas minimamente invasivas e acessíveis aos pacientes no sistema privado e no Sistema Único de Saúde (SUS), a quimioterapia e a radioterapia com novas tecnologias e tratamentos mais precisos para cada tipo de câncer, o tratamento sistêmico com novos medicamentos, terapias-alvo usadas de acordo com as características moleculares, o avanço da genética aplicada ao tratamento do câncer proporcionam efetividade na intervenção”, disse.

Palladino enfatizou, ainda, que no campo diagnóstico a identificação de tumores em estágio inicial permite a detecção de lesões cada vez menores, e, assim, a doença deixa de ser uma sentença e traz uma nova esperança, tanto para os pacientes e familiares quanto para os profissionais da Saúde.

Em um passado recente, o diagnóstico do câncer só ocorria quando o tumor já estava desenvolvido no órgão. Agora, em muitos casos, é possível remover apenas a parte afetada, mantendo o órgão para maior longevidade do portador.

“Assim, os avanços permitem determinar a identidade do tumor, possibilitam planejar o tratamento de forma individualizada e, também, mais localizada, com uma recuperação mais rápida, menos dolorosa e menos complicações”, acrescentou.

Tecnologia auxilia no diagnóstico precoce do câncer e permite maior eficácia dos tratamentos (foto: National Cancer Institute)
ATUAIS POSSIBILIDADES DE TRATAMENTO
 
Cirurgia robótica – minimamente invasiva, é feita com o auxílio da tecnologia e traz maior eficiência, cortes menores, menos dor e desconforto no pós-operatório, diminui tanto a perda de sangue durante a cirurgia quanto a possibilidade de hemorragias após sua realização, possibilita um retorno mais rápido às atividades normais da vida.
 
Imunoterapia – estimula o organismo a detectar as células cancerosas e a atacá-las com medicamentos que inibem a progressão da doença. Auxilia o próprio sistema imunológico a identificar e combater o câncer.
 
Genética molecular – o sequenciamento gênico permite identificar mutações, a predisposição da doença em indivíduos e rastrear membros da família para o diagnóstico precoce.
 
Terapia-alvo – visa a destruição dos genes, proteínas ou do ambiente tecidual específico do tumor que contribuem para seu crescimento e sobrevida.
 
CAR T-cell – nova forma de terapia na qual os linfócitos T (células de defesa) dos pacientes são modificados em laboratório para combater e eliminar as células tumorais.
 
Quimioterapia – utiliza medicamentos para destruir as células doentes que formam o tumor. Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes e impedindo, também, que elas se espalhem pelo corpo.
 
Radioterapia – uso de radiações ionizantes, que são um tipo de energia para destruir ou impedir que as células do tumor aumentem.
 
Ultrassom, tomografia computadorizada, ressonância magnética – métodos que detectam o câncer em suas características estruturais e anatômicas, como dimensão, densidade, forma e tecido acometido pela doença.

Prevenção

Existem dois tipos de prevenção: a primária, que implica uma qualidade de vida saudável (habituar-se a uma alimentação balanceada, evitar bebidas alcoólicas e qualquer produto derivado do tabaco, manter uma rotina de exercícios físicos) e a secundária, pela qual se busca identificar a doença em seu estágio inicial por meio do check-up.

Marcelo Corassa, oncologista clínico do A.C. Camargo Cancer Center, destacou que o diagnóstico precoce amplia as chances de cura. “Ele é fundamental para evitar maiores complicações, impede que o tumor se espalhe e atinja outros órgãos”, disse, salientando que a metástase é um estágio avançado do tumor que infere mais inconveniências ao tratamento.

Corassa afirmou que existem estratégias de diagnóstico efetivas para vários tipos de tumores e são chamadas de “‘rastreamento’, um meio de prover exames para pacientes assintomáticos”, disse, pontuando a importância de incluir na agenda o compromisso com os exames de rotina sem esperar a chegada de sintomas.

Para Haila Bockis Mutti, oncologista clínica do São Camilo IBCC – Oncologia, a prevenção é a melhor via e os avanços possibilitam um alento para novos horizontes: “Medidas preventivas são o caminho para a diminuição dos índices da doença. Os exames específicos são solicitados a fim de se descobrir o estágio da doença. Dependendo do agravamento, quanto antes se iniciar o tratamento, melhor será o resultado e possibilidades de cura”.

Vive-se mais e melhor

Os avanços da Medicina e as medidas preventivas trazem uma nova perspectiva no enfrentamento do câncer e um novo alento diante das estatísticas sobre a progressão da doença. Dados do Inca apontam um crescimento de 625 mil novos casos para cada ano do triênio 2020-2022.

No campo diagnóstico, a identificação precoce da presença de tumores no organismo, aliada às novas técnicas, possibilita aos indivíduos uma maior sobrevida, melhor qualidade de vida e índices de cura consideráveis.

O câncer de próstata, o segundo que mais atinge os homens, se diagnosticado em sua fase inicial, tem chance de cura que varia de 70% a 90%. No caso do câncer de colo de útero, esse índice pode chegar de 80% a 90%.

Em caso de estágio avançado, a abordagem múltipla do tratamento, associada às diversas modalidades terapêuticas, costuma gerar melhores resultados de eficácia, amenizando dores, efeitos colaterais e proporcionando mais tempo de vida ao indivíduo.

“Tanto para o prognóstico quanto para o rastreamento e tratamento, as novas técnicas terapêuticas revolucionaram o exercício da oncologia”, disse Palladino.

HÁBITOS QUE AJUDAM NA PREVENÇÃO DO CÂNCER
* Realizar exames preventivos
* Alimentar-se saudavelmente
* Praticar exercícios físicos
* Não fumar
* Manter o peso corporal adequado
* Não ingerir bebidas alcoólicas
* Evitar alimentos processados
* Não se expor a agentes cancerígenos

Novo sentido para a vida

Nos homens, o câncer colorretal é o terceiro mais frequente. Trata-se de uma doença silenciosa que, geralmente, se manifesta no estágio avançado. Os sintomas mais frequentes são a presença de sangue nas evacuações, cólicas e inchaço abdominal, fadiga, perda de peso e anemia crônica.

Sebastião Inácio Ferlian, 68, aposentado, é o primeiro da família a enfrentar um câncer colorretal, um diagnóstico que o surpreendeu, pois sempre manteve uma rotina saudável e fazia os exames preventivos.

“Em 2015, vivi uma reviravolta, um grande susto, pois ninguém espera ouvir do médico esse resultado. Foi em uma colonoscopia que se identificou os cistos cancerígenos”, disse.

Após o tratamento no Hospital de Amor, em Barretos (SP), ele está curado e continua o acompanhamento médico. “Fiquei perplexo porque fazia exames de rotina. Identificar o nódulo no início me ajudou a não ter complicações”, disse, destacando, ainda, a importância do autocuidado.

Segunda chance

Natalie Nanine venceu o câncer (foto: Arquivo pessoal)

Nas mulheres, o câncer de colo de útero é o terceiro tumor maligno mais comum e o quarto maior causador de óbitos no Brasil.

Natalie Nanine, 40, é jornalista. Aos 34 anos, recebeu o diagnóstico deste tipo de câncer. “Estava no melhor momento da minha carreira e da vida pessoal. Luiza, minha filha, tinha acabado de completar 2 aninhos. Ao receber a notícia do meu ginecologista, chorei muito e, ao mesmo tempo, surgiu uma força interior que me fez forte para prosseguir”, afirmou.

Natalie recordou ainda que, no seu caso, a análise patológica indicou um câncer não causado por HPV, em grau avançado e prestes a se espalhar na corrente sanguínea. “Se tivesse demorado mais 15 dias, tinha dado metástase”, disse.

“Quando descobri o câncer, fazia dez meses que eu tinha realizado o exame preventivo e estava tudo certo. Sim, ele cresceu, em silenciosos dez meses, o tamanho de um limão, para fora do colo do útero. Fiz a cirurgia e 30 sessões de radioterapia”, recordou.

Espiritualidade

Para o Padre Paulo Aniceto Rodrigues, 55, religioso da Ordem dos Ministros dos Enfermos (Camilianos) e Capelão no São Camilo – IBCC Oncologia, é imensurável o papel da fé e da espiritualidade dos pacientes.

“Quando cultivamos a espiritualidade, melhoramos o bem-estar e, consequentemente, as respostas fisiológicas. É uma transformação física, mental e social. E, independentemente da religião, cultivar a espiritualidade interfere no intangível, ou seja, nas emoções”, disse.

Carlos Eduardo Paiva, oncologista clínico, PhD, pesquisador e vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação Acadêmico do Hospital de Amor, destacou que, diante do diagnóstico inicial, durante tratamentos invasivos, no diagnóstico de recidivas e cuidados paliativos, a espiritualidade é uma das formas mais comuns de enfrentar esses momentos.

“Em estudo que realizamos no Hospital de Amor com amostra de mais de mil participantes, identificamos que mais de 99,6% dos pacientes usam a espiritualidade e a religiosidade para suporte durante o tratamento do câncer, e 98,3% dos profissionais da Saúde que cuidam dos pacientes concordam que o suporte religioso e espiritual é necessário nesta etapa da vida”, comentou.

Natalie disse que foi um momento de reaproximação de Deus. “Fez-me ter a certeza de que eu nunca estive só, Ele sempre esteve comigo! A fé foi toda a minha sustentação! Aliás, continua sendo!”, contou.

Intercessores

O SÃO PAULO apresenta dois santos que viveram a experiência do câncer, ambos religiosos e considerados intercessores dos pacientes oncológicos.

Santo Ezequiel Moreno

Nasceu em 1848, em Alfaro, Espanha. É descendente de família humilde e profundamente católica. Religioso e missionário dos Agostinianos Recoletos, em 1905, foi diagnosticado com um câncer agressivo no nariz.

Sua fama de santidade espalhou-se rapidamente e muitas curas, especialmente de câncer, foram atribuídas à sua intercessão.

Foi beatificado em 1975, por São Paulo VI e, em 1992, canonizado por São João Paulo II. Sua festa litúrgica é celebrada em 19 de agosto.

São Peregrino Laziosi

São Peregrino nasceu em 1265, na cidade de Forli, norte da Itália. Aos 30 anos, ingressou na Ordem dos Servos de Maria. Por três décadas, cumpriu uma dura penitência: ficava sempre em pé, nunca se sentava. Aos 60 anos, devido a isso, tinha uma doença cancerosa na perna direita, causada por varizes.

Amputar a perna era a opção. Na noite anterior à cirurgia, prostrou-se diante do Crucificado, e, em êxtase, viu Jesus descer da cruz, tocar sua ferida e foi curado.

Foi canonizado, em 1726, pelo Papa Bento XII, e sua festa é celebrada em 4 de maio.

Em São Paulo, no bairro do Ipiranga, na Paróquia Nossa Senhora das Dores, há uma relíquia do manto de São Peregrino Laziosi para veneração dos fiéis.

“São Peregrino é modelo de santidade, testemunho de fé e conversão que move os pacientes oncológicos a dirigir a ele seu olhar, clamando pela cura de suas enfermidades”, disse o Frei Fábio Luiz Ribeiro, da Ordem dos Servos de Maria, Pároco. No dia 4 de cada mês, são presididas três missas com pedidos especiais pela intercessão do Santo.

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