Papa Francisco canoniza Scalabrini e Zatti, santos que admira pessoalmente

Vatican Media

Dois novos santos que caminharam juntos dos que mais precisavam e transformaram a realidade ao seu redor, Dom Giovanni Battista Scalabrini e Artêmides Zatti foram canonizados pelo Papa Francisco no domingo, 9, em cerimônia na Praça de São Pedro. Além da atenção aos mais frágeis, eles têm em comum a admiração pessoal do Papa Francisco, que decidiu canonizá-los apenas cinco meses após a última celebração do tipo.

Santo Scalabrini representa o papel central que a questão migratória tem para o pontificado de Francisco, cuja primeira viagem, vale lembrar, foi a Lampedusa, ilha siciliana onde milhares de refugiados chegam todos os anos, buscando mudar de vida na Europa. O Mar Mediterrâneo, diz Francisco, é “o maior cemitério do mundo”, pois nele estão sepultados homens, mulheres e crianças que partiram fugindo da guerra, da pobreza, da perseguição, muitos vítimas do tráfico humano, e que não conseguiram chegar.

São Artêmides Zatti, ele próprio migrante italiano na Argentina, marcou a história de Jorge Mario Bergoglio quando ainda era superior provincial dos jesuítas, nos anos 1970, em Buenos Aires, capital do país. Ele define Zatti como um “intercessor pelas vocações”, pois à época rezou a ele pedindo mais vocações à Companhia de Jesus e as viu “aumentarem sensivelmente”. O próprio Bergoglio, quando jovem, se aproximou dos salesianos para discernir sua vocação, e estes o encaminharam aos jesuítas.

Zatti, que quase morreu de tuberculose aos 20 anos, prometeu cuidar dos pobres e doentes pelo resto da vida, como leigo professor salesiano – modelo que também representa muito a visão de Igreja do Papa Francisco, “aberta a todos, inclusiva”, próxima dos que mais sofrem e atenta a curar as feridas concretas e espirituais do mundo.

No caso de Scalabrini, dada a sua fama de santidade e as obras realizadas em favor dos migrantes, o Papa abriu mão da comprovação de um segundo milagre para canonizá-lo: foi um homem que viu o sofrimento dos outros diante de si e não ficou inerte. “Ele olhava além, para a frente, na direção de um mundo e de uma Igreja sem barreiras, sem estrangeiros”, disse o Pontífice, na missa de canonização.

SANTOS DOS DIAS DE HOJE

Em entrevista conjunta ao O SÃO PAULO e à Rede Vida de Televisão, o Reitor-Mor da Congregação Salesiana, Padre Ángel Fernández Artime, disse que a  santidade de Zatti é muito representativa para o mundo de hoje. “É um irmão consagrado, salesiano de Dom Bosco, mas um leigo que entendeu a vida como um servir aos outros, viver com grande simplicidade, fazer caridade muito cotidiana”, declarou no dia da canonização. “Os jovens precisam ter testemunhos de pessoas que possam comunicar o Evangelho com a vida.”

Já a Irmã Neusa de Fátima Mariano, Superiora Geral das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu, as “scalabrinianas”, manifestou grande alegria pela canonização de Scalabrini. Embora elas esperassem que isso um dia fosse acontecer, aguardavam o segundo milagre, como é previsto pelas normas da Igreja. A dispensa concedida pelo Papa foi uma surpresa, disse ela.

“Ao proclamar a santidade de Scalabrini, Papa Francisco mostra que a santidade está no modelo, no que se vive no dia a dia”, afirmou. “Scalabrini era um homem muito espiritual, contemplava muito a Encarnação, mas também tinha forte a dimensão da ação. Scalabrini é um santo que passou, inclusive, pelas terras do Brasil. É um santo que representa aqueles que estão nas margens”, declarou Irmã Neusa.

‘EXCLUSÃO DOS MIGRANTES É CRIMINOSA’

“Hoje, no dia em que Scalabrini se torna santo, quero pensar nos migrantes”, declarou o Papa, em sua homilia no domingo, 9, quando canonizou dois novos santos. “É escandalosa a exclusão dos migrantes! Aliás, a exclusão dos migrantes é criminosa, os faz morrer diante de nós”, acrescentou.

Ele se refere à situação dramática dos milhões de pessoas que migram, não só na Europa e nos Estados Unidos, onde pouco se faz para corrigi-lo, mas também os migrantes internos na África, na Ásia e na América Latina.

“A exclusão dos migrantes é nojenta, é pecaminosa, é criminosa: não abrir as portas a quem precisa”, lamentou o Santo Padre. “E aqueles que conseguem entrar, os recebemos como irmãos ou os exploramos?”

Em sua pregação, o Papa refletiu sobre “caminhar juntos” e “agradecer”, e disse que os dois novos Santos, Scalabrini e Zatti, souberam fazer isso em suas vidas. A Igreja deve estar próxima dos “leprosos de hoje”, disse ele, e cada um de nós temos que lembrar que somos “doentes do coração, pecadores, todos necessitados da misericórdia do Pai”. 

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