‘Que aquela que esmagou a cabeça da serpente enganadora toque o coração e a consciência de quem deve decidir pelo fim da guerra’

Afirmou o Cardeal Scherer, na missa pela paz celebrada na Catedral da Sé, em comunhão com o ato de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria

Dom Odilo Scherer faz ato de consagração da Rússia e da Ucrânia diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Pontualmente ao meio-dia, da sexta-feira, 25, o som dos sinos da Catedral Metropolitana de São Paulo ecoou pelo centro da capital paulista, assim como os sinos de diversas igrejas da cidade. Dessa vez, além de recordar o anúncio do anjo à Virgem Maria, manifestavam o pedido pela paz, especialmente na Ucrânia.

Logo em seguida, o Cardeal Odilo Pedro Scherer Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu a missa da solenidade litúrgica da Anunciação do Senhor e pela Paz no país do leste europeu, que há 31 dias sofre com a ofensiva armada russa. Essa celebração aconteceu em unidade com iniciativas realizadas em todo mundo, a pedido do Papa Francisco que, na Basílica de São Pedro, presidiu uma celebração penitencial na qual pediu o fim da guerra e consagrou a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria.

Participaram da missa na Sé representantes da comunidade católica ucraniana na cidade, entre os quais o cônsul honorário da Ucrânia, Jorge Rybka. Também estiveram representantes diplomáticos de outros países, como Alemanha e Polônia, além de autoridades civis.

Entre os sacerdotes concelebrantes, estavam dois da Paróquia Católica de Rito Ucraniano Imaculada Conceição, Padre Josafat Vozivoda e Padre Estefano Elton Wonsik. Durante a missa, foram entoados cantos e invocações tradicionais da liturgia ucraniana bizantina, assim como o Evangelho foi proclamado em ucraniano e português.

‘Nada se ganha com a guerra’

Na homilia, Dom Odilo enfatizou que a humanidade vive algo inimaginável em pleno século XXI. “A virada do milênio parecia trazer uma era de paz para a humanidade, uma era de reconciliação. Mas não foi o que aconteceu. Os muitos apelos de perdão, reconciliação, purificação da memória… vemos que não aconteceu. Continuamos em guerra”, disse, recordando os vários conflitos ocorridos desde o início do século.

“Como tinha razão o Papa Paulo VI, ao falar, com voz embargada, no plenário da ONU, no fim dos anos 1960: ‘Nada se ganha com a guerra. Tudo se pode perder com a guerra’. O resultado das guerras sempre será destruição, dor, sofrimento e morte, sobretudo, para os civis e as populações indefesas. Cada Guerra deixa um saldo pesado de mortos e ódio, que podem perdurar por muito tempo”, acrescentou o Cardeal Scherer.

O Purpurado acentuou que, apesar dos esforços diplomáticos, não foi possível deter o avanço das armas. “Poderia ter havido uma solução diversa para as pendências que levaram a decidir pela guerra? Certamente. O diálogo e uma arbitragem honesta, aceita pelas partes poderiam solucionar tantas questões mal resolvidas entre os povos e países”, enfatizou Dom Odilo, salientando que o recurso à força bruta é sempre uma derrota para a racionalidade, um retrocesso para a humanidade.

Cônsul honorário da Ucrânia, Jorge Rybka (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Conflito entre irmãos

“Em mais de uma ocasião, o Papa Francisco levantou a voz e denunciou: ‘Esta guerra é insensata’, ‘uma loucura’, ‘em nome de Deus, parem com a guerra!’… E o Pontífice recordou serem dois países com base cristã… É irmão agredindo irmão de novo. Caim segue matando Abel”, continuou o Arcebispo, que indagou: “Que motivos razoáveis poderiam justificar essa loucura?”.

Em seguida, Dom Odilo destacou que, nessa data, os cristãos celebram a anunciação do anjo a Maria de que ela seria mãe do Salvador, o Príncipe da Paz. “O filho de Deus entrou em nossa história e se fez um de nós para reunir, na família de irmãos, a humanidade dispersa em lutas e guerras. A humanidade ainda não aprendeu a lição e não acolheu esta mensagem”, afirmou.

Rainha da Paz

O Cardeal Scherer frisou que a consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria significa que ambos os países devem viver como povos irmãos e em paz. “Não pode ser outro o propósito de quem crê em Deus. Que os povos todos vivam em paz, justiça e fraternidade”, disse.

Recordando que os cristãos invocam Nossa Senhora como Rainha da Paz, o Arcebispo pediu que: “Aquela que esmagou a cabeça da serpente enganadora toque o coração e a consciência de quem deve decidir pelo fim da guerra”

Por fim, Dom Odilo exortou que a sexta-feira da Quaresma, dia dedicado à oração e à penitência pela conversão dos pecadores, seja marcado pela oração e penitência “em favor da conversão dos violentos e opressores do próximo”, além do firme repúdio à guerra.

“Manifestamos também nosso apoio e solidariedade ao povo ucraniano, em seu sofrimento e angústia, sem esquecer os outros povos que sofrem os efeitos de guerras ainda em andamento em vários países”, completou o Cardeal, invocando a proteção de Nossa Senhora pela paz na humanidade.

Sofrimento

Emocionado, o cônsul honorário da Ucrânia agradeceu a manifestação de solidariedade fraternidade da Igreja em São Paulo pela comunidade ucraniana. “É um momento muito difícil que a Ucrânia está passando. Mas é só pela fé em Cristo e em Maria que haverá solução. Os homens precisam ser iluminados e temos certeza de que Maria mostrará o caminho como sempre fez em nossas vidas”, disse Jorge Rybka.

“Vidas estão sendo ceifadas. Inocentes desarmados estão perdendo suas vidas”, manifestou o cônsul, enfatizando seu apelo pela ajuda da comunidade internacional. “Estamos em uma fase de ajuda humanitária na Ucrânia e fora dela”, acrescentou, concluindo: “Rogo a Deus por todos nós e que a paz venha o mais rápido possível”.

(Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Consagração

No fim da missa, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, o Cardeal Scherer realizou o ato de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, segundo o mesmo texto proferido pelo Papa Francisco em Roma, em união com bispos e sacerdotes do mundo inteiro.

“Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e consagramos ao vosso Imaculado Coração nós mesmos, a Igreja e a humanidade inteira, de modo especial a Rússia e a Ucrânia. Acolhei este nosso ato que realizamos com confiança e amor, fazei que cesse a guerra, providenciai ao mundo a paz. O sim que brotou do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da Paz; confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz. Assim a Vós consagramos o futuro da família humana inteira, as necessidades e os anseios dos povos, as angústias e as esperanças do mundo”, diz um trecho do texto.

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