Dom Cláudio acolheu a causa operária em meio à ditadura militar

Como Bispo de Santo André (SP), entre 1975 e 1996, Dom Cláudio Hummes acompanhou de perto a pujança do movimento operário no Brasil, incluindo a histórica greve geral dos metalúrgicos do ABC, deflagrada em março de 1979, com vistas a melhores condições de trabalho e com críticas ao regime militar no País. 

Foto: Memorial da Democracia

Em um daqueles longos dias, o então Bispo de Santo André foi convidado a uma reunião de negociação entre os operários e empresários do setor automobilístico. Ao chegar, recebeu o convite para sentar-se em posição central na mesa.

“O senhor está aqui como intermediador das negociações”, disse um dos empresários. 

“Vou sentar-me em outra cadeira. Não estou aqui como intermediador e sim como representante escolhido dos operários”, respondeu Dom Cláudio.

Nos três explosivos anos de mobilização operária, Dom Cláudio Hummes abriu as portas da Catedral de Santo André para assembleias, presidiu missas com a participação dos grevistas e posicionou-se corajosamente contra as demissões dos manifestantes.

“Ele vinha do Rio Grande do Sul, nunca havia tido contato com o mundo das fábricas. Aprendeu como o povo e durante toda a década de 1980 apoiou as greves e mobilizações operárias em São Bernardo do Campo, abrindo as portas da igreja para acolher os trabalhadores”, recordou, em entrevista ao O SÃO PAULO em abril de 1998, Valdemar Rossi, então coordenador da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo. 

Dom Cláudio Hummes foi assistente nacional da Pastoral Operária entre 1979 e 1990. Em 2009, em uma entrevista à jornalista Pina Baglioni, o Purpurado recordou aquele período em sua vida. 

“Foram anos apaixonantes: eu me dei conta de quem eram os pobres e os oprimidos. Os verdadeiros, em carne e osso. Algo que até ali, como professor de Filosofia, não era assim tão óbvio para mim. Em 1975, fui nomeado Bispo da Diocese de Santo André, uma grande região industrial nos arredores de São Paulo, com cerca de 250 mil metalúrgicos, por ser sede de multinacionais e empresas automobilísticas como a Volkswagen. O Brasil, naquele período, vivia sob a ditadura militar, e qualquer sinal de mobilização em defesa dos direitos dos trabalhadores era considerado subversivo e reprimido com violência”, recordou.

“Embora os militares proibissem manifestações públicas nas praças, nós abrimos as igrejas para hospedar as assembleias dos grevistas. Foi uma decisão sábia. Assim, foram evitadas desordens e mortes nas ruas”, comentou na mesma entrevista.

(Texto produzido a partir de informações publicadas no jornal O SÃO PAULO, em abril de 1998) 

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