El Niño: este fenômeno tem relação com o aquecimento global?

Unsplash/Maxim Tolchinskiy

Em agosto de 2023, um grupo de pesquisadores norte-americanos e australianos publicou na revista científica Nature o resultado de um estudo que buscou indicar os possíveis impactos do aquecimento global para o prolongamento do El Niño.

Os cientistas reconstruíram a linha do tempo da atmosfera da Terra entre os anos 1200 e 2000 para checar se com a revolução industrial – quando a humanidade passou a emitir mais gases de efeito estufa – houve mudanças na dinâmica da corrente de Walker (o ciclo de circulação de ar e de água no Pacífico equatorial que influencia a ocorrência do El Niño).

A conclusão a que chegaram é que após a revolução industrial os intervalos entre o El Niño e a La Niña ficaram mais curtos e os fenômenos se estenderam por mais tempo, com duração de dois a três anos. A pesquisa, porém, não concluiu se os fenômenos ficaram mais intensos em razão do aquecimento global. Assim, por ora, não é possível afirmar que as mudanças climáticas interfiram na intensidade do El Niño, ainda que se reflitam em sua periodicidade.

“Essas relações de causa-efeito são raras em ciência, pois os fenômenos são mais complexos do que parecem. Há componentes geológicos que fazem com que tenhamos maiores ou menores taxas de efeito estufa, por exemplo: o vulcanismo. Porém, como não tivemos nenhum efeito geológico extraordinário que justificasse os mais recentes aumentos de gases de efeito estufa, a explicação está na queima de combustíveis fósseis e, também, no desmatamento. Certamente são práticas que potencializam os efeitos do El Niño”, avalia Rodrigo Lilla Manzione, especialista em gestão de recursos hídricos e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Em novembro de 2023, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicou em seu relatório sobre o Estado do Clima Global que os efeitos do atual El Niño, que se desenvolveu rapidamente já em seus primeiros meses, associados ao aumento recorde na emissões de gases de efeito estufa, precisam ser vistos com mais atenção pelas autoridades. Dados dos dez primeiros meses do ano passado, mostram que 2023 foi o ano mais quente da história. A média global de temperatura ficou cerca de 1,4ºC acima da linha de base pré-industrial de 1850-1900. 

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