El Niño: Planejar ações deve estar no radar das autoridades, avalia especialista em clima

Previsões de chuvas (à esquerda) e de temperatura (à direita) para o período de janeiro a março de 2024.
Mapas gerados pelo conjunto de modelos do CPTEC/Inpe e Funceme.

A projeção de impactos mais intensos do fenômeno El Niño nos primeiros meses de 2024 coincide com a época de intensas chuvas em diferentes regiões do Brasil. Diante deste cenário, os governos estaduais têm anunciado medidas de monitoramento das áreas de risco e de alertas à população para enchentes e desmoronamentos. De igual modo, o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastre (Cenad) já iniciou um trabalho de monitoramento ininterrupto e de planejamento de resposta a situações críticas, tendo em vista o início do período chuvoso na região Sudeste e no estado da Bahia, além da possibilidade de chuvas intensas na região Sul.

Na avaliação de Rodrigo Lilla Manzione, especialista em gestão de recursos hídricos e professor da Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o devido planejamento das diferentes esferas de poder é indispensável para se evitar catástrofes.

“Com ou sem El Niño, nós temos chuvas pesadas de janeiro a março. Assim, os prefeitos e demais gestores públicos de áreas de risco nas quais uma chuva intensa e mais prolongada pode causar danos, já precisam saber onde ela pode ocorrer. Só que no Brasil, infelizmente, temos a cultura da resposta, não a de se precaver. Hoje, a questão não é mais se vai acontecer uma tragédia, mas onde vai acontecer. O quando nós já sabemos: é no verão. Onde? No Vale do Itajaí? No litoral do Paraná? No litoral de São Paulo? No Rio de Janeiro? No Espírito Santo? Na Bahia? Também em nível federal e estadual é preciso que se esteja de prontidão”, destacou ao O SÃO PAULO.

Manzione lembrou, ainda, que as cidades precisam estar mais bem preparadas para os eventos adversos decorrentes do clima. Como exemplo, ele citou o vendaval que assolou a capital paulista e outros municípios no começo de novembro do ano passado.

“No caso dessa ventania em São Paulo, a resposta do poder público foi muito lenta. São Paulo precisa se tornar uma cidade mais resiliente, ou seja, estar mais apta para conviver com os impactos. Neste episódio, houve a interrupção do fornecimento de energia elétrica. Muito se falou em enterrar os fios da cidade, mas para isso seria preciso fechar avenidas, levaria muito tempo, não parece ser a melhor solução em curto prazo. Talvez sirva para médio e longo prazo. Em curto prazo, melhor será ter mais equipes de poda de árvores, por exemplo, pois com menos galhos, as árvores causarão menos problemas. É preciso, portanto, ter um plano de resposta, saber o que vai ser feito como prioridade: cuidar dos pobres? cuidar de quem vive perto dos rios? Ou seja, saber por onde começar. A capacidade de resposta do poder público precisa ser mais rápida”, avaliou.

Manzione comentou, ainda, que o forte corredor de vento formado em São Paulo naqueles dias de novembro não é algo comum. “Como isso aconteceu em um momento com o El Niño instalado, pode haver certa correlação. Porém, isso demanda mais estudos ainda. O vento circula por diferença de potencial. Quando os centros de baixa e alta pressão estão equilibrados, o ar não muda, mas se há o desequilíbrio de um lado, como se dá no El Niño, pode haver essas mudanças”, explicou, destacando que este fenômeno climático pode se tornar “combustível para esses eventos, porque quando certos fatores climáticos se combinam, como pressão, temperatura e umidade, o resultado é o surgimento de eventos mais poderosos”.

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