O lançamento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera por meio dos transportes tem potencializado os impactos do efeito estufa. Diante disso, em diferentes partes do mundo há maior procura por opções de veículos elétricos.
Os primeiros veículos elétricos surgiram por volta de 1880, mas sua produção em série é bem mais recente, iniciada por fabricantes japonesas, norte-americanas e europeias, bem como pela China, que inseriu o carro elétrico em sua estratégia nacional em meados dos anos 2000, sendo atualmente o país em que há o maior mercado de elétricos: apenas em 2022, foram vendidas 4,6 milhões de unidades.
No Brasil, os modelos 100% elétricos atingiram a marca de 19.310 unidades vendidas em 2023, alta de 56% em relação a 2022. Atualmente, já são 30 mil destes veículos em circulação.
EM NÚMEROS
Também nos transportes públicos tem havido avanços. Segundo um estudo do Grupo C40 de Grandes Cidades para a Liderança Climática (C40 Cities), o número de ônibus elétricos aumentará mais de sete vezes em 32 cidades latino-americanas até 2030, superando a marca de 25 mil veículos. A eletromobilidade tem ganhado espaço em grandes cidades: Shenzhen, na China, que possui mais de 17 milhões de habitantes, é a primeira do mundo a contar com 100% de seus ônibus elétricos. Já na Noruega, no ano de 2020, 54,3% dos carros vendidos eram elétricos. A nação escandinava tem como meta até 2025 uma frota com “zero emissão”.
O C40 Cities projeta que Brasil, Colômbia, Chile e México sejam os mercados mais importantes no segmento nos próximos anos, chegando ao patamar de 30% das suas frotas com veículos elétricos até 2030.
O Monitoramento da E-Bus Radar (www.ebusradar.org), com dados de dezembro de 2023, indica que na América Latina estão em circulação 5.084 ônibus elétricos, os quais colaboram para que 500,50 kt de CO2 deixem de poluir a atmosfera a cada ano. No Brasil, há 444 ônibus elétricos, gerando um impacto positivo de 53,00 kt de CO2 a menos ao ano.
SAI O DIESEL E ENTRA A ENERGIA LIMPA
A cidade de São Paulo tem substituído gradualmente sua frota de ônibus a diesel pelos movidos a energia limpa. Em 2023, a Prefeitura adquiriu 50 ônibus elétricos a bateria (foto). Atualmente, dos 11.950 ônibus em operação na cidade, 285 veículos são elétricos (a maior quantidade em todo o Brasil), dos quais 84 movidos a bateria e 201 os tradicionais trólebus.
Na capital paulista, o processo de eletrificação da frota começou em 2019, com a aquisição de 19 ônibus a bateria. “A SPTrans continua trabalhando com todos os envolvidos para a conclusão da implantação da infraestrutura necessária, que permitirá o carregamento de grandes frotas simultaneamente nas garagens de ônibus”, afirma, em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura. Para 2024, a meta é substituir 20% da frota de ônibus por modelos movidos a energia limpa.
A autarquia municipal destaca, ainda, que cada veículo movido a tração elétrica deixa de emitir anualmente, em média, 0,24 toneladas de NOx (óxidos de nitrogênio); 0,002 toneladas de MP (material particulado); 106 toneladas de CO2 (dióxido de carbono).
A reportagem percorreu um trajeto em um ônibus 100% elétrico e conversou com passageiros. “O ônibus é bem silencioso, mas, o mais importante, é que reduz a poluição no meio ambiente. Espero que aumente a nossa responsabilidade individual e coletiva com a natureza”, comentou a diarista Ana Maria da Costa Salles.
Já a universitária Eduarda Diniz, 20, observou que “não adianta só renovar a frota com ônibus elétricos. É preciso buscar alternativas para que o sistema seja viável e funcione como um todo”.
Veículos elétricos e a sustentabilidade nos transportes
Do total de carros de passeio comercializados no Brasil no ano passado, cerca de 5% eram os chamados eletrificados – elétricos híbridos (HEV), elétricos híbridos plug-in (PHEV) e os 100% elétricos, conforme dados das associações do setor.
Em entrevista ao O SÃO PAULO, Rogério Markiewicz, presidente da Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei), listou três prioridades para a mobilidade sustentável, para além da comercialização de veículos elétricos: “Proporcionar cidades mais compactas que incentivem as pessoas a reduzir o uso de carros; ter sistemas de transporte coletivo eficientes que levem as pessoas aos seus destinos com qualidade na prestação dos serviços; e uma infraestrutura segura para pedestres e ciclistas”, mencionou.
Markiewicz alertou que o mundo se encaminha para uma frota de mais de 2 bilhões de carros a combustão até 2050. “As cidades ainda precisam ressignificar a mobilidade urbana com planejamento e estratégia, pensando na mobilidade limpa (com frotas de ônibus elétricos, metrôs e trens), pensar em mobilidade ativa aos ciclistas e pedestres”, enfatizou o presidente da Abravei, associação certificada em Carbono (CO2) Neutro.