
Você já parou para pensar em quanto tempo um resíduo descartável desaparece do meio ambiente? Um papel jogado no chão, por exemplo, pode levar até seis meses para se decompor; um plástico, meio milênio; o alumínio, cerca de 200 anos; o ferro, até uma década; e o vidro pode atravessar até 4 mil anos sem se desfazer.
Quando ganha destino certo, porém, o que parecia lixo vira oportunidade de preservação ambiental e de geração de renda para muitas famílias.
Ganhos para a natureza e para 380 cooperados
As cooperativas de reciclagem são peças-chave na gestão de resíduos em São Paulo. Além de ajudarem na redução da quantidade de lixo que vai para os aterros sanitários, elas transformam toneladas de materiais descartados em oportunidade de emprego, renda e inclusão para populações historicamente marginalizadas.
Este é o caso da Coopercaps, fundada há 22 anos. “O objetivo inicial era substituir o trabalho de tração humana por condições mais dignas. Com o tempo, a cooperativa ampliou sua atuação e hoje emprega 380 cooperados em cinco centrais de triagem espalhadas pela cidade: a matriz, situada em Interlagos; as duas centrais mecanizadas, Carolina Maria de Jesus e Ponte Pequena; e em Paraisópolis e Jurubatuba”, explicou Telines Basílio do Nascimento Júnior, presidente da Coopercaps.
Carioca, como é mais conhecido, disse que a capital paulista ainda convive com inúmeros pontos de descarte irregular: “Próximo ao Autódromo de Interlagos, por exemplo, entulho e resíduos de construção civil se acumulam. A Prefeitura intensificou a fiscalização e já apreendeu caminhões que despejavam resíduos de forma clandestina, mas a prática continua e exige conscientização e engajamento da população”.
Ele reforça que o descarte incorreto traz inúmeros riscos: “Quando você não faz o descarte adequado, contribui para enchentes, entupimento de bueiros, degradação do meio ambiente, criação de pontos viciados de lixo e proliferação de roedores, gerando vetores de doenças”.
Na zona Sul, a coleta seletiva de recicláveis é feita pela concessionária Ecourbis, que encaminha os resíduos para cooperativas credenciadas. Em 2024, as cinco unidades da Coopercaps processaram 23 mil toneladas de recicláveis, cerca de 2 mil toneladas por mês.
Trabalho e construção de sonhos

Kátia Regiane da Cruz, 45, moradora da Vila da Paz, na zona Sul, encontrou na Coopercaps uma oportunidade para mudar de vida. Para ela, o trabalho com a reciclagem tornou-se a base para a realização de sonhos que antes pareciam distantes.
“Com o trabalho na cooperativa, realizei meu maior sonho: minha casa própria. Criei meus filhos com o que, para muitos, é lixo, mas para minha família é fonte de sustento. Meu filho mais velho e minha nora também trabalham na cooperativa e já estão levantando a casa deles”, relatou Kátia.
“Aqui na Coopercaps, recebemos de tudo um pouco: madeira, plásticos, móveis velhos, colchões, tecidos, entulho, espelhos, entre outros. Muita coisa que iria parar no aterro ganha o destino certo com a gente, ajudando a cidade e o meio ambiente”, assegurou a cooperada.