No Rio de Janeiro, tecnologia via satélite auxilia no combate a vazamentos

Monitoramento via satélite da concessionária Águas do Rio; e serviços de manutenção da rede
Fotos: Águas do Rio/Divulgação

Combater um índice de perdas de água de 65%, resultado tanto de um sistema de distribuição antigo – que em alguns lugares mantém estruturas do século XIX – quanto dos furtos de água é o desafio que se impõe à concessionária Águas do Rio, que opera desde 2021 na cidade do Rio de Janeiro.

Para isso, a empresa tem buscado alternativas tecnológicas, com destaque para o uso de um satélite israelense que originalmente foi projetado para encontrar água em Marte, mas hoje é apontado para grandes cidades do planeta e auxilia no combate aos vazamentos ocultos, aqueles que ocorrem abaixo do asfalto.

“Este satélite tem um sensor de radar e emite uma onda para a Terra, devolvendo uma imagem cheia de pixels. Essa imagem é mandada para um algoritmo de inteligência artificial, capaz de enxergar a rede de abastecimento enterrada em até 3 metros de profundidade. Depois, a tecnologia calcula se o padrão de determinado pixel coincide com o de água tratada com presença de cloro, indicando, assim, pontos de interesse, onde possivelmente haverá um vazamento”, detalha, ao O SÃO PAULO, Guilherme Giacometi, engenheiro sanitarista e gerente de perdas da Águas do Rio, uma empresa do grupo Aegea, responsável pelo saneamento básico em mais de 500 cidades do Brasil.

Na prática, é como se o satélite fizesse um raio-x em toda a cidade e encontrasse os pontos da rede de distribuição nos quais pode haver vazamentos. Inicialmente, esse escaneamento foi aplicado em 600 quilômetros da rede, alcançando uma efetividade superior a 90%. Para 2024, a projeção é de aumentar a inspeção para 13 mil quilômetros.

Uma vez identificada uma área com potencial vazamento, o passo seguinte é o envio das equipes para confirmar a ocorrência, com o uso de geofones de alta sensibilidade que ajudam a encontrar o local preciso do vazamento para que se proceda ao posterior reparo.

Segundo Giacometi, outras tecnologias estão sendo testadas, como o uso de um correlacionador de ruídos encaixado a cada cem metros nos hidrômetros dos clientes, o qual avalia se um ruído é típico de um vazamento na rede de distribuição; a adoção de hidrômetros inteligentes com telemetria embarcada; e uma tecnologia com uma haste acoplada a um telefone celular, que é conectada a cada hidrômetro no momento da medição do consumo, a qual tem a capacidade de indicar vazamentos em um ramal de água.

O monitoramento das condições físicas e de operação das redes é uma das preocupações da Águas do Rio, incluindo o sensoriamento, por meio de inteligência artificial, dos dados de volume ideal para uma determinada área atendida, a fim de que se alcance a pressão média estabelecida em cerca de 20 mca (1 mca equivale à pressão que uma quantidade da água faz a 1 metro de altura), uma vez que valores superiores a estes podem ocasionar vazamentos.

Outra frente de ação é o combate às irregularidades de consumo. “Cabe a nós garantir uma prestação de serviço plena, adequada e dentro dos padrões de eficiência operacional, mas a contrapartida da população é de ter um consumo regular. Já há estudos que mostram que quem faz ‘gato’ consome de duas vezes e meia a quatro vezes mais do que um consumidor regular”, destaca Giacometti. Até 2026, a meta da concessionária é que o índice de perdas chegue a 35%; e até 2030 a 25%.

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