Leia a seguir uma síntese das reflexões centrais dos três capítulos do texto-base da CF 2025
CAPÍTULO 1: VER-OUVIR

Vatican Media/Arquivo
A presença de Deus em todas as formas de vida
O capítulo 1 é iniciado com a menção ao Cântico das Criaturas, composto por São Francisco de Assis, em 1625, “um verdadeiro hino de louvor ao Criador pela perfeita harmonia das criaturas. Fazemos dele, hoje, o nosso hino de louvor. Acolhemos toda a realidade como dom: a beleza e fecundidade de nossas terras, a riqueza da humanidade que se expressa nas pessoas, famílias, povos e culturas (Documento de Aparecida 6)” (CF 17).
Após citar as belezas naturais do Brasil, incluindo sua rica e variada vegetação e biomas, e mencionar a miscigenação da população (CF 18-22), o texto-base enfatiza que cada criatura expressa na sua singularidade a ternura amorosa de Deus Criador, Redentor e Santificador (CF 23); e que cabe ao homem “reconhecer a presença de Deus em todas as formas de vida existentes, como nas plantas, nos animais e nos seres humanos (Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola235), porque a criação continua sendo o cenário visível da manifestação da bondade de Deus” (CF 24) e ser guardião da obra do Criador (CF 25).
A crise socioambiental
Complexa, com muitas faces e envolvendo fatores históricos, sociais, econômicos e políticos (CF 26), a crise socioambiental têm raízes nas “ações humanas desencadeadas com o industrialismo capitalista mundial, desde o século XVIII (CF 27). No Brasil, alimentada por um modelo econômico dominado pela exploração predatória, pela concentração de terra e riquezas, tal crise afeta especialmente os mais vulnerabilizados, como os povos indígenas, comunidades tradicionais e populações de baixa renda (CF 28-29).
Outro aspecto ressaltado é que as elevadas emissões de gases de efeito estufa têm resultado no aquecimento global, tendo entre suas consequências os eventos climáticos extremos, como as ondas de calor, enchentes e furacões cada vez mais recorrentes e destrutivos. As mudanças climáticas também ameaçam a paz e levam ao deslocamento em massa de pessoas pobres (CF 30-34).“[Estamos] diante de um dilema ético: ou mudamos nossa maneira de ser e agir no mundo, reeducando nossos hábitos e costumes na relação com toda a criação, cumprindo nossa missão de cultivá-la e guardá-la (Gn 2,15); ou deixaremos para as gerações futuras uma Casa Comum insustentável, contrariando os desígnios do Deus Criador” (CF 38).
Entre os desafios mencionados para a superação dessa crise estão a existência de “grupos que promovem ideologicamente a negação das mudanças climáticas (Laudate Deum – LD 5-10)” (CF 41) e a vigência de um paradigma tecnocrático: “Na exortação apostólica Laudate Deum, o paradigma tecnocrático, para o qual tudo se resolve com tecnologia e economia (LD 20; LS 105), é considerado pelo Papa como uma ideologia desordenada e destrutiva, que visa a ‘aumentar, para além de toda a imaginação, o poder do homem’ (LD 22)” (CF 44).
A Ecologia Integral
“A Ecologia Integral supõe uma inter-relação entre o Criador e toda a criação, na qual o ser humano deveria se destacar como protagonista no cuidado, pois coube a ele a missão de guardião responsável da Casa Comum. Em uma cosmovisão integradora, não se separa o ambiental, o antropológico e o teológico” (CF 46).
Na encíclica Laudato si’ (LS), o Papa Francisco “promove uma visão ecológica ampla, enfatizando a importância de uma Ecologia Integral. Reconhece a conexão entre a preocupação com a natureza, a justiça social, o engajamento na sociedade e a paz interior (LS 10). Isso nos leva a entender a inseparável relação entre as questões ambientais, sociais e antropológicas, sendo que a solução para os problemas socioambientais requer uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e cuidar da natureza (LS 139)” (CF 50).
A conversão ecológica
O primeiro capítulo é concluído com reflexões sobre o necessário processo de conversão ecológica, o qual “supõe uma mudança do nosso modo de ser, pensar e agir como pessoas e comunidade. Buscamos um modo de viver mais integrativo entre Deus, os seres humanos e toda a criação, no qual a cultura do amor e da paz tenha a primazia. Os apelos para uma conversão ecológica propostos pelo Papa Francisco na Laudato si’ permitem resgatar uma Ecologia Integral, unindo fiéis e não fiéis na missão da Casa Comum, construindo grandes e pequenas alianças, reforçando laços da Amizade Social” (CF 56).
CAPÍTULO 2: ILUMINAR-DISCERNIR

Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
O texto-base apresenta quatro abordagens para refletir sobra a Ecologia Integral e a superação da crise socioambiental: a releitura de alguns textos bíblicos em perspectiva ecológica; a Ecologia Integral na ótica dos Santos Padres; os ensinamentos do Magistério e da Doutrina Social a este respeito; e elementos das ciências e da sabedoria dos povos.
A perspectiva ecológica nas Sagradas Escrituras
Deus concede que os seres humanos dominem os demais seres, mas não se trata de exercer um poder sem limites (CF 66). Sua missão consiste em “descobrir a beleza, a bondade, a singularidade, a diversidade e a agradabilidade de todos os seres. Sendo assim, qualquer tipo de destruição da obra criacional torna-se algo contrário à ótica bíblica da criação”. (CF 69).
O texto-base também recorda passagens bíblicas, em especial do livro do Êxodo, que indicam “o quanto a natureza, à luz da Palavra de Deus, reage às decisões equivocadas do ser humano” (CF 72); e outras de como os povos, ao longo da história, buscaram proteger a fauna e a flora em suas práticas e legislações (CF 75-77).
Também se recorda que Jesus, por muitas vezes, anunciou a Boa-Nova do Reino de Deus valendo-se de conotações socioambientais, como nas parábolas do Semeador (Mc 4,1-20); do crescimento da semente (Mc 4,26-29); da secura de uma figueira que não produz os frutos esperados (Mt 21,18-22); e nas narrativas da Última Ceia (CF 80-85).
Destaca-se, ainda, o Espírito de Deus na Criação: “Por sua divina Ruah [Espírito], Deus não apenas cria, mas sustenta todas as coisas e se faz presente a toda a criação, do microcosmo humano ao macrocosmo sideral, como dizem os livros Sapienciais” (CF 91).
O texto-base recorda que os Santos Padres, primeiros escritores da Era Cristã, demonstram um profundo respeito pela natureza e consciência da interpendência entre os seres humanos e as demais criaturas: são mencionados alguns escritos de Clemente, o quarto bispo de Roma no 1º século cristão; Clemente de Alexandria, séculos II e III – “Protréptico”; Santo Ambrósio – “A obras dos seis dias”; Santo Agostinho – “De Genesi adversus Manichaeos”; e São Basílio Magno – obra “Aos Jovens” (CF 95-102).
No magistério dos papas
A preocupação sobre qual mundo se deixará às futuras gerações mediante a crescente crise ecológica é uma questão já vista na encíclica Populorum Progressio, em 1967, na qual São Paulo VI afirma que o mal do mundo “reside menos na dilapidação dos recursos ou no seu apoderamento, por parte de poucos, do que na falta de fraternidade entre os homens e os povos” (CF 104). Também na carta apostólica Octogesima Adveniens, ele afirma que exploração irracional da natureza acabaria não só por destruí-la, mas levaria o próprio ser humano a ser vítima da degradação (CF 106).
Muitos também foram os escritos e discursos de São João Paulo II em favor do que hoje se chama de Ecologia Integral, de modo especial na encíclica Centesimus Annus, em 1991, na qual apresentou três princípios fundamentais: a anterioridade teológica – a terra tem uma fisionomia própria e um destino anterior, dado por Deus; a dignidade criacional – o senhorio sobre todas as coisas criadas só pode ser vivido quando o ser humano percebe a dignidade da criação e sua própria finalidade; e a relação ontológica – ao destruir a natureza, o ser humano manifesta desconhecimento de sua própria e profunda verdade, de sua relação essencial com os outros e com Deus, rejeitando, assim, colaborar com Deus na obra da criação. (CF 109).
Já o Papa Bento XVI, na enciclica Caritas in veritate, em 2009, aponta que a natureza inclui todos os aspectos da vida, como o meio ambiente, a família, a sexualidade e a cultura. “Na mesma encíclica, afirma que ‘a natureza está à nossa disposição, não como ‘um monte de lixo espalhado por acaso’, mas como um dom do Criador que traçou os seus ordenamentos intrínsecos dos quais o homem há de tirar as devidas orientações para a ‘guardar e cultivar’ (CV 48)” (CF 110).
O Papa Francisco, por sua vez, identificou que as soluções para a crise ecológica “exigem um diálogo que envolve toda a Igreja e além dela” (CF 112), e em 2015 lançou a encíclica Laudato si’, na qual expressa “a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descarte e a proposta de um novo estilo de vida’ (LS 16)” (CF 116).
“O Papa Francisco nos indica que interpretações equivocadas do mandato divino ao ser humano alimentaram ao longo dos últimos séculos um ‘antropocentrismo desordenado’ (LS 68; 69; 115; 118; 119; 122). A palavra antropocentrismo significa supor que o ser humano (anthropos, em grego) está no centro absoluto da criação. Nesta cosmovisão, é como se a natureza fosse apenas o cenário onde a história – referente apenas aos seres humanos e à sua salvação – se desenvolvesse. Foi alimentado por esta concepção que o paradigma tecnocrático, voltado à dominação da natureza por meio da técnica, produziu, especialmente desde o início da modernidade, um poder crescente de domínio e, também, de destruição” (CF 119).
A luz da ciência e da sabedoria dos povos
“As ciências da Terra têm muito a nos ensinar sobre o que está acontecendo no nosso planeta. Da mesma forma, os povos que conseguem viver em harmonia com o ambiente são fonte de inspiração e companheiros de nossa caminhada rumo à Ecologia Integral” (CF 125).
Desse modo, a sabedoria dos povos originários deve ser considerada ao se pensar na preservação da vida e na simbiose com a natureza (CF 129-130); e olhar para a Terra pelo prisma da teoria científica ajuda a entender melhor que “nesta Casa Comum tudo está interligado por múltiplos laços, fluxos e redes de vida” (CF 131).
CAPÍTULO 3 – AGIR-PROPOR

Diante da constatação de que há uma crise socioambiental, o Texto-base lista algumas alternativas para superá-la, por meio “de um comprometido processo de conversão e medidas sustentáveis para manter o mínimo equilíbrio de nossa Casa Comum” (CF 136).
Olhando para a realidade brasileira, as alternativas propostas passam pela transição energética, substituindo os combustíveis fósseis pela energia solar e eólica, desde que tal processo seja feito de maneira justa, respeitando e ouvindo as comunidades locais. Há menção também a ações nos setores agrícola e florestal, como a redução do desmatamento e da degradação das florestas, e a restauração ecológica (CF 137). Menciona-se, ainda, a necessidade de avanços em questões como o tratamento do lixo e combate ao desperdício de alimentos, a valorização de modelos alternativos de produção, o combate ao consumismo, melhorias em saneamento básico, políticas públicas voltadas à prevenção na saúde e o enfrentamento das mudanças climáticas, além de investimentos em educação ecológica e ambiental (CF 138).
Também é apontada a necessidade de se buscar uma outra modalidade de progresso e desenvolvimento: “Nosso atual modelo econômico-tecnológico se concretiza em um ritmo de produção que a Casa Comum não dá conta de acompanhar” (CF 139).
“Em meio às maravilhas da criação de Deus, estamos vivenciando o decênio decisivo em que as nossas ações serão cruciais para a defesa da vida em todas as suas expressões. Não podemos mais adiar ou continuar indiferentes. O tempo de agir é agora. Como filhos e filhas de Deus, somos responsáveis por proteger e preservar a obra de Suas mãos” (CF 150).
Ações concretas nos âmbitos pessoal, comunitário e social
Entre as ações de âmbito pessoal com vistas a realizar a Ecologia Integral, a partir de uma conversão ecológica, sugere-se que cada pessoa adote um estilo de vida afastado do consumismo e mais focado em valores duradouros e definitivos, optando por formas de transporte mais sustentáveis, pelo menor uso de descartáveis, menor geração e correta destinação de resíduos, combate ao desperdício de água, e que inclua na rotina a oração e a contemplação para refletir sobre a relação com Deus, com os outros e como toda a criação (CF 156).
Quanto às atitudes de âmbito comunitário, algumas das recomendações envolvem tratar a Ecologia Integral como uma questão transversal nos planos diocesanos, paroquiais e comunitários de evangelização e pastoral; organizar atividades que incluam a temática da CF 2025 na catequese, grupo de jovens e nas diversas instâncias pastorais; organizar retiros, caminhadas e via-sacras ecológicas; e realizar reflexões e ações de Ecologia Integral nas instituições católicas de ensino (CF 157-159).
Há também uma lista de iniciativas sociais e no âmbito da boa política, entre as quais realizar audiências públicas e debates sobre as causas da grave crise climática, a urgência da alteração dos modos de vida e o reconhecimento da natureza como sujeito de direitos; identificar e apoiar publicamente as comunidades atingidas por catástrofes naturais; e fomentar iniciativas de formação contínua sobre os biomas e os ecossistemas locais (CF 160).
O ENVOLVIMENTO DE TODA A IGREJA NA CF
Trata-se de uma Campanha, ou seja, de um conjunto de reflexões e ações que deve envolver a Igreja toda, transbordando para o todo da sociedade. É uma ação pastoral orgânica da Igreja! Um esforço de evangelização e educação, que busca gerar convicções e atitudes evangélicas.
(Texto-base da Campanha da Fraternidade 2025, ponto 171)
CONHEÇA OS OUTROS SUBSÍDIOS DA CF 2025
- Círculos Bíblicos (composto de cinco encontros)
- Via-sacra e Via Lucis (com a meditação das 14 estações para a Quaresma e o Tempo Pascal)
- Retiro Popular Quaresmal
- Terço da Ecologia Integral
- Adoração Eucarística e Celebração Penitencial
- Celebração Ecumênica (para a reunião com duas ou mais comunidades cristãs distintas)
- CF na Catequese com adolescentes e os Passos da Paixão
- Jovens na CF (inclui leitura orante da Palavra e rodas de conversa)
- CF na Escola – Educação Infantil (com atividades lúdicas e um projeto pedagógico pastoral)
- CF na Escola – Fundamental 1º a 5º ano; Fundamental 6º ao 9º ano; Ensino Médio (3 subsídios com planos de aula sobre a CF 2025 para uso nas aulas de ensino religioso)
- CF na Universidade
- CF na Família e Via-Sacra (composto de seis encontros)
- Fraternidade Viva (resumo simples e ilustrado sobre as reflexões da CF 2025)
- Economia de Francisco e Clara e Ecologia Integral (série de reflexões)
- Ecologia Integral e as dádivas da Amazônia (série de reflexões)
- Manual (conjunto de todos os subsídios da Campanha em um único volume)
Mais detalhes no site da Edições CNBB: https://edicoescnbb.com.br
(Edição: Daniel Gomes/O SÃO PAULO)