Beatificadas 10 freiras mortas pelo exército soviético

Paschalis Jahn e 9 companheiras tiveram reconhecido in odium fidei seu martírio ocorrido na Polônia em 1945, durante a invasão do exército soviético, por defender sua castidade. O Papa no Angelus: que o seu exemplo nos ajude a todos. “Eu pertenço a Jesus, é meu esposo”, as últimas palavras da Irmã Paschalis antes de morrer, lembradas em Breslau, na homilia da cerimônia presidida pelo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.

No Angelus, o Papa Francisco lembrou que foram beatificadas em Breslau, Polônia, Irmã Pasqualina Jahn e nove consorelas mártires da Congregação das Irmãs de Santa Isabel, mortas no final da Segunda Guerra Mundial em um contexto hostil à fé cristã. “Estas dez religiosas, mesmo conscientes do perigo que corriam, permaneceram ao lado dos idosos e dos doentes de quem cuidavam. Que o seu exemplo de fidelidade a Cristo ajude a todos nós, especialmente aos cristãos perseguidos em várias partes do mundo, a testemunhar o Evangelho com coragem”.

As novas beatas

Maria Paschalis Jahn, com o coração cheio de amor; Melusja Rybka, mulher forte; Edelburgis Kubitzki, exemplo de pobreza evangélica; Adela Schramm, virgem prudente; Acutina Goldberg, amante da justiça; Adelheidis Töpfer, modelo de fé; Felicitas Ellmerer, obediente até o fim; Sabina Thienel, com um olhar confiante; Rosaria Schilling, fortificada na penitência; Sapientia Heymann, virgem sábia.

O cardeal Marcello Semeraro, no final da homilia da Missa de Beatificação em Wrocław, Polônia, pronuncia lentamente os nomes das religiosas da Congregação de Santa Isabel, um após o outro, articulando-os bem, para dar-lhes a justa importância que a frase “e companheiras” não dá. E o faz, pedindo sua intercessão, pedindo ao Senhor, por meio delas, que não falte ao mundo o respeito pela feminilidade, a igualdade entre homens e mulheres na dignidade e a tutela da maternidade: “Como não ver nestas mártires a dignidade da mulher, que no desenho da Redenção tem o maior reconhecimento em Maria Santíssima?”.

Como as 10 virgens sábias em São Mateus

O purpurado compara essas dez freiras mártires às dez virgens sábias da parábola do Evangelho de Mateus que foram ao encontro do Senhor com lâmpadas acesas. “Em troca de sua fidelidade e perseverança até o derramamento de sangue – explica -, Deus lhes deu uma coroa de glória, pela qual também nós, hoje, nos alegramos e festejamos. Suas almas, de fato, estão nas mãos de Deus”.

No relato do Evangelho, cinco das virgens tinham consigo a necessária reserva de azeite; as outras cinco, por outro lado, mostraram-se insensatas, porque o óleo acabou. Na interpretação de São Basílio Magno, o azeite representa estar pronto a cada dia e a cada hora para cumprir plenamente a vontade de Deus. “Ao contrário das virgens da parábola – continua o prefeito – elas, todas as dez, com caráter e traços próprios a cada uma, abraçaram as atrocidades dos sofrimentos, a brutalidade das humilhações e foram ao encontro da morte. Agora que sua santidade é reconhecida pela Igreja, elas nos são dadas como instrumentos de intercessão junto a Deus”.

Amor fiel ao extremo

Ao ler as histórias de Paschalis e das outras irmãs, logo fica claro que o dom de si para essas religiosas não consistiu apenas no sacrifício extremo em defesa da consagração a Cristo, mas começou muito antes no serviço: nas cozinhas, como enfermeiras, algumas no cuidado das crianças, outras no cuidado das irmãs idosas.

“Foi uma caridade tão desinteressada e heroica que as caracterizava mesmo quando sua fuga teria evitado a elas maiores riscos – diz o cardeal Semeraro – quando a entrada dos militares russos em Wrocław era iminente, muitos civis se viram diante da escolha entre fugir ou ficar, seja para se salvar fugindo ou para enfrentar um sério perigo permanecendo.

As Irmãs Elizabetanas decidiram ficar nos povoados invadidos pelos soviéticos”. Das cerca de 4.500 freiras que faziam parte da Congregação após a Segunda Guerra Mundial, cerca de cem morreram em diferentes circunstâncias, algumas das quais por martírio. A guerra acabou, mas lentamente o Exército Vermelho avançou levando consigo o ódio à religião: capelas e igrejas católicas foram profanadas, sacerdotes torturados e brutalmente mortos, freiras estupradas e atrozmente mortas. O estupro havia se tornado uma arma de humilhação, ainda mais feroz se a vítima fosse uma freira consagrada ao Senhor.

“Só de Jesus”

As dez novas beatas foram todas mortos por soldados russos entre fevereiro e maio de 1945 na Baixa Silésia, nos territórios entre os rios Oder e Nysa. A história de Paschalis Jahn é apenas uma entre dez. Quando o Exército avançou em direção a Nysa, Pascalis e outra irmã, a mais nova do convento, foram mandadas embora, enquanto as outras permaneceram ao lado dos doentes e idosos que não podiam se mexer. Depois de tanto vaguear, chegaram a Sobotin, na República Checa, onde corajosamente se colocaram ao serviço da paróquia. Ali, em 11 de maio de 1945, Paschalis foi surpreendida por um soldado russo que, ameaçando-a com uma arma, ordenou que ela o acompanhasse. A freira respondeu que não o faria, que estava usando o hábito sagrado, portanto, era apenas de Jesus, somente Ele. Então o soldado, na tentativa de assustá-la e fazê-la ceder, disparou um tiro que perfurou o teto.  Em resposta, a freira ajoelhou-se e começou a rezar: “Seja feita a tua vontade”. O segundo tiro de pistola atingiu seu coração. “O seu doar-se com o coração indiviso a Deus e ao próximo encontrou nessas situações sua máxima expressão”, destaca Semeraro.

Hoje como ontem, a guerra causa mártires

“A riqueza espiritual das novas beatas nos provoca e edifica – continua o cardeal – o seu martírio nos faz pensar nas circunstâncias que vivemos hoje na Europa do século XXI. São circunstâncias em que, diante de cenas de violência perpetrada, crueldade amarga, ódio injustificado, sentimos a necessidade de alimentar o desejo de paz e de construção de harmonia com gestos de caridade, abertura, acolhimento e hospitalidade”.

Não se pode deixar de pensar na Ucrânia e na necessidade de paz do mundo, uma paz que “se constrói com gestos concretos de caridade desinteressada, servida com dedicação e fidelidade quando somos chamados a cuidar dos outros. É esta a resposta concreta que, ao lado da oração, cada um de nós pode oferecer diante de tanta brutalidade, barbárie e injustiça que estamos testemunhando”, conclui o prefeito, citando as palavras de agradecimento do Papa Francisco ao povo polonês que primeiro cuidou dos refugiados ucranianos, imitando o exemplo dos novos dez beatos que a partir de hoje tornam ainda mais orgulhosa a Igreja na Polônia.

Fonte: Vatican News

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