Brasileiros são a maioria no 13° Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora

Evento realizado entre os dias 15 e 20, em Turim, na Itália, reuniu membros do movimento católico que congrega casais que buscam no Sacramento do Matrimônio um ideal de vivência cristã

Casais do Brasil durante o 13º Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora, em Turim
Arquivo Pessoal

Mais de 7,5 mil pessoas observaram atentamente a procissão formada pelas 86 bandeiras de diferentes países no corredor da Inalpi Arena, em Turim, na Itália, durante a abertura do 13° Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora (ENS), no dia 15. A primeira de todas foi a bandeira do Brasil, empunhada pelo casal Sílvia e Francisco Pontes, de Sorocaba (SP), representando os 2,2 mil brasileiros que formaram a maior delegação no evento.

Com o tema “Vamos com o coração ardente”, inspirado no relato dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35), o encontro internacional, concluído no dia 20, incluiu momentos de oração e celebração da Eucaristia, palestras, apresentações artísticas e testemunhos. Entre os conferencistas estiveram o Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, que falou sobre “Eucaristia: Fonte e Cume da Vida Cristã”; e a teóloga brasileira Maria Clara Lucchetti, que palestrou sobre “Escutar a Palavra para iluminar o caminho”.

HISTÓRIA E ESTRUTURA DAS EQUIPES

As Equipes de Nossa Senhora são um movimento católico de espiritualidade conjugal, constituído por casais que buscam no sacramento do Matrimônio um ideal de vivência cristã. Reconhecido pela Santa Sé como uma associação privada internacional de fiéis de direito pontifício, o movimento teve início na França em 1938. Animados pelo Padre Henry Caffarel (1903-1996), atualmente em processo de beatificação, alguns casais passaram a se reunir mensalmente para aprofundar o significado e as riquezas do Matrimônio à luz da fé.

Em 1950, o movimento chegou ao Brasil, trazido por Nancy e Pedro Moncau, um casal de São Paulo. Com o apoio do Padre Oscar Melanson, houve a consolidação e ampliação das ENS em todo o País.

Hoje, as ENS estão em mais de 90 países nos cinco continentes, com cerca de 71 mil casais em 14 mil equipes. No Brasil, país com a maior presença do movimento, há 3.430 equipes, totalizando 43,8 mil membros. “A Equipe é uma escola de busca de santidade, valorizando o sacramento do Matrimônio. Uma família valorizada gera frutos parao mundo todo”, explica Frei André Luís Tavares, conselheiro religioso da Região São Paulo II das ENS.

CASAIS FORTES, FAMÍLIAS FORTES

Segundo dados de Registro Civil, divulgados em março, no ano de 2022, foram registrados 970 mil casamentos ante 420 mil divórcios (judiciais e extrajudiciais). Na prática, a cada dois casamentos realizados, um divórcio ocorreu no mesmo intervalo de tempo.

“Vivemos uma época em que o sacramento do Matrimônio está sendo muito atacado. As Equipes de Nossa Senhora são uma resposta a esse ataque. Elas fazem o casal entender a força mística do casamento. E se o casal está forte, a família está forte”, indica Luiz Virgílio Manente, casado com Ana Cecília Manente há 26 anos.

O casal tem cinco filhos e, desde o início, conduz sua experiência familiar pautada nas diretrizes das Equipes de Nossa Senhora. “Logo que nos casamos, queríamos formar um grupo de oração para casais. Pedimos orientação ao Padre Manuel Correia e ele nos indicou as Equipes de Nossa Senhora, um movimento internacional que ajudava os casais a se santificarem pelo sacramento do Matrimônio”, recorda Ana Cecília. “Começamos com seis casais, dos quais cinco estão juntos até hoje, 26 anos depois”, comemora.

“O que mais gostamos nas Equipes de Nossa Senhora é que é um movimento de experiências práticas, não são teorias de livros e apostilas. São casais se ajudando na vivência da santidade no Matrimônio. Isso é riquíssimo!”, ressalta Virgílio.

‘O DEVER DE SENTAR-SE’

Na espiritualidade das Equipes de Nossa Senhora, existem os “Pontos Concretos de Esforço”, recomendações para serem aplicadas diariamente na vida conjugal e familiar dos membros. Uma delas é o “Dever de Sentar-se”, que propõe ao casal um diálogo na presença de Deus.

“Mesmo que os casais convivam, isso não garante que eles se comuniquem verdadeiramente. Então, uma vez por mês, o casal se encontra diante de Deus em um momento especial de revisão de vida, para falar a verdade e compartilhar assuntos profundos”, explica Frei André.

A “Leitura Diária da Palavra de Deus” e a “Meditação e Oração Familiar” são recomendações diárias, pelas quais o casal lê trechos bíblicos, medita e reza, permitindo que a Palavra de Deus se re- flita em seu cotidiano.

A “Regra de Vida” é um conjunto de ações que o casal estabelece entre si, para que um possa ajudar concretamente o outro no crescimento espiritual e humano.

Há uma quinta recomendação: o “Retiro Anual”, tempo privilegiado para parar, escutar, rezar e renovar a vida espiritual. “Viver um retiro em casal é aceitar ser tocado por Deus. É aprender a encontrar o outro em um amor que nada guarda para si mesmo”, escreveu o Padre Caffarel, na Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora, em fevereiro de 1960.

ALIANÇAS, PEIXE E VIDA NOVA

A logomarca da ENS é formada por um peixe entrelaçado por duas alianças. O peixe é o emblema dos primeiros cristãos e as alianças, o sinal do amor e da fidelidade conjugal. Juntos, simbolizam a união de Deus com o seu povo, na qual o Matrimônio cristão encontra seu fundamento.

E foi sobre esse fundamento que o casal Luciana e Célio Tabith construiu sua experiência familiar. Luciana sempre fez parte da Igreja Católica, mas Célio, embora tivesse raízes na fé, acabou se afastando da Igreja, depois que sua mãe começou um caminho no espiritismo. Foi durante os encontros das Equipes que ele despertou para uma vida firme e comprometida com Deus.

“Começamos no Movimento logo que casamos e isso foi muito importante para o crescimento da minha fé e para essa retomada à Igreja Católica, de maneira firme e participativa”, testemunha Célio.

“Foi a vivência nas ENS que nos fez entender que existe uma espiritualidade conjugal, que precisávamos buscar a santidade um do outro e formar uma base sólida para nossa família neste casamento a três: Célio, eu e Jesus”, diz Luciana.

O Encontro Internacional, que já passou por Lourdes (1954, 1965, 1988), Roma (1959, 1970, 1976, 1982) e Fátima (1994), confirmou o sentido de pertença dos casais Manente e Tabith, que participaram da edição em Turim.

“A convivência com casais do mundo todo traz uma troca muito importante. Percebemos que nossa experiência aqui é a mesma que pessoas do outro lado do mundo também vivenciam, desde as dificuldades diárias até as alegrias. Esse é um sinal claro da unidade da Igreja”, confirmam Luciana e Célio Tabith.

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