Celam orienta sobre riscos e potencialidades pastorais no uso da Inteligência Artificial

Arte a partir das imagens publicadas na cartilha

Um subsídio para oferecer a toda a Igreja, e particularmente aos bispos da América Latina e do Caribe, “uma visão ampla e diversificada sobre Inteligência Artificial e seus impactos nas esferas social, econômica, política, ética, bioética, ecológica, teológica e pastoral…, encorajando a comunidade cristã a assumir, com responsabilidade e esperança, os desafios que a IA coloca atualmente”. 

Estes são os propósitos do documento “La Inteligencia Artificial: Una mirada pastoral desde América Latina y el Caribe” (A Inteligência Artificial: uma perspectiva pastoral a partir da América Latina e do Caribe), lançado neste mês pelo Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam). 

NOÇÕES GERAIS DA IA E HISTÓRICO 

O subsídio está estruturado em cinco capítulos. O primeiro trata sobre os conceitos e distinções da IA, suas categorias e as tecnologias generativas, explicando que, por meio da combinação de algoritmos complexos, essa tecnologia “pode executar de maneira eficiente operações tradicionalmente consideradas possíveis apenas para a mente humana, como percepção, compreensão e geração de linguagem, aprendizagem, tomada de decisão, criatividade e comunicação com outros agentes ‘inteligentes’ para a resolução de problemas específicos”. 

O capítulo 2 apresenta as origens da IA e como foi impulsionada pelos avanços da lógica matemática e simbólica, da computação e dos estudos sobre o funcionamento das redes neurais. 

ASPECTOS ÉTICOS, ANTROPOLÓGICOS E TEOLÓGICOS 

Estes são os enfoques do capítulo 3, no qual é apresentado o que diz o Magistério da Igreja sobre IA, especialmente no pontificado de Francisco e no documento Antiqua et Nova, publicado neste ano pelos Dicastérios para a Doutrina da Fé e para a Cultura e a Educação, com reflexões teológicas e éticas acerca da Inteligência Artificial. 

“A IA é um projeto sociotecnológico do qual a Igreja não pode ficar alheia. Ela faz parte do ‘vasto Areópago da cultura, da experimentação científica, das relações internacionais’, que a comunidade eclesial é chamada a evangelizar, pois o ‘anúncio do Evangelho não pode prescindir da cultura atual’”, lê-se no documento. 

APLICAÇÕES E IMPACTOS 

Uma ampla análise sobre os efeitos da IA na economia, política, direitos humanos, democracia participativa, saúde, comunicação social, educação, trabalho e ecologia é apresentada no capítulo 4, no qual se lembra que embora na América Latina e Caribe persistam as desigualdades sociais e tecnológicas, a IA, em meio à rica diversidade cultural e à criatividade dos povos, “pode ser integrada de forma colaborativa ao conhecimento local, ajudando a impulsionar a transformação social, contribuindo para o respeito e a promoção da dignidade humana e do bem comum”. 

IA: RECOMENDAÇÕES E PROPOSTAS PASTORAIS 

O capítulo final do documento traz propostas práticas para que a comunidade eclesial acompanhe os avanços da IA e deles faça bom uso. Veja a seguir uma síntese feita pelo O SÃO PAULO sobre essas recomendações. 

Para ter a IA em seu cotidiano, a Igreja latino-americana e caribenha deve: 

  • Estar presente, com sua reflexão e ação, nos ambientes digitais; 
  • Considerar que a IA é aceitável se promove o respeito pela dignidade da pessoa, mas inaceitável se sua implementação a diminui; 
  • Evitar tanto a tecnofolia (ideia de que só serão modernos e socialmente aceitos aqueles que se renderem acriticamente às novas tecnologias) quanto a tecnofobia (pensamento de que as novas tecnologias só trarão catástrofes); 
  • Discernir o papel da IA nas atividades referentes à formação, elaboração teológica e catequese: “O uso da IA não deve substituir o encontro do fiel com a Palavra de Deus”; 
  • Antes de preparar conteúdos com a ajuda da IA, os ministros ordenados, catequistas e líderes religiosos precisam fazer um discernimento profundo do que vão tratar; 
  • Ter atenção ao uso indevido das informações processadas pela IA, e, na medida do possível, empenhar-se para evitar ataques ‘hackers’; bem como garantir que tais recursos tecnológicos estejam alinhados aos valores cristãos e não sejam utilizados para discriminação, injustiça ou sofrimento; 
  • Entender melhor, com o uso da IA, as necessidades e preferências dos fiéis, o que permitirá uma personalização mais eficaz das práticas pastorais, e o aumento de participação nas atividades comunitárias; 
  • Usar as ferramentas de IA para superar as barreiras linguísticas e tornar a mensagem cristã mais acessível, alcançando pessoas com deficiência, bem como os migrantes. 

Propostas práticas para os bispos no continente: 

  • Promover a sensibilização e formação sobre a IA para os leigos, religiosos consagrados, seminaristas e clero, tratando de seus desafios éticos e pastorais; bem como realizar eventos para discutir as implicações da IA na vida cristã, no cuidado pastoral e no mundo contemporâneo; além de produzir materiais para as famílias sobre como educar seus filhos na cultura digital; e identificar e buscar superar as limitações que a IA generativa tem de formação sobre teologia e pastoral, para que os resultados que ela gere sejam relevantes e contextualizados; 
  • Estabelecer uma comissão sobre IA e ética digital em cada conferência episcopal e nas dioceses; e elaborar diretrizes específicas para o uso ético da IA nas ações pastorais; 
  • Articular uma rede de animação e acompanhamento de agentes pastorais que atuam em plataformas digitais e com IA, para que o ambiente digital seja um lugar profético de missão e anúncio; e coordenar iniciativas conjuntas com pesquisadores e empreendedores do setor de tecnologia da informação, para que adotem práticas comerciais éticas no desenvolvimento e implementação de IA, guiados pelos ensinamentos sociais da Igreja; 
  • Fomentar em escolas, colégios e universidades católicas estudos e investigações sobre a IA e suas implicações éticas e sociais; 
  • Aproveitar o potencial da IA para facilitar o anúncio do Evangelho e a proximidade, também aos idosos e aos analfabetos digitais; além de usar os sistemas de IA adaptados às necessidades locais para garantir que a catequese e o cuidado pastoral chegue a todos. 

ACESSE A ÍNTEGRA DO DOCUMENTO 

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