A espiritualidade cristã sempre foi marcada pela santificação do tempo. Desde a influência da tradição judaica de entoar salmos e preces ao longo do dia, são muitas as práticas de oração que sinalizam a presença de Deus durante a jornada cotidiana. Uma das mais populares é a oração do Angelus.
Essa oração faz referência à anunciação do Senhor feita pelo Anjo Gabriel a Nossa Senhora. Por isso, seu nome de refere às primeiras palavras da oração em latim: “Angelus Domini nuntiávit Mariæ…” (O anjo do Senhor anunciou a Maria…), seguida da oração de três Ave-Marias.
Segundo antigo costume, o Angelus é recitado ao nascer do sol (6h), no auge do dia (12h), e ao pôr do sol (18h), como uma forma de honrar o mistério da encarnação do Salvador no seio da Virgem Maria no curso do dia.
No Tempo Pascal, essa saudação mariana é substituída pela antífona Regina Coeli (Rainha do Céu), por meio da qual se recorda o mistério da ressureição do Senhor ao saudar a Virgem Maria.
SAUDAÇÃO DO ANJO
O relato mais difundido sobre a origem da oração do Angelus atribui sua autoria ao Papa Urbano II (1042-1099). Há também versões de que a prática teria nascido na Alemanha no início do século XIII, baseada em expressões marianas escritas nos sinos das igrejas. Outros, ainda, atribuem ao Papa Gregório IX, por volta de 1241.
O certo é que a primeira notícia concreta sobre a difusão do Angelus remonta a 1269, período em que São Boaventura foi Superior-Geral dos franciscanos. Durante o capítulo geral da Ordem dos Frades Menores, realizado em Pisa, na Itália, foi prescrito aos frades a saudação a Nossa Senhora todas as noites, com o som dos sinos e a recitação de algumas Ave-Marias, recordando o mistério da encarnação do Senhor.
A tradição de rezá-lo três vezes ao dia é atribuída a Luiz XI, rei da França, em 1472. Curiosamente, o Angelus do meio-dia, mais difundido por arcar a pausa no cansaço do dia para a elevação do pensamento à Mãe de Deus, foi o último a se popularizar entre os fiéis.
PAPAS
Foi o Papa Pio XII, em 1954, que inaugurou a tradição de saudar os fiéis da janela do Palácio Apostólico, dirigindo-lhes algumas palavras de fé, concluídas com a oração do Angelus e a bênção, o que foi seguido por seus sucessores, especialmente São João Paulo II, que constituiu, aos domingos, esse momento permanente de encontro com os fiéis de todo o mundo.
Na Exortação Apostólica Marialis cultus (1974), São Paulo VI motivou os cristãos a manterem vivo o costume de recitar o Angelus todos os dias.
O Pontífice ressaltou que a estrutura simples, o caráter bíblico, a origem histórica, “o ritmo quase litúrgico que santifica momentos diversos do dia, a abertura para o mistério pascal, em virtude da qual, ao mesmo tempo que comemoramos a Encarnação do Filho de Deus, pedimos para ser conduzidos, ‘pela sua paixão e morte na Cruz, a glória da ressurreição’, fazem com que ele, à distância de séculos, conserve inalterado o seu valor e intacto o seu frescor”.
RAINHA DO CÉU
A antífona Regina Coeli tem uma origem muito mais antiga. No ano de 590, Roma havia sido devastada pelo transbordamento do rio Tibre, que alagou toda a cidade, causando grandes danos e sobretudo, a fome. Quando as águas baixaram, os romanos foram atingidos por uma grande peste que causou muitas mortes.
Para implorar a Deus o fim da calamidade e a conversão dos pecadores, São Gregório Magno, pontífice na época, convocou a realização de uma procissão pelas ruas de Roma com todo o clero e fiéis, levando consigo um ícone da Virgem que Chora, que ficava na Igreja Ara Coeli (Altar do Céu) e, segundo uma tradição, teria sido pintado por São Lucas Evangelista.
Quando a multidão em procissão chegou à ponte que liga a cidade ao castelo erguido sobre o mausoléu do imperador Adriano, ouviu-se um coro entoar “Regina coeli, laetare, Alleluia!” (Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia!), ao qual São Gregório prontamente respondeu: “Ora pro nobis Deum, Alleluia!” (Rogai a Deus por nós, aleluia!).
TRADIÇÕES
A autoria do canto em meio à multidão é desconhecida. Com o passar dos anos, popularizou-se uma tradição que atribuiu o refrão aos anjos, assim como o fim daquela peste é atribuído à proteção de São Miguel Arcanjo. Tanto que o castelo diante do qual o episódio aconteceu passou a ser chamado de Castel Sant’Angelo e no alto de sua torre foi colocada uma grande imagem de São Miguel.
A partir daí, esse pequeno refrão foi se popularizando como uma antífona mariana pascal, sendo acrescidos outros versos e uma oração conclusiva, chegando à versão entoada atualmente.
Foi o Papa Bento XIV que, em 1742, estabeleceu que o Regina Coeli substituiria o Angelus desde o Domingo da Páscoa até Pentecostes. Ela também é entoada ao término da oração da noite do Ofício Divino (Completas), durante o Tempo Pascal.
Nessa antífona, é ressaltada a intrínseca relação entre o mistério da encarnação e da ressurreição de Jesus, ao recordar que aquele que Maria mereceu trazer eu seu ventre ressuscitou verdadeiramente, motivo esse de grande júbilo para todos os cristãos.
COMO REZAR
ANGELUS
O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
R: E ela concebeu do Espírito Santo.
Ave Maria…
Eis aqui a serva do Senhor.
R: Faça-se em mim segundo a vossa palavra.
Ave Maria…
E o Verbo se fez carne.
R: E habitou entre nós.
Ave Maria…
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Oremos:
Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações, para que, conhecendo, pela mensagem do Anjo, a encarnação do Cristo, vosso Filho, cheguemos, por sua paixão e cruz, à glória da ressurreição, pela intercessão da Virgem Maria. Pelo mesmo Cristo, Senhor Nosso. Amém.
Glória ao Pai… (Três vezes)
REGINA COELI
Rainha do Céu, alegrai-vos, Aleluia!
R: Porque Aquele que merecestes trazer em Vosso ventre, Aleluia!
Ressuscitou como disse, Aleluia!
R: Rogai por nós a Deus, Aleluia!
Exultai e alegrai-vos, ó Virgem Maria, Aleluia!
R. Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!
Oremos:
Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo com a Ressurreição do Vosso Filho Jesus Cristo, Senhor Nosso, concedei-nos, Vos suplicamos, que por sua Mãe, a Virgem Maria, alcancemos as alegrias da vida eterna. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém.
Glória ao Pai… (Três vezes).
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