COP26: governos e empresas se comprometem a reduzir o uso de combustíveis fósseis nos transportes

A 26ª. Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP26, entra na reta final, em Glasgow, na Escócia. Na quarta-feira, 10, houve sinalizações das propostas conclusivas e ocorreram debates sobre meios de transportes mais sustentáveis. 

Meios de transporte

Fonte: ONU News/Laura Quiñones

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Ipcc, os meios de transportes geram quase um quarto de todas as emissões de gás de efeito estufa.  

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, este é um setor quase inteiramente dependente de combustíveis fósseis. A quantidade de emissões mais que dobrou desde a década de 1970. E os veículos são responsáveis por cerca de 80% desse aumento.  

Em entrevista à ONU News, Peri Dias, representante da ONG 350.org, explicou que a implementação de ações sustentáveis vai além da mudança da fonte energética. 

“A gente está falando de mais e melhores linhas de ônibus, linhas de trem e metrô nas cidades, a gente está falando de transporte entre as cidades mais eficientes, por meio de trilhos, por exemplo. A gente está falando de estímulo ao uso de bicicleta, a caminhada, ao deslocamento a pé. Tudo isso é fundamental e envolve uma discussão e ações que não dizem respeito somente à tecnologia, mas que dizem respeito ao tipo de cidade que a gente quer, o tipo de sociedade que a gente quer construir”.

Fim dos combustíveis fósseis 

Nos debates da quarta-feira,  se apontou que veículos elétricos, navios de transporte que usam apenas combustíveis sustentáveis e aviões que voam com hidrogênio verde podem sair do universo da ficção em breve, já que muitos governos e empresas relataram estar investindo para que se tornem realidade. 

Mais de 100 governos nacionais, cidades, estados e grandes empresas assinaram a Declaração de Glasgow sobre Carros e Ônibus de Emissão Zero. O texto prevê encerrar a venda de motores de combustão interna até 2035 nos principais mercados e em 2040 em todo o mundo. Pelo menos 13 nações também se comprometeram a acabar com a venda de veículos pesados movidos a combustíveis fósseis até 2040. 

Esforços locais também estão em andamento, como em cidades latino-americanas, incluindo Bogotá, na Colômbia, Cuenca, no Equador, e Salvador, no Brasil, com o objetivo de zerar a emissão da frota do transporte público até 2035.

Transporte marítimo mais verde 

No setor de transporte marítimo, 200 empresas de toda a cadeia de valor se comprometeram a dimensionar e comercializar navios e combustíveis com emissão zero até 2030. Eles também pediram aos governos que implementem os regulamentos e a infraestrutura necessária para permitir uma transição justa até 2050. 

Enquanto isso, 19 países assinaram a Declaração de Clydebank para apoiar o estabelecimento de rotas marítimas de livres de emissões. Isso significa criar pelo menos seis corredores de emissão zero até meados desta década e os demais em operação até 2030. 

“Existem cerca de 50 mil navios mercantes no mundo, então é uma grande tarefa, e acho que diferentes partes do transporte marítimo devem se movimentar em ritmos diferentes. Portanto, ter o compromisso da Declaração de Clydebank para rotas verdes permite que os pioneiros experimentem e provem a tecnologia e, em seguida, reduzam os custos, criem a política, habilitem os ecossistemas que são necessários e, então, outros podem aprender com isso e então seguir”, afirmou a representante da ONU para Mudança Climática, Katharine Palmer, em entrevista à ONU News

Esses “corredores verdes” significam que os navios que transportam mercadorias em todo o mundo viajariam sem usar combustíveis de hidrocarbonetos e, em vez disso, usariam combustíveis derivados de hidrogênio verde, gerado por energia renovável, eletricidade e outras opções sustentáveis. 

Nove grandes marcas, incluindo Amazon, Ikea, Michelin, Unilever e Patagonia anunciaram que até 2040, planejam transferir 100% de seu frete marítimo para navios movidos a carbono zero. 

O desafio da aviação 

A indústria de aviação e grandes clientes corporativos também anunciaram uma atualização de sua Coalizão “Clean Skies for Tomorrow” (“Céus Azuis para o Amanhã”, em tradução livre), cuja missão é acelerar a adesão de combustíveis sustentáveis na aviação. Até agora, 80 signatários se comprometeram a aumentar o uso de combustível verde para 10% da demanda global até 2030. 

Os “combustíveis verdes” são produzidos a partir de matérias-primas sustentáveis, como óleo de cozinha, óleo de palma e resíduos sólidos e são muito semelhantes em química ao combustível fóssil tradicionalmente usado na aviação. 

Se alcançado, isso reduzirá as emissões de dióxido de carbono em 60 milhões de toneladas por ano e proporcionará cerca de 300 mil empregos. 

Sobre a energia solar ou elétrica, chefe de aviação do Fórum Econômico Mundial, Lauren Uppink, afirma que essas fontes de energia podem ser utilizadas em voos curtos no futuro. Além disso, os primeiros aviões elétricos e movidos a hidrogênio possivelmente começarão a ser implantados em 2030.

Indicativos do texto final

Ainda na quarta-feira, foi divulgada a proposta inicial de decisão da COP26 pela Presidência. Pela primeira vez, o texto incluiu a menção de ‘perdas e danos’ e um apelo pelo fim dos subsídios aos combustíveis fósseis. 

O esboço do documento ainda pede aos países que reforcem seus compromissos nacionais e apresentem suas estratégias para a eliminar as emissões de gases de efeito estufa, permitindo manter a meta de aquecimento em até 1.5 grau Celsius. 

A jornalistas, o presidente da COP26, Alok Sharma, disse que o texto mudará e evoluirá à medida que os países começarem a se envolver nos detalhes, mas o compromisso de acelerar a ação nesta década deve ser “inabalável”. 

“Quero ser claro: não pretendemos reabrir o Acordo de Paris. O Acordo de Paris estabelece claramente a meta de temperatura bem abaixo de 2 graus e busca esforços para 1.5 grau”, disse, acrescentando que a Presidência tem como objetivo traçar um caminho por meio de três pilares principais de Paris: finanças, adaptação e mitigação. 

A COP26 será encerrada na sexta-feira, 12, com a apresentação de um texto final com o compromisso dos países, empresas e entidades participantes.

Fonte: ONU News

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