Segundo os dados mais recentes do Sistema Nacional de Gestão de Resíduos, a Coreia do Sul processa todos os anos cerca de 4,56 milhões de toneladas de restos de alimentos, provenientes de residências, restaurantes e empresas menores. Deste volume, 4,44 milhões de toneladas são recicladas para outros usos, o que significa que 97,5% dos resíduos de alimentos são reaproveitados.
Considerado extraordinário, o índice de reciclagem aponta superioridade em relacão aos Estados Unidos, país em que, dos 66 milhões de toneladas de resíduos de alimentos gerados em 2019 por restaurantes, residências e supermercados, cerca de 60% acabaram no lixo.
Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que, em 2019, o desperdício de alimentos em residências, estabelecimentos varejistas e restaurantes de todo o mundo atingiu 931 milhões de toneladas.
O sistema sul-coreano de reciclagem de alimentos é resultado de um esforço que durou décadas. Em 1996, a Coreia do Sul reciclava apenas 2,6% dos seus resíduos alimentícios. Com mais de 50 milhões de habitantes atualmente e alta densidade demográfica – mais de 530 pessoas/km², ao passo que no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são apenas 24 habitantes/km² -, as mudanças econômicas ocorridas no país desde 1980 trouxeram o aumento dos aterros sanitários. E como boa parte deles ficava próxima às regiões povoadas, os protestos não demoraram a acontecer.
Os restos de alimentos, misturados com outros tipos de resíduos, causam mau odor e produzem efluentes líquidos, além de contribuírem para as mudanças climáticas. Sua decomposição é uma fonte de metano, gás do efeito estufa ainda mais potente que o dióxido de carbono. E surgiram campanhas organizadas pelos cidadãos, exigindo uma resposta para o problema dos aterros.
“Havia um forte sentido de comunidade, que pretendia abordar os problemas sociais em conjunto”, relembra Jael-Cheol Jang, professor do Instituto de Agricultura da Universidade Nacional de Gyeongsang, no sul do país. “E as políticas de gestão de resíduos do governo, combinadas com esforços em nível nacional, levaram ao ponto em que estamos hoje”, afirma o catedrático.
Os restos de alimentos são reciclados com diferentes propósitos, sendo que os principais usos são para ração animal (49%), adubo (25%) e produção de biogás (14%). (JFF)
Fonte: BBC Brasil