Relatório da ONU aponta crescimento em 2019 de 12% no número de deslocados em relação ao ano anterior. Crise humanitária na Venezuela e a guerra civil na Síria são as maiores responsáveis pelo crescimento.
Em relatório divulgado na quinta-feira, 18, pela Agência da ONIU para Refugiados (ACNUR), no final de 2019, 1% da humanidade estava em deslocamento forçado de suas casas. Os números são os maiores já registrados e correspondem a 79,5 milhões de pessoas. Além disso, foi registrado o menor número de refugiados que voltaram às suas casas.
O relatório da ACNUR, “Tendências Globais 2019”, foi lançado dois dias depois do Dia Mundial dos Refugiados, e aponta que há 26 milhões de refugiados do mundo. Outras 45,7 milhões de pessoas fugiram para regiões de dentro de seus próprios países e 4,2 milhões buscam asilos em outros países. Na última década, 390 mil pessoas voltaram às suas casas em média, por ano. Um número bem menos do que a média de 1,5 milhão no anos 1990.
Destaca-se, no relatório, a situação dos refugiados venezuelanos, que correspondem a 3.6 milhões de pessoas. O país sul-americano é o segundo do mundo com maior número de pessoas deslocadas, atrás apenas da Síria, atualmente em guerra civil. Apenas cinco países são responsáveis por 68% do total de pessoas deslocadas: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Myanmar.
“Testemunhamos uma nova realidade na qual o deslocamento forçado não é mais simplesmente algo que cresce e se espalha, mas deixou de ser um fenômeno temporário e de curto prazo”, afirmou o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi. “Não se pode esperar que as pessoas vivam em um estado de convulsão por anos a fio, sem chances de voltar para casa e sem esperança de construir um futuro onde estão”, complementou.
Os dados também mostram que a situação dos refugiados afeta diretamente as crianças, que representam 40% do forçados a se deslocar. Em número absolutos, são 34 milhões de crianças deslocadas, um número maior que as populações da Austrália, Dinamarca e Mongólia somadas.
Os idosos de acima de 60 anos são 4% dos deslocados e estão em proporção menor em relação à sua participação na população mundial (12%). Entretanto, esse número revela que muitas famílias se separam de seus entes queridos para fugir, pois os idosos, muitas vezes, não conseguem empreender grandes viagens.
Em 2019, houve um aumento de 8 milhões de pessoas em deslocamento em relação ao ano anterior. O número é quase o dobro do registrado em 2010, quando houve 41,1 milhões de pessoas deslocadas. O aumento entre 2018 e 2019, segundo relatório, ocorreu, principalmente, pelos deslocamentos na Venezuela, Congo, Iêmen e Síria, que entrou no décimo ano de guerra civil.
“Precisamos de uma atitude fundamentalmente nova, com maior aceitação a todas e todos que são forçados a fugir, e determinação muito maior para resolver os conflitos que duram anos e que causam um sofrimento tão imenso”, concluiu o Alto Comissário da ONU.
Coisas que você precisa saber sobre deslocamento forçado
- Pelo menos 100 milhões de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas na última década, buscando refúgio dentro ou fora de seus países. São mais pessoas forçadas a se deslocar do que toda a população do Egito, o 14º país mais populoso do mundo.
- O deslocamento forçado praticamente dobrou na última década: eram 41 milhões de pessoas em 2010, contra 79,5 milhões em 2019.
- 80% das pessoas deslocadas no mundo estão em países ou territórios afetados por grave insegurança alimentar e desnutrição – e muitas enfrentam riscos relacionados ao clima e desastres naturais.
- Mais de três quartos dos refugiados do mundo (77%) estão em situações de deslocamento de longo prazo – por exemplo, a situação no Afeganistão, agora em sua quinta década.
- Mais de oito em cada dez refugiados (85%) estão em países em desenvolvimento, geralmente um país vizinho ao de onde fugiram.
- Cinco países contabilizam dois terços das pessoas deslocadas além das fronteiras nacionais: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar.
- O relatório “Tendências Globais” reúne todas as principais populações deslocadas e refugiadas, incluindo 5,6 milhões de refugiados palestinos que estão sob os cuidados da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).