Sacerdotes estavam entre os cinco da Ordem Franciscana que ainda está na cidade e desenvolve ações caritativas à população, fortemente afetada pela pandemia, que se dissemina em razão da omissão de ações do governo sírio
Quatro dos cincos padres que permaneceram na capital da Síria, Aleppo, contraíram o novo coronavírus e dois deles faleceram, segundo o Padre Ibrahim Alsabagh, pároco da Paróquia de Rito Latino na cidade.
Ao site Crux, o Padre afirmou que a porcentagem alta de contágio entre os padres é similar àquela entre os fiéis das paróquias. “Nós fomos prejudicados pelo vírus mais fortemente que os outros países europeus e de outras partes do mundo”, afirmou o Sacerdote.
“Tudo isso se deve à precariedade e falta de hospitais, de remédios, de médicos e de enfermeiras. A falta de especialistas que possam dizer às pessoas o que fazer e o que não fazer, por meio de normas que guiem o seu comportamento e ação”, continuou o Padre.
Todos os padres da cidade pertencem à Ordem Franciscana, e o Padre Alsabagh foi o único a ainda não ter sido infectado pelo vírus, o que, segundo ele, foi “providência”, pois isso permitiu que cuidasse dos dois padres que sobreviveram à doença, ao mesmo tempo que podia manter as atividades de sua Paróquia.
Em carta escrita à Crux, de 14 de setembro, o Padre Alsabagh criticou o governo sírio por não ter adotado nenhuma medida de isolamento contra o vírus e afirmou que sua Paróquia tentou manter informado os fiéis sobre a importância de medidas sanitárias para conter o avanço do vírus.
O número oficial de mortes causadas pelo coronavírus não é tão alto, se comparado ao de outros países: 160. Entretanto, as Nações Unidas afirmam que há uma severa subnotificação no país e que a doença está espalhada em todo o território da Síria.
“Para compreender completamente o quão precária é a nossa situação de tratamento e prevenção, é suficiente dizer que, por muitos dias, enterrávamos dez cristãos por dia mortos pela doença”, afirmou o Padre em sua carta.
“Além disso, temos nove anos acumulados de guerra em nossos ombros, que deixaram feridas que nunca serão curadas”, continuou. Entretanto, os frei franciscanos em Aleppo “continuam o acompanhamento espiritual às pessoas, de um modo pessoal ou comunitário, usando os meios de comunicação e passando horas e horas por dia no telefone, para saber a situação dos paroquianos”.
Além da ajuda espiritual, a Paróquia ajuda materialmente milhares de pessoas, distribuindo comida, pagando contas de hospital e aquecendo as casas para o próximo inverno.
Todos os que vivem em Aleppo, segundo Padre Alsabagh, “carregam muitas cruzes em seus ombros”: “Somos abençoados quando recebemos essas cruzes e as vivemos oferecendo-as por amor ao Senhor e aos nossos irmãos. É muito bonito, de fato, quando a cruz não é experimentada de uma maneira pessoal, mas compartilhada com os outros, quando podemos carregá-la com a ajuda dos outros e podemos ajudar os outros a carregá-la”.
Fonte: Crux Now