É Natal! Época de muitas luzes e decorações pela cidade, expressão da alegre esperança pelo nascimento do Menino Jesus, um sentimento também presente nas canções natalinas.
Em dezembro de 2017, após prestigiar uma apresentação de canções de Natal no Vaticano, o Papa Francisco ressaltou que “a arte é um formidável meio para abrir as portas da mente e do coração ao verdadeiro significado do Natal. A criatividade e a genialidade dos artistas com as suas obras, também com a música e o canto, conseguem chegar aos registros mais íntimos da consciência”.
Para o maestro Renato Bevilacqua, ao entrar em contato com as tradicionais canções natalinas, cada pessoa “consegue ‘parar no tempo’, ouvi-las e cantar junto, e, com isso, vai entrando no clima de Natal e deixando despertar a essência deste tempo: o nascimento de Jesus”.
Apresentamos a seguir detalhes sobre famosas canções de Natal em diferentes países, com a reprodução de parte das letras e comentários complementares do maestro e diretor do Bevilacqua Coral e Orquestra (@bevilacquacoral).
ADESTE FIDELES
Adeste fideles Laeti triumphantes Venite, venite in Bethlehem Natum videte Regem angelorum Venite adoremus, Venite adoremus Venite adoremos Dominum
[Cristãos, vinde todos – versão mais conhecida em português]
Cristãos, vinde todos, com alegres cantos Oh! Vinde, oh! Vinde até Belém Vede nascido, vosso Rei eterno Oh! Vinde, adoremos! Oh! Vinde, adoremos! Oh! Vinde, adoremos! O Salvador!
Este é um verdadeiro clássico entre as canções de Natal, sendo inclusive entoado na missa da Vigília de Natal na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A música foi composta nas primeiras décadas do século XVIII, pelo músico católico francês John Francis Wade. A letra original lembra que não se deve ficar indiferente ao grande fato, o nascimento do Salvador – “humildes pastores deixam os seus rebanhos” –; que nasceu pobre – “O Deus invisível de eternal grandeza, sob véus da humildade, podemos ver” –; e que deve ser adorado e seguido por todos, como fizeram os reis magos – “Tal claridade, também seguiremos”.
TU SCENDI DALLE STELLE
Tu scendi dalle stelle, o Re del cielo E vieni in una grotta al freddo e al gelo O Bambino mio divino Io ti vedo qui a tremar O Dio beato! Ah, quanto ti costò l’avermi amato!
[Tradução livre em português] Tu desces das estrelas, Ó Rei do Céu E vieste em uma gruta ao frio e ao gelo Ó Menino, meu divino Eu vos vejo aqui tremendo Ó Deus bendito Ah, quanto vos custou ter me amado
Composta no século XVIII por Santo Afonso Maria de Ligório, esta é a canção de Natal mais popular na Itália, e fala Daquele que desceu dos céus (das estrelas) para nascer no frio e em paupérrimas condições. Também é executada na missa da Vigília de Natal na Basílica de São Pedro. A letra chama a atenção pela erudição, mensagens evangelizadoras e versos mais longos do que a maioria das canções natalinas. “Este caráter mais erudito da letra de Tu scendi dalle stelle vem da própria erudição da formação de Santo Afonso, para quem a música tinha sempre um caráter bastante claro de evangelização, de doutrina”, comenta Renato Bevilacqua.
LES ANGES DANS NOS CAMPAGNES
Les anges dans nos campagnes ont entonné l’hymne des cieux; et l’echo de nos montagnes redit ce chant mélodieux. Gloria in excelsis Deo! Gloria in excelsis Deo!
[Vinde, Cristãos – versão mais conhecida em português] Vinde, cristãos, vinde à porfia Hinos cantemos de louvor Hinos de paz e de alegria Hinos de anjos do Senhor Glória a Deus nas alturas! Glória a Deus nas alturas!
Esta é a mais tradicional canção de Natal francesa, mas que ganhou versões em outras línguas, como o português. A letra original descreve a festa dos anjos, que se reúnem para expressar a alegria do nascimento do Libertador de Israel, e o som de tamanha felicidade ecoa pelas montanhas. Foi composta no século XVI e se tornou muito conhecida a partir do século XIX ao ser adaptada e traduzida para o inglês, “Angels We Have Heard On High”.
O DU FRÖHLICHE
O du fröhliche, o du selige, gnadenbringende Weihnachtszeit! Welt ging verloren, Christ ist geboren: Freue, freue dich, o Christenheit!
[Tradução livre em português] Ó santa noite, ó abençoado Graça, trazendo o tempo de Natal! O mundo estava perdido Cristo nasceu Alegrai-vos, alegrai-vos, ó cristãos!
A mais tradicional música natalina da Alemanha retrata o quão feliz é a humanidade, especialmente os cristãos, pelo nascimento de Cristo, que será a Salvação para o mundo que estava perdido, o resgate para todos. Esta canção de versos simples foi inicialmente escrita por Johannes Daniel Falk (1768-1826) no começo do século XIX e completada por seus assistente, Heinrich Holzschuher. De acordo com Renato Bevilacqua, a melodia desta música também é encontrada para uma letra mariana em latim; e há uma curiosidade segundo o maestro: “Embora não exista uma prova, atribui-se a Wolfgang Mozart [1756-1791] a composição desta canção”.
O HOLY NIGHT
O holy night, the stars are brightly shining It is the night of our dear Savior’s birth Long lay the world in sin and error pining Till He appeared, and the soul felt its worth
[Tradução livre em português] Ó noite santa, as estrelas estão resplandecendo intensamente Esta é a noite do nascimento do nosso querido Salvador Há muito tempo o mundo está em pecado e erro, ansiando Até que Ele apareceu e a alma sentiu seu valor
Esta canção de Natal é originalmente de origem francesa – Cantique de Noël – baseada em um poema de Placide Cappeau, escrito em 1843, para celebrar o restauro do órgão da igreja da cidade de Roquemaure. Em 1847, o compositor Adolphe Adam musicou este poema. A música se tornou mundialmente conhecida a partir da versão em inglês, de John Sullivan Dwight, em 1855. Ela retrata a redenção da humanidade a partir do nascimento de Cristo e já foi interpretada por cantores famosos como Mariah Carey e Celine Dion.
SILENT NIGHT
Silent night, holy night All is calm and all is bright Round yon Virgin, Mother and Child Holy infant, so tender and mild Sleep in heavenly peace Sleep in heavenly peace
[Noite Feliz – versão mais conhecida em português] Noite feliz, Noite feliz Ó Senhor, Deus de amor Pobrezinho nasceu em Belém Eis na lapa Jesus, nosso bem Dorme em paz, ó Jesus Dorme em paz, ó Jesus
Esta canção foi escrita pelo Padre Joseph Mohr, em 1816, e teve a composição feita por Franz Xaver Gruber, em 1818, na Áustria, com título original de “Stille Nacht”. Ela já foi traduzida – em sua letra e/ou melodia – para mais de 300 idiomas. Em 2011, “Silent Night” foi declarada patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “Acredito que junto com o Jingle Bells, esta é a canção de Natal mais conhecida em todo o mundo, e isso se deve à sua melodia de ternura. Eu, ao ouvi-la, imagino Maria ninando o Menino Jesus nos braços. A cadência da música é a cadência do ninar. É esta ternura, melodia leve, de acalento, que marca o coração das pessoas e as emociona”, avalia Renato Bevilacqua.
JINGLE BELLS
Jingle bells, jingle bells Jingle all the way Oh, what fun it is to ride In a one horse open sleigh
[Bate o sino – versão mais conhecida em português]
Bate o sino, pequenino,
Sino de Belém
Já nasceu o Deus menino
Para o nosso bem
Paz na Terra pede o sino
Alegre a cantar
Abençoe Deus Menino
Este nosso lar
Esta música, de origem norte-americana, foi composta por James L. Pierpont (1822-1893), e lançada em 1857 com o nome de “One Horse Open Sleigh”. Foi pensada originalmente para o Dia de Ação de Graças – uma tradição na cultura norte-americana – mas ganhou fama mundial como a canção que descreve um dia típico de Natal no Hemisfério Norte, com frio, neve e o trenó puxado por cavalos. “Acredito que essa música se tornou tão famosa porque a melodia é simples e alegre demais, assim, chega a todo mundo e contagia. Aqui no Brasil, a versão foi muito feliz, com ‘Bate o sino, pequenino, sino de Belém…’. Portanto, além de ter uma melodia fácil, ela chegou até nós em uma linguagem simples e acabou associada à ideia do Natal”, comenta Renato Bevilacqua.
WHITE CHRISTMAS
I’m dreaming of a white Christmas Just like the ones I used to know Where the tree tops glisten And children listen To hear sleigh bells in the snow
[Tradução livre em português] Estou sonhando com um Natal branco Assim como aqueles que vivi Onde o topo da árvore cintila E as crianças param Para ouvir o sino do trenó na neve
Esta canção de Natal é uma das mais cantadas nos Estados Unidos e em outros países de língua inglesa. Foi escrita em 1942 por Irving Belin e interpretada pela primeira vez por Bing Crosby. A letra remete às lembranças de um adulto sobre o Natal de sua época de infância e fala da esperança de que no presente também seja possível viver um feliz Natal.
DECK THE HALLS
Deck the halls with boughs of holly Fa-la-la-la-la, la-la-la-la ‘Til the season to be jolly Fa-la-la-la-la, la-la-la-la Don we now our gay apparel Fa-la-la, la-la-la, la-la-la. Troll the ancient Yuletide carol Fa-la-la-la-la, la-la-la-la.
[Pinheirinhos que alegria – versão mais conhecida em português]
Pinheirinhos que alegria
Tralálálálá-lálálálá
Sinos tocam noite e dia
Trálálálálá-lálálálá
É natal que vem chegando
Trálálálálálá-lálálá
Vamos, pois, cantarolando
Trálálálálá-lálálálá
A melodia desta canção é originária do País de Gales, no século XVI, já a letra, em inglês, foi escrita em 1862 e ganhou outras versões, em diferentes idiomas. Essencialmente, fala da alegria vivenciada pelas pessoas na época do Natal. “O Natal americano, inglês e de outros países que vivem este momento com o clima frio conta com duas linhas muito definidas: uma é muito alegre, como se vê em Jingle Bells e Deck the Halls; mas, também existe um lado bem sentimental, que podemos perceber em White Christmas, é um Natal até saudosista, em que se lembra daquilo que foi vivenciado na infância, das pessoas que já se foram etc”, analisa Renato Bevilacqua.
MARY, DID YOU KNOW?
Mary, did you know that your baby boy Would one day walk on water? Mary, did you know that your baby boy Would save our sons and daughters? Did you know that your baby boy Has come to make you new? This child that you’ve delivered Will soon deliver you
[Tradução livre em português] Maria, você sabia que seu filho Andaria sobre as águas? Maria, você sabia que seu filho Salvaria nossos filhos e filhas? Você sabia que seu filho Veio para fazer-lhe nova? Essa criança que você deu à luz Em breve vai libertar você
Escrita em 1984, esta canção ganhou projeção mundial na voz do cantor norte-americano Buddy Greene. “A letra é muito interessante, pois é como se nós tivéssemos questionando Maria se ela já sabia o que ia acontecer com o seu bebê. É uma música que tem feito muito sucesso, porque coloca para as pessoas uma perspectiva bem humana de Maria como mãe”, diz Renato Bevilacqua.
EL BURRITO DE BELÉN
Con mi burrito sabanero, Voy camino de Belén Con mi burrito sabanero, Voy camino de Belén Si me ven, si me ven Voy camino de Belén Si me ven, si me ven Voy camino de Belén
[Tradução livre em português] Com meu burrinho da savana Vou a caminho de Belém Com meu burrinho da savana Vou a caminho de Belém Se me veem, se me veem Vou a caminho de Belém Se me veem, se me veem Vou a caminho de Belém
A música “El burrito de Belén”, também conhecida por “El burrito sabanero”, foi escrita pelo venezuelano Hugo Blanco, no Natal de 1972, e interpretada pela primeira vez pelo também venezuelano Simón Diaz. É um ritmo de sucesso nos países latino-americanos de origem hispânica. Ela descreve a caminhada de um burrinho até Belém para adorar o Menino Jesus. “Esta é uma canção que até nos remete à tradição dos vilancicos, que são canções populares que as pessoas cantavam na época do Natal nas igrejas e nas ruas. Aqui no Brasil, este costume permanece ainda hoje mais fortemente no interior de Minas Gerais e em Goiás, com grupos de pessoas que cantam de porta em porta no Natal”, comenta Renato Bevilacqua.
BOAS FESTAS
Anoiteceu O sino gemeu E a gente ficou Feliz a rezar […] Já faz tempo que eu pedi Mas o meu Papai Noel não vem Com certeza já morreu Ou então felicidade É brinquedo que não tem Oh, anoiteceu
Esta canção foi composta em 1932 pelo baiano Assis Valente (1911-1958), quando ele vivia em uma pensão na cidade de Niterói (RJ). Em uma entrevista à revista Carioca, em 1936, o autor explicou a inspiração para a música: “Morava em Icaraí [um bairro de Niterói] e estava só, longe da família e sem notícias dos meus. Uma tristeza forte me invadia pouco a pouco. No meu quarto, havia um quadro representando uma menina dormindo com um sapatinho ao seu lado – quadro típico de Natal, que logo me impressionou. Pensei, então, na alegria de ser feliz, de não estar só no mundo como então me encontrava, e pedi a Papai Noel uma quantidade de coisas bonitas”.
NOITE AZUL
Noite Azul Sem igual, Deus nos deu um Feliz Natal Nosso lar esta cheio de luz Paz na Terra nasceu Jesus Tocam os sinos de Natal Lá na catedral Nosso lar que é meu amor, vou pedir ao Senhor
A autoria desta canção é atribuída pela Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música ao carioca Orestes Barbosa (1893-1966), jornalista, compositor e poeta. A melodia terna e a letra simples, com alusão a cenas comuns de uma noite de Natal, ganhou versões em diferentes ritmos no Brasil.
Muito bom 👏