Em mensagem à COP29, Papa defende o cancelamento das dívidas dos países mais pobres

Conferência das Nações Unidas sobre mudança climática prossegue até o dia 22, tendo como uma das pautas principais a busca de financiamentos para lidar com os impactos do aquecimento global

Vatican Media

Líderes de governos, empresas e membros da sociedade civil participam até sexta-feira, 22, da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Cli­mática, a COP29, que acontece desde o dia 11 em Baku, no Azerbaijão.

O centro das reflexões é a busca de soluções viáveis para conter o aumen­to das temperaturas globais, fato que já tem causado impactos em diferentes partes do planeta, especialmente com a ocorrência dos eventos climáticos ex­tremos (leia mais sobre o tema no Ca­derno Laudato si’ – por uma Ecologia Integral, publicado no O SÃO PAULO).

Os participantes da COP29 têm se debruçado sobre formas para finan­ciar ações de mitigação e adaptação aos impactos do aquecimento global, tema que embora esteja nos discursos da maioria dos líderes das nações ain­da não resultou em um acordo efetivo dos países sobre como aumentar este financiamento.

“Blefes, estratégias temerárias e manuais premeditados estão consu­mindo um tempo precioso e esgotan­do a boa vontade necessária para um resultado ambicioso”, enfatizou Simon Stiell, secretário-executivo da Con­venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ao discursar no evento na segunda-feira, 18.

COLOCAR NO CENTRO O BEM DA HUMANIDADE E DA CASA COMUM

No dia 13, o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, leu a mensagem que o Papa Francisco ende­reçou aos participantes da COP29, na qual a Santa Sé expressa o desejo de que a comunidade internacional esteja “dis­posta a olhar para além dos particula­rismos e a colocar no centro o bem da humanidade e da nossa casa comum, que Deus confiou ao nosso cuidado e responsabilidade”.

No texto, é lembrado que o cuida­do da Criação está intimamente ligado à preservação da paz e que é urgente deixar de lado os egoísmos – indivi­dual, nacional e dos grupos de poder – para que todos possam “viver como membros de uma só família que habi­ta a mesma aldeia global interligada”.

Na mensagem, os participantes da COP 29 são instados a procurar solu­ções pensando globalmente e não ape­nas defendendo o interesse de seus paí­ses; e o Papa deseja que “possa emergir um novo objetivo coletivo quantificado de financiamento climático”, com so­luções que “não comprometam ainda mais o desenvolvimento e a capacidade de adaptação de muitos países, sobre os quais já recai o peso de uma dívida eco­nômica opressiva”.

PERDÃO DAS DÍVIDAS E NOVA ARQUITETURA FINANCEIRA

No texto, Francisco reforça aquilo que já pedira anteriormente às nações mais ricas por ocasião da celebração do Jubileu 2025: “Que reconheçam a gra­vidade de tantas decisões tomadas e es­tabeleçam o perdão das dívidas de paí­ses que nunca as poderiam pagar. Mais do que magnanimidade, é uma questão de justiça”.

O Pontífice, mencionando a encícli­ca Populorum progressio, de São Paulo VI, publicada em 1967, também defen­de “uma nova arquitetura financeira internacional que esteja centrada nas pessoas, que seja audaz, criativa e base­ada nos princípios da equidade, justiça e solidariedade. Uma nova arquitetura financeira internacional que possa verdadeiramente assegurar a todos os países, especialmente aos mais pobres e aos mais vulneráveis às catástrofes climáticas, vias de desenvolvimento com baixas emissões de carbono e com elevada partilha, que permitam a todos atingir o pleno potencial e ver a própria dignidade respeitada”.

Na mensagem é reiterado o com­promisso da Santa Sé no campo da educação para a ecologia integral e na sensibilização para a questão ambiental entendendo-o como um problema humano e social em sentido amplo e a diversos níveis; é expresso o desejo de que se chegue a um acordo com vistas a “um desenvolvimento verdadeiramen­te inclusivo”; e o Papa faz um chamado a todos para que não sejam indiferentes às condições de vida dos demais.

“Não podemos passar ‘pelo cami­nho olhando para o outro lado’ [Fratelli tutti 75]. A indiferença é cúmplice da injustiça. Por isso, peço que, tendo em mente o bem comum, possamos des­mascarar os mecanismos de autojusti­ficação que tantas vezes nos paralisam: O que posso fazer? Como posso contri­buir? Hoje não há tempo para a indi­ferença. Não podemos lavar as nossas mãos, permanecendo distantes, desatentos, desinteressados. Este é o verda­deiro desafio do nosso século”, lê-se em um dos trechos da mensagem.

EMPENHO NÃO APENAS DOS ESTADOS

Em um dos seus discursos durante a COP29, António Guterres, secretá­rio-geral da ONU, pediu que as cida­des, regiões, empresas e instituições financeiras também se esforcem para alcançar metas de emissões líquidas zero – equilíbrio entre a quantidade produzida de gases de efeito estufa e a quantidade retirada da atmosfera – até o ano de 2050, uma meta já posta aos países, com vistas a evitar que a tem­peratura do planeta aumente em 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, o que intensificaria ainda mais a frequên­cia e as consequências dos eventos cli­máticos extremos.

Guterres também destacou que a atuação “não pode ser opcional” e deve haver uma divulgação de planos de transição credíveis, alinhados com a meta de 1,5º C que deve ser “obri­gatória para empresas e instituições financeiras”.

ATUALIZAÇÃO DO NDC DO BRASIL

Ao longo da COP29, alguns países já optaram por apresentar seus planos nacionais de ação climática atualiza­dos sob o Acordo de Paris, firmado em 2015. O prazo final para esta atualiza­ção é em fevereiro de 2025.

No dia 13, o Brasil apresentou as metas atualizadas da sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) para a redução da emissão de gases do efeito estufa.

O País se compromete a uma drás­tica diminuição entre 59% e 67% nes­tas emissões até 2035, comparado aos índices do ano de 2005. A atualização foi apresentada por Geraldo Alckmin, vice-presidente do Brasil, que afirmou ser uma meta “ambiciosa, certamente, mas também factível”.

O documento apresentado à ONU também reitera os compromissos do País em zerar as emissões líquidas até 2050 e acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Além disso, consta na nova NDC brasileira que o País “a mé­dio e longo prazo, procurará substituir gradualmente a utilização de combustí­veis fósseis por soluções de eletrificação e biocombustíveis avançados”. Não fo­ram, porém, estabelecidos prazos.

O Brasil também pretende avançar na aprovação do quadro legal e regula­tório do mercado de carbono, estabele­cendo limites para emissões de gases de efeito estufa e incentivando a descarbo­nização dos setores produtivos.

A próxima edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Cli­mática, a COP30, será realizada justa­mente no Brasil, em Belém (PA), de 10 a 21 de novembro de 2025.

(Com informações de Vatican Media e ONU News)

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