Em vários países, cristãos têm sido desrespeitados, atacados e mortos

No mais recente “Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo”, publicado em junho pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), há detalhamentos de situações de perseguição, incluindo as cometidas contra os cristãos. A seguir, apresentamos algumas dessas histórias. Esse relatório completo, assim como os outros produzidos regularmente pela ACN como o “Relatório sobre os cristãos perseguidos”, “Relatório sobre os cristãos presos em nome da fé” e “Relatório ouçam o grito delas” podem ser acessados em https://www.acn.org.br.

Nigéria: Deborah Yakubu é apedrejada até a morte

ACN

Em 12 de maio de 2022, a cristã Deborah Samuel Yakubu, 22, estudante de Economia de uma universidade em Sokoto, no norte da Nigéria, foi atacada por seus colegas de turma, apedrejada até a morte e teve o seu corpo incendiado. Ela foi acusada de ter enviado uma mensagem blasfema, via WhatsApp, queixando-se à sua turma da introdução forçada da religião em um grupo de estudo acadêmico. Após o assassinato, dois indivíduos foram presos e grupos de jovens destruíram janelas na Catedral da Sagrada Família e queimaram parcialmente a Igreja Católica de São Kevin.

No Norte do país, predominantemente muçulmano, os cristãos vêm sendo excluídos de cargos governamentais e as mulheres são sequestradas e forçadas a casamentos. Além disso, o governo não tem concedido autorizações para a construção de igrejas e tem havido sequestros de sacerdotes por extremistas que exigem o pagamento de resgate.

Máli: o relato de uma religiosa sequestrada por jihadistas

ACN Colombia.

As ações dos jihadistas islâmicos para dominar o país têm impactado a vida das minorias, como os cristãos. Os extremistas agem de modo cada vez mais violento, forçam todas as mulheres a usar o véu islâmico, ameaçam verbalmente os cristãos e impedem cultos e missas.

A Irmã Gloria Cecilia Narváez Argoty, missionária colombiana das Irmãs Franciscanas de Maria Imaculada, foi sequestrada em fevereiro de 2017 e libertada apenas em outubro de 2021. “A liberdade, não somente a liberdade física, que antes permitia me deslocar sem restrições, se tornou apenas uma palavra, um desejo imenso. Com o passar do tempo, percebi que tinha perdido não só a minha própria liberdade, mas também a minha liberdade religiosa: fui perseguida, espancada e insultada por professar minha fé católica, ou pelo menos por tentar fazê-lo. No entanto, apesar das circunstâncias tão adversas, dos maus-tratos diários, das humilhações, da privação de alimentos e de água, nunca – nem uma única vez – deixei de agradecer a Deus por ter me permitido acordar e estar viva no meio de todas as dificuldades e perigos”, relata no texto de abertura do mais recente relatório da ACN.

Índia: extremistas hindus perseguem cristãos e forçam pessoas à ‘reconversão’

ACN

Com a difusão da filosofia hindutva, uma forma de nacionalismo hindu que não tolera outras religiões e culturas além do Hinduísmo, ano a ano aumenta a perseguição aos cristãos. Em 2021, houve 505 episódios de ataques, intimidações ou assédios, ante 279 registrados em 2020.

Essa perseguição prosseguiu no ano seguinte. Em 9 de janeiro de 2022, por exemplo, uma igreja doméstica evangélica foi atacada por 200 pessoas em Chhattisgarh. Um dos líderes extremistas arrastou o pastor para fora e com a ajuda dos demais o espancou, bem como a outro cristão. De acordo com o pastor, a polícia não interveio. Já aqueles que o espancaram alegaram que os cristãos estavam a converter ilegalmente os hindus e asseguraram que matariam cristãos que permanecessem na aldeia. No dia seguinte, líderes da Paróquia Vishwa Hindu obrigaram os aldeões cristãos a assistir a um evento de reconversão de Ghar Wapsi, durante o qual uma mulher foi convertida à força ao Hinduísmo.

Atualmente, 12 estados indianos já aprovaram ou estão próximos de aprovar leis anticonversão. Muçulmanos ou cristãos acusados de conversão religiosa podem ser presos por até dez anos.

Paquistão: meninas cristãs estão sendo forçadas a casamentos com muçulmanos

ACN

Em 4 de janeiro de 2022, Mahnoor Ashraf, uma jovem cristã de 14 anos, foi raptada por Muhammad Ali Khan Ghauri, um muçulmano de 45 anos, já casado e com dois filhos. O pai da jovem comunicou o incidente à polícia. Três dias depois, Guauri anunciou que a moça havia se convertido ao Islamismo e com ele se casado.

Outro caso que despertou a atenção ocorreu com a jovem Meerab Mohsin, 16. Em abril do ano passado, ela foi violentada sexualmente, forçada a se casar com um muçulmano e se converter ao Islã. Meerab conseguiu escapar do agressor, regressou à sua família, mas como o Tribunal do Paquistão não invalidou o casamento, ela pode, a qualquer momento, ser obrigada a voltar a viver com o “esposo”.

Entre os grupos minoritários no país, os cristãos, assim como os hindus, têm sido vítimas de discriminação civil, com convites para serviços de saneamento, varredores de rua e limpadores de esgoto, trabalhos “reservados a não muçulmanos”; também são recorrentemente acusados com base nas leis de blasfêmia.

China: Destruição de templos e prisão de líderes cristãos são práticas recorrentes

ACN

No país em que representam pouco mais de 7% da população, os cristãos têm sido alvo recorrente de perseguição por parte do governo comunista chinês.

Em fevereiro de 2021, as autoridades locais determinaram a destruição da Igreja do Sagrado Coração, em Yining, mesmo com esta tendo todas as licenças para funcionar. Em maio, a polícia prendeu padres, seminaristas e Dom Joseph Zhang Weizhu, Bispo da Diocese de Xinxiang, por supostamente terem desrespeitado regulamentos nacionais sobre assuntos religiosos. Um ano depois, foi a vez do Cardeal Joseph Zen, de 90 anos, Bispo Emérito de Hong Kong, ser preso sob a acusação de “conluio com forças estrangeiras”, por ser o administrador do Fundo de Ajuda Humanitária, que prestou apoio jurídico aos manifestantes pró-democracia.

Líderes de igrejas protestantes também têm sido perseguidos: em 2021, ao menos dez deles foram presos acusados de “fraude”. Em fevereiro de 2022, o pastor Hao Zhiw foi condenado a oito anos de prisão, por pregar a Palavra e recolher ofertas sem a aprovação de associações religiosas sancionadas pelo Estado.

Finlândia: parlamentar e bispo luterano julgados por usar citações bíblicas 

ADF Intl/ACN

Acusados de cometer “agitação étnica” e “crimes de guerra e contra a humanidade”, a deputada Päivi Räsänen e o bispo luterano Juhana Pohjola foram a julgamento na Finlândia. Em panfletos de sua Igreja, em comentários televisivos e no Twitter, ele mencionou versículos bíblicos a respeito da sexualidade humana, tais como “Homem e mulher, Ele os criou”.

Ela também se valeu de citações bíblicas em declarações públicas para apresentar seu ponto de vista sobre a sexualidade e foi acusada por falas “suscetíveis de causar intolerância, desprezo e ódio contra os homossexuais”. Em março de 2022, o processo foi arquivado pelo Tribunal Distrital de Helsinque. Entretanto, o Ministério Público finlandês ainda recorre da decisão.

França: católicos são ameaçados em procissões e padre é assassinado

ACN

Enquanto participavam de uma procissão mariana em Nanterre, em dezembro de 2021, os fiéis católicos foram hostilizados, sendo chamados de “kafirs”, que significa “infiéis” em Árabe. O grupo que os atacou fez ainda outra ameaça: “Wallah [juro] sobre o Corão que te cortarei a garganta”. Em maio do mesmo, uma procissão católica já havia sido atacada por ativistas de extrema esquerda, deixando dois idosos feridos. Em agosto do mesmo ano, ocorreu o assassinato do Padre Olivier Maire, espancado até a morte por Emmanuel Abayisenga, homem acusado de incendiar a Catedral de Nantes, em julho de 2020, e que respondia ao processo em liberdade.

No ano de 2022, centenas de calvários, sepulturas e igrejas foram profanadas e danificadas, entre as quais a Catedral de Saint-Pol-de-Léon, incendiada e alvo de atos de vandalismo. Diante da série de ataques, o Ministério do Interior francês se comprometeu a aumentar o financiamento para a segurança das igrejas católicas.

Nicarágua: Acusado de ‘conspiração’, Dom Rolando Álvares é preso

ACN

Em 19 de agosto de 2022, a polícia nacional da Nicarágua invadiu a cúria da Diocese de Matagalpa e prendeu seminaristas, diáconos, padres e o Bispo, Dom Rolando Álvares, critico das mazelas sociais geradas pelo regime ditatorial de Daniel Ortega. Em fevereiro deste ano, o Prelado foi condenado a 26 anos de prisão por “conspiração contra a integridade nacional e divulgação de notícias falsas por meio das tecnologias de informação e comunicação, em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense”. Dom Rolando já se opôs por duas vezes a ser extraditado e permanece preso.

Outras ações de governo Ortega contra a Igreja Católica foram a expulsão do Núncio Apostólico, Dom Waldemar Stanislaw Sommertag; a prisão e exílio forçado de sacerdotes; o cerceamento de atuação e até mesmo a expulsão de congregações religiosas do país; o cerco a igrejas; e o fechamento de estações de rádio e de um canal de tevê católicos.

ALGUNS OUTROS REGISTROS DE PERSEGUIÇÃO

  • Estados Unidos: Após decisão da Suprema Corte, em junho de 2022, definir que não há mais um direito nacional ao aborto, revertendo, assim, uma decisão tomada em 1973, centenas de igrejas cristãs foram atacadas.
  • Espanha e Áustria: Em 2021 e 2022, foram registradas agressões a religiosos e fiéis, pichações com insultos em igrejas católicas, ortodoxas e evangélicas, profanação de sacrários e atos de vandalismo como a decapitação de imagens católicas e o incêndio em uma igreja.
  • Cuba e Venezuela: Dissidentes dos governos e os membros do clero têm sido alvo de agressões, detenções, ameaças e difamações em represália pelo seu apoio a grupos de oposição e por exprimirem opiniões diferentes dos regimes comunistas em vigor.
  • Somália: A reduzida quantidade de fiéis não muçulmanos é formada majoritariamente por cristãos convertidos do Islamismo e estes são vistos como traidores de suas famílias e da comunidade. Geralmente, são perseguidos, intimidados e assassinados.
  • Filipinas: Em 2022, bombas caseiras foram encontradas em duas igrejas católicas na cidade de Jolo. Suspeita-se que a autoria seja do grupo separatista islâmico Abu Sayyaf.
  • Israel: Líderes cristãos têm alertado para o fato de os grupos extremistas judeus estarem expulsando os cristãos da Terra Santa.
  • Indonésia: Os cristãos têm recebido penas mais severas que os muçulmanos quando são condenados com base na lei da blasfêmia.
  • Camarões: São recorrentes os relatos de jihadistas que sequestram cristãos, incluindo mulheres e meninas que acabam sendo abusadas sexualmente e forçadas a casamentos.
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