Escolas católicas do Líbano enfrentam crise e necessitam de ajuda

Situação de instabilidade no país desde o último trimestre de 2019, aliada às medidas de combate à pandemia de COVID-19, gera colapso no sistema educacional libanês, que se apoia na Igreja e espera solução do governo

Irmã Maria Nassar, diretora da Escola Nossa Senhora do Líbano conversa com estudantes (foto: Catholic News Service)

No início de um novo ano acadêmico, a incerteza obscurece o funcionamento das escolas católicas no Líbano. Em meio à crise econômica que assola a nação, as instituições de ensino vinculadas à Igreja esgotaram seus recursos e seu futuro está em risco.

Os estabelecimentos escolares católicos do país educam, juntos, quase 200 mil alunos, mas 80% deles correm o risco de fechar, disse o Padre melquita Youssef Nasr, secretário-geral das escolas católicas no Líbano.

“Estamos enfrentando esta crise com os bolsos vazios”, afirmou ele. “Estamos sob uma pressão tremenda.”

Realidade

O aprendizado nas escolas do Líbano foi interrompido por dois anos, inicialmente por protestos nacionais que varreram o país em outubro de 2019, seguidos pelas medidas de bloqueio da COVID-19.

“Não podemos deixar nossos alunos em casa pelo terceiro ano consecutivo. Eles estão enfrentando uma perda de aprendizagem, psicológica e social” por não estarem na escola, disse o Padre Youssef.

Economia descendente

Além do vazio educacional, a moeda libanesa despencou mais de 90% em menos de dois anos, eliminando a classe média. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 78% dos libaneses agora vivem abaixo da linha da pobreza, contra menos de 30% antes de 2019.

Os pais viram seus salários diminuírem para apenas um décimo de seus valores anteriores, em dólares. Muitos não conseguem pagar as mensalidades há dois anos.

Governo inepto

Das 330 escolas católicas do país, 90 atendem aos desfavorecidos; suas mensalidades são nominais e o governo libanês deve fornecer um subsídio de aproximadamente 50% para uma parte do corpo discente. No entanto, os governantes não pagam tal subsídio desde 2016.

Depois de mais de um ano de paralisia e sem governo, um gabinete foi formado no dia 10. O novo primeiro-ministro, Najib Mikati, prometeu desbloquear a ajuda internacional que depende da implementação de reformas pelo governo libanês após décadas de corrupção e má administração.

Ações da Igreja

Ao participar da reunião anual das escolas católicas no dia 16, o Padre Youssef observou que a Igreja tem trabalhado para mantê-las aptas a atender às necessidades das pessoas.

 “As iniciativas da Igreja são valiosas e louváveis, e são necessárias porque contribuem para evitar um colapso total, mas ao mesmo tempo não constituem uma solução sustentável para a educação. O Estado é a solução”, disse ele.

Padre Youssef disse esperar que o novo governo “dê à educação a prioridade que ela merece e a considere como a verdadeira riqueza do país”.

O Núncio do Vaticano no Líbano, Dom Joseph Spiteri, também participou do encontro. Dirigindo-se ao novo ministro da educação, Abbas Halabi, sentado na primeira fila, o Núncio disse: “Esperamos muito de você e do novo governo. Além disso, asseguramos que as escolas católicas no Líbano estiveram, estão e estarão sempre a serviço de toda a nação.”

Outras religiões

Conhecidas por seu alto nível acadêmico, as escolas católicas do Líbano são tipicamente trilíngues, com o currículo oferecido em árabe, francês e inglês, o que estimula o aprendizado de idiomas pelos alunos. Os graduados frequentemente continuam seus estudos superiores nas melhores universidades do Ocidente.

Além disso, elas também têm uma longa tradição de acolher alunos de outras religiões.

Cerca de 26% dos alunos das escolas católicas do Líbano são muçulmanos, disse o Padre Youssef. Ele citou um exemplo de uma escola administrada por salesianos na região de Bekaa, cuja maioria dos alunos não é católica: 95% dos alunos são muçulmanos.

“Esta é a missão e a identidade do Líbano, a intercomunidade”, frisou, apontando para a declaração de São João Paulo II de que “o Líbano é mais do que um país. É uma mensagem de liberdade e um exemplo de pluralismo para Oriente e Ocidente. “

“Acho que os muçulmanos no Líbano estão ansiosos para ingressar em nossas escolas”, observou o Padre Youssef. “Gostam da nossa educação, dos nossos valores e sabem muito bem que temos a mente aberta e que respeitamos os outros”.

“Ensinamos nossos alunos com igualdade, respeito, sem discriminação. Nossas escolas são uma comunidade para todos”, acrescentou.

Presença cristã

Particularmente nas periferias do Líbano, nas regiões norte, sul e Vale do Bekaa, a existência de escolas católicas confirma a presença dos cristãos, realçou o religioso.

Se as escolas católicas nessas áreas fechassem, os cristãos se mudariam para Beirute ou mesmo para fora do país em busca de uma boa educação, disse ele.

“É um grande perigo se nossas escolas fecham”, adverte o Padre Youseff. “O risco, em primeiro lugar, estará na sociedade cristã, afetando a demografia do Líbano.”

Em segundo lugar, continuou o presbítero, “o nível de educação entrará em colapso, porque as escolas católicas são conhecidas por seu alto nível e qualidade de ensino”.

Como sustentar

Ele afirma, ainda, que aumentar as mensalidades não é uma opção durante a crise econômica sem precedentes, considerada pelo Banco Mundial como uma das piores do mundo desde a década de 1850.

“Nossas famílias estão sofrendo e temos que estar ao lado delas e ajudá-las. Não temos o direito de aumentar a mensalidade”, concluiu.

Entre as propostas, as autoridades católicas pedem que o novo governo libanês forneça 200 dólares para cada estudante. Com a desvalorização da moeda libanesa, isso proporcionaria uma quantia significativa para a mensalidade do aluno.

Ele elogiou os esforços de arrecadação de fundos por organizações não governamentais e católicas, incluindo a Catholic Near East Welfare Association. Em julho, a Caritas Líbano e a organização católica francesa L’Oeuvre d’Orient também lançaram uma iniciativa de levantamento de recursos para ajudar as escolas católicas do Líbano.

Fonte: Catholic News Service

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