Europa: conferência aponta o futuro do Cristianismo no continente

Nos dias 20 e 21 de setembro, a cidade de Cracóvia, na Polônia, sediou a conferência internacional “A Nova Configuração da Europa”, durante a qual houve uma série de debates sobre o papel dos cristãos no processo de integração europeia.

Com a presença de autoridades civis e religiosas, historiadores e cientistas sociais, diversos foram os pronunciamentos, visando a traçar um panorama sobre o futuro do Cristianismo no continente.

“O Cristianismo, se libertado dos velhos demônios, pode ser uma força motriz da Europa, que nos ajudará imensamente nos tempos modernos, repletos de ansiedade”, disse a professora francesa Chantal Delsol, que também é filósofa, historiadora política e romancista.

Considerando “demônios” como a crise do abuso e de identidade, ela disse que a Europa frequentemente toma o caminho de se convencer de que é capaz de “criar uma sociedade ideal”. Ela afirmou também que, embora “o marxismo tenha sido felizmente derrubado”, a tentação “de construir um paraíso na Terra está retornando de outras maneiras”.

PRIMÓRDIOS

Embora as pessoas que lançaram as bases para os estados-membros da União Europeia após a 2ª Guerra Mundial fossem, na verdade, majoritariamente católicas — o político francês Jean Monnet, os italianos Alcide de Gasperi e Altiero Spinelli e Robert Schuman, cujo processo de beatificação está em andamento — um rascunho de tratado de 2004 que estabelecia a constituição europeia se absteve de reconhecer as raízes cristãs do movimento. O preâmbulo, em vez disso, mencionou “a herança cultural, religiosa e humanista da Europa”.

Os papas, no entanto — europeus ou não — deixaram claro que as “raízes cristãs da Europa são a principal garantia de seu futuro”, como disse São João Paulo II em uma homilia em 28 de junho de 2003. “Uma árvore sem raízes poderia crescer e se desenvolver? Europa, não se esqueça de sua história!”

O Papa Francisco, no entanto, enfatizou em 2019 que a Europa se recusou a abraçar sua herança cristã e é por isso que está passando por uma “profunda crise de identidade” hoje.

ATUALIDADE

O Padre Kazimierz Sowa, organizador da conferência e membro da Fundação Dom Tadeusz Pieronek, afirmou: “Na Europa, ainda temos pessoas que querem discutir seu futuro em referência às suas fundações”.

Ao longo dos anos, os principais políticos europeus eram cristãos, disse ele, como Jerzy Buzek, ex-primeiro-ministro polonês e presidente do Parlamento Europeu entre 2009 e 2012, que é luterano, bem como Herman Von Rompuy, ex-primeiro-ministro belga e primeiro presidente permanente do Conselho Europeu de 2009 a 2014, que é católico. Ambos estavam presentes durante a conferência.

O Padre Manuel Barrios, Secretário-geral da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece), frisou que teológica e moralmente, o Cristianismo permanecerá na Europa”, embora, como cristãos, “tenhamos que lutar por isso também”.

“As igrejas têm muito dever de casa a fazer”, acrescentou, para permanecerem líderes das sociedades europeias. “Esta também é uma mensagem. Acho que temos que perder nossa atitude autorreferencial do que pensamos sobre nós mesmos e dar respostas realmente boas às preocupações das pessoas”, disse o Sacerdote.

Ele enfatizou, no entanto, que é a igreja que precisa manter seus valores, como acolher migrantes e refugiados, e mostrar o caminho.

“Promover, acolher pessoas que vêm por diferentes motivos” é uma tarefa urgente dos cristãos na Europa. “Os migrantes estão procurando liberdade, procurando uma vida melhor para si mesmos ou para suas famílias. Então, eles estão vindo por bons motivos. E como sociedade europeia, que tem a solidariedade como um de seus principais valores, temos que estar abertos para recebê-los e integrá-los”, concluiu o Padre Barrios.

Para o Padre Sowa, uma vez que em muitos países europeus “partidos de extrema direita ganham cada vez mais reconhecimento político”, a União Europeia provavelmente preferirá “manter a falta de referências ao Cristianismo em seus documentos oficiais”.

Sobre a migração, o Padre Sowa acrescentou que “a conferência mostrou claramente que a Europa é rica em diversidade e que essas diferenças culturais devem ser levadas em conta na criação de leis e propostas de soluções de cima para baixo”, disse o Padre Sowa.

Piotr Sztompka, professor polonês de Sociologia, especialista em religiosidade da Europa, disse que “Deus não está morto na Europa, mas vive de forma diferente”.

“Embora não reconheça o dogma religioso, a maioria dos europeus não rejeita a espiritualidade, o sagrado, a humildade diante da realidade e do mundo, a admiração diante da natureza”, disse ele.

FRANCISCO

Em 29 de setembro, durante sua viagem apostólica à Bélgica, o Papa divulgou a mensagem para o 110º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, na qual defende que Deus se identifica com as pessoas que fogem de sua terra, convidando as comunidades católicas ao seu acolhimento e desafiando, portanto, a Europa a fazê-lo.

“A partir deste país, a Bélgica, que foi e continua a ser o destino de tantos migrantes, reitero o meu apelo à Europa e à comunidade internacional para que considerem o fenômeno migratório como uma oportunidade para crescer juntos em fraternidade”, disse, no final da missa a que presidiu no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas.

“Convido todos a verem em cada irmão migrante o rosto de Jesus que se fez hóspede e peregrino no meio de nós”, acrescentou, perante cerca de 35 mil pessoas.

“Deus caminha não só com o seu povo, mas também no seu povo, dado que se identifica com os homens e as mulheres que caminham na história – particularmente com os últimos, os pobres, os marginalizados –, prolongando, de certo modo, o mistério da Encarnação”, escreveu Francisco.

Fonte: Catholic Review e Agência Ecclesia

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