Francisco a jovens universitários: ‘Não caiam na armadilha de visões parciais’

Pontífice iniciou o segundo dia de sua viagem apostólica a Portugal, indo à Universidade Católica Portuguesa dialogar com estudantes, e exortou os ‘peregrinos do saber’ a terem a coragem de ir além das ‘fórmulas pré-fabricadas’ e se tornarem mestres em humanidade

Fotos: Vatican Media

Na chegada à Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, na manhã da quinta-feira, 3, o Papa Francisco foi recepcionado com música, com a já esperada saudação da reitora, Isabel Capeloa Gil, e com os fortes testemunhos dos jovens Beatriz, Mohoor, Mariana e Tomás, inspirados na encíclica Laudato si’, no Pacto Educativo Global, na Economia de Francisco e do Fundo Papa Francisco para uma Cultura do Encontro.

O Papa, ao saudar os estudantes, convidou-lhes a ser “empresários de sonhos” e não “administradores de medos”, e pediu que tenham “coragem de substituir medos por sonhos”.  Lembrou-lhes, ainda, que autopreservação é uma tentação que faz olhar a existência de um modo distorcido.

DISPONIBILIDADE EM SERVIR E ESPÍRITO PEREGRINO

O Pontífice enfatizou que se aquele que alcança a graduação superior não se esforça para devolver aquilo com que se beneficiou, não compreendeu plenamente o que lhe foi oferecido; e alertou que um título universitário não deveria ser somente uma condição para acumular riquezas, mas, sim, um mandato para se dedicar a uma sociedade mais justa e inclusiva.

“Todos somos peregrinos e todo peregrino busca, arrisca”, enfatizou, destacando que sempre é preciso desconfiar de “fórmulas pré-fabricadas, de respostas que parecem ao alcance da mão, de propostas que parecem dar tudo sem pedir nada”.

O Papa pediu aos jovens universitários que não tenham medo de se sentir inquietos, de estar insatisfeitos, pois isso “é um bom antídoto contra a presunção da autossuficiência e do narcisismo. Cada um de nós é um peregrino, um ‘buscador’, que sente sua própria incompletude, como disse Jesus: ‘estamos no mundo, mas não somos do mundo’”.

Lembrou, ainda, que tal inquietude é uma atitude esperada daqueles quem se põem a caminho: “Não estamos doentes, mas vivos! Fiquemos mais preocupados quando estivermos dispostos a substituir o caminho a percorrer para nos determos em qualquer oásis —mesmo que esse conforto seja uma miragem—; quando substituirmos rostos por telas, o real pelo virtual; quando, em vez das perguntas que dilaceram, preferimos as respostas fáceis que anestesiam”.

OLHAR CONJUNTAMENTE E NÃO DE MODO POLARIZADO

Francisco observou que é chegado o tempo de redefinir o que se considera como progresso e evolução, pois em nome do progresso tem se aberto “um caminho de grande regressão”. Por isso, é importante – ressaltou o Papa – haver visões em conjunto e se evitar polarizações.

“Vocês são uma geração que pode vencer este desafio, têm os instrumentos científicos e tecnológicos mais avançados, mas, por favor, não caiam na armadilha de visões parciais. Não esqueçam que necessitamos de uma ecologia integral; que precisamos escutar o sofrimento do planeta junto ao dos pobres; que temos de colocar o drama da desertificação ao lado ao dos refugiados, o tema das migrações junto ao da queda da natalidade; precisamos nos ocupar da dimensão material da vida dentro de uma dimensão espiritual. Não crer em polarizações, mas, sim, em visões de conjunto”.

MESTRES DE HUMANIDADE

O Pontífice ressaltou que sem a inclusão no campo da cultura, o Cristianismo se converte em uma ideologia e não incidirá concretamente na sociedade para refletir o Evangelho.

“Vocês, queridos estudantes, peregrinos do saber, o que gostariam de ver realizado em Portugal e no mundo? Quais mudanças, quais transformações? E de que maneira a universidade, especialmente a católica, pode contribuir para isso?”, indagou.

Francisco disse que sonha que esta seja uma geração de mestres em humanidade, em compaixão, mestres em novas oportunidades para o planeta e seus habitantes, mestres de esperança.

URGÊNCIAS QUE NÃO DEVEM SER ESQUECIDAS

Na parte final de seu discurso, o Papa exortou os universitários a estudarem com paixão o Pacto Educativo Global, e a fazer seus os princípios que o estruturam: a urgência de cuidar da casa comum a partir da conversão do coração e de uma mudança da visão antropológica que sustenta a política e a economia; a educação para a acolhida e a inclusão para devolver a esperança àqueles que vivem com a permanente sensação de desamparo, mas que tem podido reencontrá-la graças àqueles que creem na cultura do encontro.

Por fim, voltou a citar a imagem do peregrino para motivar os jovens estudantes, e falou sobre as peculiaridades da universidade católica:

“Ser uma universidade católica quer dizer sobretudo isto: que cada elemento está em relação com o todo e que o todo se encontrar nas partes. Desse modo, enquanto se adquirem os saberes científicos, se amadurece como pessoa, no conhecimento de si mesmo e no discernimento do próprio caminho. Portanto, adiante!”, exortou.

LEIA A ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PAPA

AS IMPRESSÕES DE UM SEMINARISTA BRASILEIRO

Seminarista da Arquidiocese de São Paulo, o jovem estudante de Filosofia Rodolfo Mota da Silva foi à Universidade Católica Portuguesa para acompanhar o encontro do Papa com os universitários, e contou à reportagem ter encontrado um clima muito fraterno entre as 7 mil pessoas que lá estavam, incluindo universitários, professores e funcionários da universidade.

“Conversei com pessoas que estavam na fila desde às 5h da manhã [o encontro começou às 9h]. Todos estavam muito animados, esperando para entrar na universidade. Percebi um espírito de muita fraternidade. Todos estavam muito ansiosos e felizes à espera do Papa”, contou Rodolfo, destacando, ainda, que muitos eram os jovens que dialogavam em diferentes línguas sobre o que estavam estudando.

“No discurso, o Papa insistiu muito sobre o cuidado com a casa comum e pediu que os jovens tenham força para seguir adiante, que não se esqueçam dos pobres, e lembrou que o estudo jamais pode ser algo elitista, mas deve ser acessível a todos que queiram estudar”.

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