Jovens têm papel fundamental para a reconciliação no Iraque

Após anos de martírio, ocasionado por guerras e perseguições, os iraquianos tentam reencontrar o caminho da paz. 

Jovens na Universidade Católica de Erbil, à espera do encontro com o Papa Francisco (foto: Vatican Media)

De acordo com a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), dos 120 mil cristãos que foram obrigados a deixar o país em 2014 em razão de perseguições, cerca de 45% já retornaram ao território iraquiano.

Em entrevista ao Vatican News,  Alessandro Monteduro, diretor da ACN Itália, avaliou que o caminho para a reconstrução do país passa essencialmente pela ativa participação dos jovens. “Investir na formação de jovens iraquianos significa dar ao país novas possibilidades econômicas, porque o novo grande perigo é o da pobreza, que pode levar aquilo que resta das comunidades cristãs a deixar sua pátria”.

Dahlia Khay Azeez, 40, nasceu em Bagdá, e se formou em Informática e estudos teológicos com os Padres Redentoristas. Depois, foi para a Bélgica, onde obteve a Licenciatura na Universidade de KuLeuven, e agora faz seu doutorado no Pontifício Instituto Oriental, em Roma. Há alguns meses, retornou a Bagdá, para viver com os quatro irmãos.

Ao Vatican News, ela conta que diante da crise econômica e social no Iraque, os jovens se agarram às oportunidades que surgem: “Há muitos que conseguiram estudar e obter títulos de estudo, mas depois são forçados a fazer trabalhos que nada têm a ver com sua formação e seus sacrifícios, fazem isso para sobreviver. A vida é importante para nós. Espero que estes jovens encontrem oportunidades, que tenham melhores chances. Espero que Deus escute nossas orações. Ter uma oportunidade de ser feliz, de trabalhar em conjunto, isso esperamos. Agora basta, devemos viver juntos e preparar o país para as gerações que virão depois”.

EM ERBIL, A PRIMEIRA UNIVERSIDADE CATÓLICA

É precisamente com o objetivo de unir os jovens em um itinerário educacional que conduza a um futuro de prosperidade e paz que se concretizou o projeto de um polo universitário aberto a todos, precisamente no Curdistão iraquiano.

A Universidade de Erbil, inaugurada oficialmente em 2015 e fortemente desejada pelo Arcebispo Caldeu Bashar Warda, é uma realidade na qual até a Conferência Episcopal Italiana acredita profundamente, bem como a ACN, que lançou um novo programa no valor de 1,5 milhões de euros em apoio a 150 bolsas.

“Até hoje, já são 170 universitários iraquianos, representados por 72% de cristãos, 18% de yazidis e 10% de muçulmanos. Nessas salas de aula, é fortalecido o diálogo, a harmonia e a colaboração, sobre a qual edificar uma comum pertença comum àquela terra, na esperança de não ter mais que falar do Iraque da forma como nos vimos obrigados a fazer nos últimos vinte anos”, comenta Alessandro Monteduro.

FRATERNIDADE

Um exemplo da esperança de dias melhores é dado pelo grupo Sawaed al Museliya, formado por jovens muçulmanos, que já foram vistos ajudando os cristãos a limpar uma igreja profanada pelos terroristas do Estado Islâmico.

Em entrevista à Asia News, em novembro do ano passado, Mohammed Essam, um dos fundadores do grupo, explicou que com os gestos que realizam, os jovens do Sawaed al Museliya querem dizer aos cristãos “voltem, Mossul não está completa sem vocês”.

Desde a libertação da cidade de Mossul, o grupo já realizou serviços comunitários, incluindo ajuda alimentar de emergência, e arrecadou recursos para a reconstrução das casas dos mais desfavorecidos.

Um dos locais que os jovens ajudaram a restaurar  foi a Igreja de São Tomás, um tradicional templo católico de rito siríaco, erguido no século XIX, e que foi saqueado por jihadistas em 2014. Os trabalhos de restauro incluíram apagar uma pichação na qual se lia “terra do califado”. Os membros do Sawaed al Museliya esperam que o local seja um símbolo do renascimento da cidade e estimule o retorno daqueles que fugiram da violência por motivações religiosas.

Fontes: Vatican News, Asia News e El País

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