Numa coletiva de imprensa no Vaticano, os membros da “Comissão dos Novos Mártires – Testemunhas da Fé” compartilharam seu trabalho desempenhado até o momento e apresentaram a celebração ecumênica de 14 de setembro, presidida pelo Papa. Dom Fabene: “Esses irmãos e irmãs colocaram a âncora da esperança não na realidade do mundo, mas no coração de Deus.” Riccardi: “Os cristãos continuam morrendo porque são testemunhas do Evangelho.”

Mais de 1600 mártires e testemunhas da fé do século XXI foram reconhecidos pela Comissão instituída em 2023 pelo Papa Francisco no Dicastério das Causas dos Santos. A notícia foi dada nesta segunda-feira, 8 de setembro, na Sala de Imprensa da Santa Sé, durante uma coletiva de apresentação do trabalho realizado até o momento pela “Comissão dos Novos Mártires – Testemunhas da Fé” e da celebração ecumênica, por ela organizada, que será presidida por Leão XIV na Basílica Papal de São Paulo Fora dos Muros no próximo domingo, 14 de setembro, Festa da Exaltação da Santa Cruz.
Trezentos e quatro mártires são provenientes das Américas, 43 os europeus mortos no Velho Continente e outros 110 morreram durante as missões pelo mundo, 277 foram mortos no Oriente Médio e no Magrebe, 357 testemunhas da fé na Ásia e na Oceania e 643 na África, a terra “onde os cristãos mais morrem”, explicou Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio e vice-presidente da Comissão composta por onze membros. As histórias estudadas foram assinaladas de todas as latitudes, por diversas Igrejas e denominações cristãs, dioceses, Conferências Episcopais, institutos religiosos e outras entidades eclesiais. São vidas que testemunham a perseguição religiosa, a violência de organizações criminosas, a exploração de recursos naturais, ataques terroristas, conflitos étnicos e outras causas pelas quais os cristãos ainda são mortos. “Infelizmente, os cristãos continuam morrendo”, continuou Riccardi, “e continuam morrendo porque são testemunhas do Evangelho, porque são apaixonados por Deus, pelos irmãos e irmãs, porque são autênticos servos da humanidade, porque são livres comunicadores da fé”. “Muitas vezes, a própria presença de um cristão como uma pessoa honesta, cumpridora da lei e dedicada ao bem comum, incomoda quem busca promover agendas criminosas”, reiterou.
A única celebração ecumênica do Jubileu
E sua memória será recordada na “única celebração ecumênica em Roma durante todo o Ano Jubilar”, que se realizará na festa da Exaltação da Santa Cruz, disse Dom Fabio Fabene, secretário do Dicastério das Causas dos Santos e presidente da Comissão. Vinte e quatro delegados de igrejas cristãs e grandes comunhões estarão presentes na Liturgia da Palavra. “A vitalidade do Batismo nos une a todos”, comentou o prelado. “Nos cristãos que deram suas vidas, o ecumenismo do sangue, como São João Paulo II gostava de defini-lo, se realiza. É justamente no martírio que a Igreja já está unida.” Por sua vez, o Papa Leão “espera que o sangue desses mártires seja semente de paz e reconciliação, fraternidade e amor, como escreveu por ocasião do recente atentado terrorista no Congo”. “O tema central da liturgia é o Evangelho das Bem-Aventuranças, escrito na carne das Igrejas desses filhos que perderam a vida defendendo a esperança em seu amor pelo Evangelho e pelos pobres”, enfatizou Monsenhor Marco Gnavi, secretário da Comissão. A celebração também incluirá leituras do Capítulo 3 do Livro da Sabedoria, o Salmo 120, e uma passagem da Carta de São Paulo Apóstolo a Timóteo. Após a homilia, a liturgia prosseguirá com a memória dos mártires que testemunharam a fé. Após a proclamação de cada Bem-Aventurança, seguirão duas intenções de oração e de algumas palavras que recordam as histórias de algumas testemunhas, como a irmã Leonella Sgorbati, assassinada na Somália em 2006, ou um grupo de cristãos evangélicos mortos por terroristas em Burkina Faso em 2019.
Nas pegadas da Comissão instituída por São João Paulo II
A coletiva de imprensa também enfatizou como o trabalho de estudo e aprofundamento realizado pela Comissão fazem parte do organismo instituído por João Paulo II para o Jubileu do ano 2000, com o objetivo de analisar e coletar relatos de testemunhas da fé do século XX. Esses relatos foram posteriormente expostos no memorial dos Novos Mártires do Século XX, na Igreja de São Bartolomeu, na Ilha Tiberina. O Papa João Paulo II também celebrou uma comemoração ecumênica em memória desses mártires em 7 de maio do ano 2000, no Coliseu.
Um sinal de esperança durante o Ano Santo
Os membros da Comissão também enfatizaram a importância desses testemunhos de vida neste Ano Santo dedicado à esperança. “Esses irmãos e irmãs”, afirmou Dom Fabene, “fixaram a âncora da esperança não na realidade do mundo, mas no coração de Deus. Eles esperaram em Deus, e sua recompensa é plena de imortalidade”. Monsenhor Gnavi acrescentou que “a esperança foi a razão de suas vidas antes da morte”, porque a carregaram “em contextos de conflito étnico, opressão e humilhação dos pobres” e onde “o Mal com M maiúsculo” estava presente. “A esperança cristã não é um estado de espírito ou otimismo”, concluiu Riccardi, “mas a esperança cristã amadurece na memória da fidelidade de Deus e amadurece na memória de mulheres e homens que acreditaram em um Deus que lhes foi fiel mesmo em circunstâncias adversas”.
Fonte: Vatican News