OIT: pandemia deixa saldo de desemprego, inatividade e empregos precários na América Latina e Caribe

Cerca de 30 milhões de pessoas estão desocupadas e 23 milhões terão deixado o mercado de trabalho por falta de oportunidades

Crédito: Agência Brasília

Nos últimos 10 meses, os mercados de trabalho da América Latina e do Caribe retrocederam pelo menos 10 anos e a crise está longe de acabar, disse o diretor regional da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Vinícius Pinheiro, ao apresentar a nova edição do relatório Panorama Laboral, documento que retrata o impacto sem precedentes da crise desencadeada pela  COVID-19.

O relatório Panorama Laboral 2020 registra um forte aumento da taxa de desocupação, que subiu 2,5 pontos percentuais em relação ao ano anterior, passando de 8,1% para 10,6%. Isso significaria que o número de pessoas que procuram emprego e não encontram aumentou em 5,4 milhões e chega a 30,1 milhões.

O documento indica que os países da região enfrentam agora o desafio de “lançar as bases para um novo e melhor normal”, o que implicará na adoção de estratégias para gerar mais e melhores empregos à medida que a produção for reativada e a emergência sanitária diminuir.

“Agora é fundamental alcançar crescimento econômico com emprego. O emprego é crucial para reduzir a pobreza e enfrentar a ampliação das desigualdades que esta pandemia está deixando como consequência ”, acrescentou o diretor da OIT para a região.

De acordo com o relatório, em um cenário de crise tão abrupta, a taxa de desocupação mostra apenas uma parte da história. Este ano houve uma transição inédita para a inatividade de pessoas que desistiram de procurar trabalho por falta de oportunidades. A taxa de participação caiu 5,4 pontos percentuais, para 57,2%, segundo dados disponíveis no final do terceiro trimestre de 2020.

Isso significa que cerca de 23 milhões de pessoas saíram temporariamente da força de trabalho e perderam seus empregos e sua renda. À medida que as economias se recuperarem, seu retorno aos mercados de trabalho criará uma pressão adicional sobre os indicadores de desocupação para o próximo ano.

Em 2021, a taxa de desocupação poderia subir novamente para 11,2%, disse a OIT, considerando a influência de fatores como o crescimento econômico moderado em torno de 3,5%, que é insuficiente para recuperar o terreno perdido na crise, e a incerteza em torno da evolução da pandemia de COVID-19, incluindo temores com relação a surtos e à eficácia dos processos de vacinação.

O relatório acrescenta que, antes da crise da saúde, o que sustentava a participação e a ocupação regional era a incorporação das mulheres ao mercado de trabalho. Devido à pandemia, este processo está claramente enfrentando um retrocesso. A redução da taxa de participação foi proporcionalmente mais acentuada entre as mulheres (-10,4%) do que entre os homens (-7,4%).

No caso da população entre 15 e 24 anos, nos três primeiros trimestres de 2020, as taxas de participação e de ocupação juvenil caíram cerca de 5,5 pontos percentuais, até chegar a 42,7% e 33,0%, respectivamente. A taxa de desocupação juvenil aumentou 2,7 pontos percentuais, chegando a 23,2%, um nível inédito, e que implica que 1 em cada 4 jovens estava desempregado no terceiro trimestre de 2020.

Ao analisar os dados disponíveis sobre as categorias ocupacionais no terceiro trimestre, o relatório da OIT afirma que, em 2020, o emprego assalariado total e o trabalho autônomo caíram -6,8% e -8,9%, respectivamente. Observa-se também o impacto que a crise da saúde teve sobre outras categorias ocupacionais, como os empregadores (-9,8%) e o serviço doméstico (-19,4%).

A contração do emprego foi particularmente significativa em setores de serviços como hotelaria (-17,6%) e comércio (-12%). Por outro lado, observa-se também que a crise da saúde afetou fortemente o emprego na construção (-13,6%) e na indústria (-8,9%). A menor queda na ocupação foi observada na agricultura (-2,7%).

Lições da pandemia

Pinheiro ressaltou que, para o futuro, será importante considerar as lições aprendidas com esta pandemia. Em primeiro lugar, não há dilema entre preservar a saúde e a atividade econômica, porque sem saúde não há produção nem consumo. A segurança e a saúde no trabalho são agora uma questão chave para a retomada.

Em segundo lugar, o diálogo social é mais relevante do que nunca, porque permite reunir estratégias acordadas por governos, empregadores e trabalhadores para enfrentar a crise.

“A região foi duramente atingida por esta crise, ainda mais do que outras no mundo, e isso se deveu em grande parte a problemas estruturais que existiam e eram conhecidos por nós”, disse o dirigente. Como exemplos, ele citou a persistente falta de espaço fiscal, lacunas na cobertura da proteção social, alta desigualdade social e alta informalidade evidenciaram a precariedade de grandes setores de nossas sociedades.

O aumento do trabalho em plataforma, especialmente os serviços de entrega, e o crescimento do teletrabalho, bem como os desafios enfrentados na sua regulamentação, no fechamento das brechas digitais, no treinamento e na sua atuação em condições formais, também são objetos de análise do relatório.

O relatório termina com uma reflexão sobre as políticas que podem contribuir para a recuperação do emprego após a crise, incluindo a necessidade de repensar o modelo de inserção econômica internacional, do desenvolvimento tecnológico com sustentabilidade ambiental, da promoção do empreendedorismo e da formalização, e de contar com políticas de emprego que respondam às novas realidades.

Fonte: ONU Brasil

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários