Oriente Médio: entenda o conflito Israel-palestina e os apelos da Igreja pela paz

Foto de Mohammed Ibrahim na Unsplash

O grupo extremista islâmico Hamas bombardeou Israel no sábado, 7, às 6h (horário local), em um ataque surpresa por terra, ar e mar, que deixou centenas de mortos e feridos e é considerado um dos maiores sofridos pelo país nos últimos anos.

Ao reivindicar a ofensiva, o Hamas afirmou se tratar do início de uma grande operação para a retomada do território israelense, que considera pertencer a um futuro Estado palestino.

Os ataques aconteceram principalmente na parte sul do país. Estima-se que mais de 4 mil foguetes foram lançados e, em comunicado, os militares de Israel afirmaram que “mais de 1,5 mil terroristas se infiltraram no território israelita a partir da Faixa de Gaza”.

Uma das primeiras ações terroristas foi direcionada a jovens que participavam de um festival de música eletrônica ao ar livre em território israelense, próximo à Faixa de Gaza, quando os combatentes islâmicos chegaram e iniciaram o ataque. Foram contabilizadas 260 mortes, incluindo as de dois brasileiros.

Também um kibutz – comunidade agrícola de propriedades coletivas, com meios de produção próprios e prioridade à educação das crianças – foi invadido e 100 pessoas foram mortas pelos terroristas.

Em decorrência do ocorrido, Israel passou a revidar os ataques na Faixa de Gaza, atingindo 5,3 mil prédios e deixando 610 mil palestinos sem água, numa guerra que já contabiliza 1,8 mil mortos e mais de 4 mil feridos (até a terça-feira, 10).

REAÇÃO DA IGREJA

O Papa Francisco pediu no domingo, 8, o fim dos ataques e da violência em Israel e em Gaza, afirmando que o terrorismo e a guerra não resolvem problema algum, mas apenas trazem mais sofrimento e morte para pessoas inocentes.

“Acompanho com apreensão e tristeza o que está acontecendo em Israel”, disse o Papa durante o Angelus na Praça São Pedro. “Expresso minha solidariedade com os parentes das vítimas e rezo por todos aqueles que estão passando por horas de terror e angústia”.

“Que os ataques e as armas cessem, porque é preciso entender que o terrorismo e a guerra não trazem soluções, mas apenas a morte e o sofrimento de muitas vidas inocentes. A guerra é uma derrota, toda guerra é uma derrota. Oremos pela paz em Israel e na Palestina”, disse o Papa.

O Patriarcado Latino de Jerusalém emitiu uma nota em que afirma que a explosão de violência “é muito preocupante por sua extensão e intensidade. […] As demasiadas vítimas e tragédias que as famílias palestinas e israelenses têm de enfrentar criarão ainda mais ódio e divisão e destruirão cada vez mais qualquer perspectiva de estabilidade”.

A nota conclui: “O contínuo derramamento de sangue e as declarações de guerra lembram-nos mais uma vez da necessidade urgente de encontrar uma solução duradoura e abrangente para o conflito palestino-israelense nesta terra, que é chamada a ser uma terra de justiça, paz e reconciliação entre os povos. Pedimos a Deus que inspire os líderes mundiais na sua intervenção para a implementação da paz e da concórdia, para que Jerusalém seja uma casa de oração para todos os povos”.

Regina Lynch, presidente internacional da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), expressou preocupação e tristeza pela escalada de violência e convidou a todos à oração: “Rezemos com fé e confiança para que Deus ouça as nossas orações e nos conceda a sua paz. Rezemos com amor e compaixão para que as nossas orações toquem os corações das pessoas envolvidas no conflito e as inspirem a procurar caminhos pacíficos. Rezemos com esperança e perseverança para que as nossas orações contribuam para a construção de um futuro melhor para a Terra Santa, em que a justiça, a paz e a reconciliação prevalecerão. Como cristãos, acreditamos que a oração é uma arma poderosa contra o mal e uma fonte de esperança e cura. É por isso que convidamos você a se juntar a nós em uma campanha de orações pela paz na Terra Santa”.

PARA ENTENDER O CONFLITO

O conflito entre Israel e Palestina já dura décadas. Em sua forma moderna, remonta a 1947, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs a criação de dois Estados: um judeu e um árabe. Os judeus ficariam com Israel e os palestinos, com Gaza e Cisjordânia, sob mandato britânico. A proposta foi aceita pelos líderes judeus, mas rejeitada pelo lado árabe – que alegou que ficaria com as terras com menos recursos – e nunca foi implementada.

Sem capacidade de resolver a situação, os governantes britânicos partiram e o Estado de Israel foi proclamado pelos líderes judeus no ano seguinte, causando revolta entre os palestinos e resultando na Guerra Árabe-Israelense de 1948.

Em meio a diversos impasses sobre os territórios, em 1967 veio a Guerra dos Seis Dias, que mudou o cenário na região. Vitorioso, Israel tomou à força a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, então sob controle da Jordânia, bem como a Faixa de Gaza, sob administração egípcia. À época, 500 mil palestinos fugiram.

Desde então, em meio a outros conflitos e enfrentamentos, o país anexou Jerusalém Oriental (onde estão localizados santuários venerados por cristãos, judeus e muçulmanos) e continua a ocupar a Cisjordânia, mas se retirou em 2005 da Faixa de Gaza, controlada pelo movimento islâmico extremista Hamas desde 2007.

A Autoridade Nacional Palestina (ANP) perdeu parte de sua legitimidade entre os palestinos ao longo dos anos por diversos motivos, como a paralisação do processo de paz para os territórios reivindicados, e acusações de corrupção, cenário que acabou dando espaço para um fortalecimento do Hamas.

O HAMAS

O Hamas é uma das maiores organizações islâmicas nos territórios palestinos da atualidade e é considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outras potências globais.

O nome em árabe é um acrônimo para Movimento de Resistência Islâmica, que teve origem em 1987 após o início da primeira intifada palestina, ou levante, contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

Com a perda da legitimidade da ANP, o Hamas acabou vencendo as eleições legislativas da Faixa de Gaza em 2006 e expulsou a autoridade palestina do governo local.

O Hamas faz parte de uma aliança regional que inclui o Irã, a Síria e o grupo islâmico xiita Hezbollah no Líbano, que se opõem amplamente à política dos Estados Unidos no Oriente Médio e em Israel.

Fontes: Uol, G1 e Vatican News

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