Papa: ‘A todos peço, com o coração nas mãos: ajudemos o Sudão do Sul’

Disse Francisco em encontro com deslocados internos no país, ocasião em que destacou ser fundamental para um futuro melhor dos sul-sudaneses que ‘a mulher seja protegida, respeitada, valorizada e honrada’

Fotos: Vatican Media

No penúltimo dia de sua 40a viagem apostólica internacional, no sábado, 4, o Papa Francisco encontrou-se, em Juba, com um grupo de deslocados internos do Sudão Sul e reforçou seu pedido especialmente em favor do respeito às mulheres.

O Sudão do Sul é o país onde há a maior crise de refugiados do continente africano, chegando a cerca de 4 milhões de deslocados. A insegurança alimentar e a desnutrição atinge cerca de 2/3 da população do país.

Francisco acompanhou atentamente a indagação de um jovem: “Por que tantas crianças e jovens estão no campo de refugiados, em vez de estar na escola estudando ou em um lugar tranquilo para jogar?”. E o Pontífice lhe disse: “Tu mesmo nos deu a resposta, dizendo que é ‘pelos conflitos que atravessa o país atualmente’. É justamente por causa da violência humana que se produzem inundações, que milhões de irmãos e irmãs nossos, entre os quais muitíssimas mães com seus filhos, tiveram de deixar suas terras, abandonar suas aldeias, suas casas. Infelizmente, neste martirizado país, ser deslocado ou refugiado tornou-se uma experiência habitual e coletiva”.

“Há muito tempo que penso em vós, alimentando no coração o desejo de vos encontrar, fixar-vos nos olhos, cumprimentar-vos e abraçar-vos. Eis-me aqui finalmente, na companhia dos irmãos com quem partilho esta peregrinação de paz, para vos testemunhar a minha proximidade, o meu amor. Estou convosco, sofro por vós e convosco”, disse o Papa.

APELO PELO PAZ

Francisco renovou seu apelo para que, com todas as forças, cessem os conflitos no Sudão do Sul e se retome seriamente o processo de paz, para que acabem as violências e o povo possa voltar a viver dignamente.

“Não se pode esperar mais: um número enorme de crianças nascidas nos últimos anos só conheceu a realidade dos campos de deslocados, esquecendo-se do ambiente de casa, perdendo a ligação com a própria terra de origem, com as raízes, com as tradições.”

Segundo o Papa, “o futuro não pode ser nos campos de deslocados. Há necessidade de crescer como sociedade aberta, misturando-se, formando um único povo por meio dos desafios da integração, inclusivamente aprendendo as línguas faladas em todo o país e não apenas na própria etnia. É preciso assumir o risco estupendo de conhecer e acolher quem é diferente, para encontrar a beleza de uma fraternidade reconciliada e experimentar a aventura inestimável de construir livremente o próprio futuro juntamente com o da comunidade inteira. E é absolutamente necessário evitar a marginalização de grupos e o levantamento de guetos dos seres humanos. Mas, para todas estas carências, há necessidade de paz e da ajuda de muitos, de todos”.

O PAPEL CENTRAL DA MULHER

Ao recordar a grande crise humanitária no país, com 4 milhões de deslocados, e muitas pessoas vivendo em condições subumanas, o Papa agradeceu todos que têm se empenhado para mudar a realidade local.

“As mulheres são a chave para transformar o país. Se lhes forem concedidas as justas oportunidades, elas, com a sua laboriosidade e destreza para guardar a vida, terão a capacidade de mudar a fisionomia do Sudão do Sul, de lhe dar um desenvolvimento sereno e coeso. Mas peço, por favor, a todos os habitantes destas terras: que a mulher seja protegida, respeitada, valorizada e honrada. Por favor, protegei, respeitai, valorizai e honrai toda a mulher, menina, adolescente, jovem, adulta, mãe, avó. Sem isso, não haverá futuro”, sublinhou.

SEMENTES PARA UM NOVO SUDÃO DO SUL

“Encontrando-vos hoje, queremos dar asas à vossa esperança. Temos fé, acreditamos que agora mesmo nos campos de deslocados, onde a situação do país infelizmente vos obriga a permanecer, pode nascer, como da terra nua, uma semente nova que dará fruto”, afirmou o Papa.

“Quero dizer-vos: sois vós a semente de um novo Sudão do Sul, a semente para o crescimento fértil e exuberante do país. Sois vós, de todas as etnias, vós que sofrestes e continuais a sofrer, mas não quereis responder ao mal com o mal”, prosseguiu.

“Vós, que desde agora escolhestes a fraternidade e o perdão, estais a cultivar um amanhã melhor. Um amanhã que nasce hoje, no lugar onde estais, da capacidade de colaborar, de tecer teias de comunhão e percursos de reconciliação com quem, diferente de vós por etnia e proveniência, vive ao vosso lado”.

Francisco disse, ainda, que as pessoas hoje deslocadas são as “árvores que absorverão a poluição de anos de violência e restituirão o oxigênio da fraternidade. É verdade que agora estais ‘plantados’ onde não quereis, mas precisamente nesta situação de desconforto e precariedade podeis estender a mão a quem está junto de vós e experimentar que estais radicados na mesma humanidade: daqui é preciso voltar a partir para se descobrir como irmãos e irmãs, filhos na terra do Deus do céu, Pai de todos”, frisou.

A ESPERANÇA COM OS JOVENS

O Papa exortou que os mais jovens aprendam com a experiência dos idosos e transformem a atual narrativa de violência em uma nova narrativa de encontro, pautada pela fraternidade: “Uma narrativa que, no centro, coloque não só a dimensão trágica que vemos nos noticiários, mas também o desejo ardente da paz. Sede vós, jovens de diferentes etnias, as primeiras páginas desta narrativa! Se os conflitos, as violências e os ódios arrancaram das primeiras páginas de vida desta República as memórias boas, sede vós a escrever de novo a sua história de paz!”.

APELO À COMUNIDADE INTERNACIONAL

O Papa agradeceu “às comunidades eclesiais pelas suas obras, que merecem ser apoiadas, aos missionários, às organizações humanitárias e internacionais, em particular às Nações Unidas pelo grande trabalho que realizam”.

“Claro que um país não pode viver longamente de apoios externos, sobretudo tendo um território tão rico de recursos! Mas agora aqueles são extremamente necessários. Quero também prestar homenagem aos numerosos agentes humanitários que perderam a vida, e exortar ao respeito por quem ajuda e pelas estruturas de apoio à população, que não podem ser alvo de assaltos e vandalismo”.

Francisco disse ser fundamental que haja acompanhamento da população para o desenvolvimento do país, a fim de que receba auxílios para o uso de técnicas atualizadas de agricultura e pecuária. “A todos peço, com o coração nas mãos: ajudemos o Sudão do Sul, não deixemos sozinha a sua população, que tanto sofreu e continua a sofrer”, sublinhou.

Francisco também recordou-se dos muitos refugiados sul-sudaneses que se encontram fora do país e a quantos não conseguem voltar porque o seu território foi ocupado: “Estou solidário com eles e espero que possam voltar a ser protagonistas do futuro da sua terra, contribuindo para o seu desenvolvimento de modo construtivo e pacífico”.

Por fim, o Papa concedeu uma bênção especial a todas as crianças do Sudão do Sul, para que possam crescer juntas na paz.

Fonte: Vatican News

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