Papa: ‘Gastar a vida pelo Evangelho é a vocação missionária do cristão’

Francisco teve encontro com ministros ordenados, religiosos consagrados e leigos católicos na Catedral dos Santos Pedro e Paulo, em Ulan Bator, e exortou-lhe a seguir o exemplo de Maria, ‘que, na sua pequenez, é maior que o céu’

Fotos: Vatican Media

No fim da tarde do sábado, 2 (no horário local – começo da manhã no horário de Brasília), o Papa Francisco deu continuidade à 43a viagem apostólica de seu pontificado. Na Catedral dos Santos Pedro e Paulo, em Ulan Bator, capital da Mongólia, ele falou aos bispos, sacerdotes, missionários, religiosos consagrados e agentes de pastoral.

Foi o primeiro encontro do Pontífice com o “pequeno rebanho” de católicos na Mongólia, onde há apenas 1,5 mil batizados e a prática do catolicismo foi retomada há cerca de 30 anos, com a instauração do regime democrático no país. Por sete décadas, a Mongólia – vizinha da Rússia e da China –  viveu alinhada ao regime soviético e a prática do Cristianismo foi cerceada.

Após ouvir a saudação do presidente da Conferência Episcopal da Mongólia, os testemunhos de um sacerdote, de uma religiosa e de um agente de pastoral, o Papa a todos saudou e ressaltou que “gastar a vida pelo Evangelho é uma bela definição da vocação missionária do cristão, e em particular dos cristãos que vivem essa vocação aqui”, ressaltou.

O Papa inspirou sua reflexão na oração de louvor do Salmo 34: “Saboreai e vede como o Senhor é bom” (34,9). “Saborear e ver, porque a alegria e a bondade do Senhor não são algo de passageiro, mas permanecem dentro: dão sabor à vida e fazem ver as coisas de maneira nova”, disse o Papa, recordando os primórdios do Catolicismo na Mongólia, ainda no primeiro milênio.

AGIR COM FÉ E SEM PERDER A RAIZ EM CRISTO

Francisco pediu aos presentes que com ele refletissem sobre o porquê gastar a vida pelo Evangelho. A razão: precisamente – como lembra o Salmo 34 – porque se saboreou, se experimentou na própria vida a ternura do amor de Deus, daquele Deus que Se tornou visível, palpável, podendo-Se encontrar em Jesus.

“Sim, é Ele a boa notícia destinada a todos os povos, o anúncio que a Igreja não pode cessar de levar, encarnando-o na vida e ‘sussurrando-o’ ao coração dos indivíduos e das culturas. A linguagem de Deus muitas vezes é sussurro lento, que toma o seu tempo; mas fala assim.”

O Papa exortou os ministros ordenados, consagrados e leigos a prosseguir com as obras sócio-caritativas que realizam na Mongólia, mas advertiu que o empenho pastoral pode se tornar uma estéril prestação de serviços, se for esquecida a vida de adoração ao Senhor: “O cristão é aquele que é capaz de adorar, adorar em silêncio”, enfatizou.

“É preciso regressar à fonte, ao rosto de Jesus, à sua presença que se há de saborear: é Ele o nosso tesouro, a pérola preciosa pela qual vale a pena gastar tudo. Os irmãos e irmãs da Mongólia, que possuem um forte sentido do sagrado e – como é típico no continente asiático – uma vasta e articulada história religiosa, esperam de vós este testemunho e sabem reconhecer a sua genuinidade”, comentou, enfatizando que o Evangelho não cresce com o proselitismo, mas com o testemunho.

A IGREJA NÃO BUSCA O PODER

Francisco ressaltou que quando Jesus enviou seus discípulos em missão, não lhes pediu para difundirem um pensamento político, mas para testemunhar com a vida a novidade da relação com o Pai.  Enfatizou, assim, que em sua origem a Igreja nasce pobre, se apoia apenas numa fé genuína, na força desarmada e desarmante do Ressuscitado, capaz de aliviar os sofrimentos da humanidade ferida.

“É por isso que os governos e as instituições seculares nada têm a temer da ação evangelizadora da Igreja, porque esta não tem uma agenda política a concretizar, mas conhece só a força humilde da graça de Deus e de uma Palavra de misericórdia e verdade, capaz de promover o bem de todos”, comentou.

Ressaltou, ainda, que o bispo não é um empresário, mas a imagem viva de Cristo Bom Pastor que reúne e guia o seu povo, e enfatizou que o fato de o bispo da Mongólia ser um cardeal, Dom Giorgio Marengo, é mais uma expressão de proximidade da Igreja com os católicos do país: “Todos vocês, distantes apenas fisicamente, estão muito próximo do coração de Pedro; e a Igreja inteira está próxima de vocês”.

O TESTEMUNHO DOS CRISTÃOS

O Papa ressaltou que os cristão devem se distinguir por uma vida simples, sóbria, à imitação do Senhor: “Permaneçam sempre próximo das pessoas, cuidando delas pessoalmente, aprendendo a sua língua, respeitando e amando a sua cultura, não deixando-se tentar por seguranças mundanas, mas permanecendo firmes no Evangelho por meio de uma exemplar retidão de vida espiritual e moral”.

Lembrou, ainda, que os desequilíbrios e as contradições da vida abatem-se também sobre os fiéis, e os evangelizadores não estão isentos da carga de inquietações que pertence à condição humana. Mesmo assim, a Igreja apresenta-se ao mundo como voz solidária com todos os pobres e necessitados, não se cala perante as injustiças e, com mansidão, empenha-se a promover a dignidade de todo o ser humano.

A EXEMPLO DE MARIA, COM SUA PEQUENEZ

Por fim, o Papa recordou que para o cristão Maria é um “apoio seguro”, fazendo alusão a uma imagem de Nossa Senhora que foi encontrada em uma lixeira na Mongólia.  “Naquele lugar dos detritos, apareceu esta bela estátua da Imaculada: Ela, sem mácula, imune do pecado, quis chegar tão perto a ponto de ser confundida com os desperdícios da sociedade, para que, da imundície do lixo, emergisse a pureza da Santa Mãe de Deus.”

Assim, erguendo o olhar para Maria, sintam-se revigorados, exortou o Pontífice, “ao ver que a pequenez não é um problema, mas um recurso”.

“Sim, Deus ama a pequenez e gosta de realizar grandes coisas mediante a pequenez, como testemunha Maria. Irmãos, irmãs, não tenham medo dos números exíguos, dos sucessos que tardam, da relevância que não se avista. Não é este o caminho de Deus. Olhemos para Maria, que, na sua pequenez, é maior que o céu, pois hospedou em Si Aquele que nem os céus nem os céus dos céus podem conter.”

Ao concluir seu discurso, exortou-lhes: “Avante! Deus os ama: Ele os escolheu e crê em vocês. Eu estou com vocês e, de todo o coração”, e agradeceu-lhes: “Obrigado! Obrigado pelo testemunho, obrigado pelas vidas gastas pelo Evangelho! Continuem assim, constantes na oração e criativos na caridade, firmes na comunhão, alegres e mansos em tudo e com todos”.

O PERFIL ATUAL DA IGREJA NA MONGÓLIA

Atualmente, há cerca de 1,5 mil batizados na Igreja Católica, distribuídos por oito paróquias e uma capela, num total de mais de 60 mil cristãos de várias denominações. Eles são assistidos por um bispo, 25 sacerdotes, incluindo dois mongóis, seis seminaristas, mais de 30 religiosas, cinco religiosos não sacerdotes e 35 catequistas. Os agentes pastorais são de cerca 30 nacionalidades.

A atividade predominante na obra missionária continua a ser o empenho nos campos social, educacional e de saúde. Em 2020 existia um instituto técnico, duas escolas primárias e duas creches, uma clínica médica que oferece tratamento e medicamentos aos mais carentes, um centro para pessoas com deficiência e dois institutos para acolher idosos abandonados e pobres. Cada paróquia também iniciou projetos de caridade que se somam aos da Caritas Mongolia, abrindo refeitório e chuveiros públicos, serviços de reforço escolar, cursos destinados à população feminina.

OS PRÓXIMOS COMPROMISSOS DO PAPA NO PAÍS
*Conforme o horário de Brasília
 
Sábado, 2
23h – Encontro Ecumênico e Inter-religioso no ‘Hun Theatre”
 
Domingo, 3
5h – Missa na Steppe Arena
22h30  – Encontro com os agentes da Caridade e Inauguração da Casa de Misericórdia
 
Segunda-feira, 4
0h30 – Cerimônia de despedida no Aeroporto Chinggis Khaan
1h – Partida do Aeroporto
12h30  – Chegada a Roma

(Com informações do Vatican News)

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